segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Drummond eternizado em Copacabana


E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
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Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome e lhe comuniquem o sentimento do efémero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fracção de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
força o resgata

é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
passageiras as obras.

Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
mar profundo.

Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
afundamos.

É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.

O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
essência ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.

Carlos Drummond de Andrade

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