quarta-feira, 17 de abril de 2013

Carta ao meu primo Luis Bernardo - ideias primaveris - o casamento



Meu Caro Luís Bernardo,

Hoje está um dia lindo e apesar dos problemas que nos afligem e de que não sabemos como nos iremos safar, apeteceu-me falar-te do tema do casamento.

Quando nos preparamos para a ideia de casar, para além de um vínculo jurídico seja ele canónico ou civil que se venha a contrair e mais recentemente com as uniões de facto que são as antigas palavras de futuro trocadas no auge de um arrebatamento, traduzido depois numa convivência continuada sem algum “papel”, há uma “affectio” (afeição) inicial que justifica a selecção do parceiro ou parceira.

Trata-se das primícias das mais puras emoções , daquelas que inspiraram poetas, escritores, pintores, escultores, trata-se de algo muito etéreo, sonhador, leve e ao mesmo tempo intenso, porque é a antecâmara da paixão, que por definição é febril, violenta, desregulada, cega e consoladora.

E quando ao pensar no ser amado/a o coração é invadido por uma doce sensação de bem-estar, de melancolia, de sonho de uma vida a dois em que tudo parece sorrir, fundam-se consistentes esperanças de se ser eternamente feliz. 

Estas são considerações românticas, mas no fundo de cada um de nós nesses momentos estes são ou foram os pensamentos que ocorreram, consoante a sensibilidade e poder descritivo de cada um. 

Ninguém pensa que bom que vai ser repartir boas sessões de iPad com a Sandrinha, ou ver “Kung-fus” com o Hélder, enterrados num sofá em casa durante horas….ou antecipar grandes “empazinadelas” na tasca da esquina com “jolas”….isto tudo vem depois, quando, parece-me, se instala a rotina, o perder da novidade, um futuro que de alguma etérea ilusão, faz cair os casais, na realidade pura e dura da vida difícil para o amor no dia-a-dia.

Na constância do matrimónio (como se diz em direito canónico  - fui Juiz do tribunal da Rota de Lisboa durante alguns anos – anulações de casamentos católicos), importa mais vigiar em como se protege o amor.

Muitas vezes deixamo-nos invadir pelo egoísmo, pela embirração e pouca paciência para os defeitos do outro, e tantas outras coisas que sabemos destroem a relação, moem por dentro, fazem ranger os dentes, entrombam de modo a que cada um se vire na cama para o outro lado e adormeça em silêncio sem dar as boas-noites – e talvez, se de tempos a tempos, viessem à memória, estimulada por pequenos truques, os sentimentos e emoções de bem-estar e de esperança que presidiram à decisão de “juntar os trapinhos” seja ou fosse até de que maneira o tenha sido, como tudo poderia, quiçá, ser melhor! 

Inspirei-me hoje, na candura desta tela que reproduzo acima, quase que adivinhando que na tranquilidade e gesto da noiva ao pegar na pena leve para assinar o seu compromisso, estaria igualmente dentro de si um desejo de “assegurar” num contrato, uns anos de felicidade.

Fantasias de uma tarde gloriosa de sol e de luz!

Um abraço amigo do teu primo muito afeiçoado

Manuel

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