domingo, 9 de outubro de 2011

A invenção do purgatório




Na Idade Média o desenvolvimento de uma série de factos e experiências históricas fizeram da Igreja uma das mais poderosas instituições da época. A difusão dos preceitos cristãos pela Europa e em outras partes do mundo fez com que os seus dirigentes interferissem profundamente nos hábitos, concepções e modos de agir de um grande número de pessoas.

Não podemos, porém, tirar a simplista conclusão de que os clérigos conseguiam que as pessoas fizessem aquilo que eles bem entendiam. A Igreja influiu na sociedade dessa época, mas houve situações em que a religião católica teve também que dialogar com os impasses gerados pelos seus próprios seguidores. Para melhor compreendermos tal aspecto, relevemos, como um interessante exemplo, a questão da vida depois da morte.

Até ao século XII, o cristão estava destinado às glórias e conforto dos céus ou ao tormento eterno das profundezas do inferno. A existência de destinos tão diferentes, fez com que vários fiéis levassem uma vida predominantemente voltada para a garantia da salvação. Mas nessa altura, muitos cristãos cometiam muitos pecados e, por isso, pairava uma enorme dúvida sobre qual seria o destino de alguém que não tivesse sido nem completamente bom nem mau.

Nesse período medieval, a organização social dos povos, legitimada pela Igreja, começou a escapar ao seu controle e estando dantes dividido entre o clero, a nobreza e o povo passou a contar com a acessão de pessoas que não se ajustavam completamente a esse modelo harmonioso preferido pelos clérigos medievais.

Passando a viver no efervescente ambiente urbano, muitos fiéis e clérigos deixaram de ter meios seguros para comprovar se alguém levara ou não uma vida louvável aos olhos de Deus.

De facto este tema era bastante antigo e já tinha sido tratado nos escritos de Santo Agostinho, no século IV. Segundo esse teólogo medieval, o indivíduo que tivesse tido uma vida mais inclinada para o pecado seria destinado ao Inferno, mas poderia sair dessa condição através das orações feitas pelos vivos em sua memória.

Já aqueles que não tivessem sido integralmente bons passariam por uma fase de purificação que poderia levá-los aos céus.

Até então, o purgatório era compreendido como um processo de salvação espiritual que se afastava do que era tradicionalmente convencionado pela Igreja.

Segundo alguns historiadores, a ideia de que o purgatório fosse um “lugar à parte” só tomou consistência entre os séculos XII e XIII. Contudo, engana-se quem acredita que esse terceiro destino no “post mortem” seja uma proposta originalmente concebida pela cristandade ocidental.

Os próprios judeus acreditavam que aqueles que não eram nem bons nem maus seriam conduzidos a um lugar aonde a pessoa humana sofreria castigos temporários até que estivesse apta para subir ao céu.

Entre os indianos, os “intermediários” poderiam viver uma série de reencarnações que os levariam até aos céus ou ao inferno.
Nos tempos que correm, eu diria que com o inferno que já temos na terra, qualquer coisa que seja o purgatório ou o céu é melhor com certeza!

Resta saber se lá encontraremos os políticos portugueses! Seria uma grande injustiça!

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