quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A dor do desemprego


Emprego e desemprego não são só estados sociais.

É verdade que o emprego (em especial alguns empregos) dá estatuto social, mas também permite o desenvolvimento pessoal e a realização profissional.

O indivíduo sente-se integrado num processo de desenvolvimento social para o qual contribui com o seu trabalho.

O trabalho é remunerado e, por conseguinte, ter emprego é ter a possibilidade de adquirir meios para a sobrevivência, diversão, cultura e outras manifestações tão importantes ao equilíbrio do ser humano.

Se o emprego proporciona tudo isto, o desemprego rouba-o, muitas vezes de forma cruel.

Na hora de reduzir aos “custos com o pessoal”, a notícia: “- Lamentamos, gostamos muito de si, foi sempre um funcionário exemplar, mas a empresa necessita de reduzir custos...”, dói, dilacera.

O ter sido dispensado de uma actividade, não contarem com os seus préstimos, provoca em cada indivíduo uma sensação dolorosa e a maior parte das vezes associada a um sentimento de injustiça.

Para quê tanto esforço?! Horas extraordinárias sem remuneração?! Apenas e só o sentido do dever a ditar horas de permanência para além do horário!

A família que, a bem do trabalho, conformada com a ausência, aceitando que as férias sejam reduzidas a duas semanas, poderá não compreender o despedimento!

Angústias sentidas que, a certeza de tudo ter feito para ser um empregado exemplar não acalmam, pelo contrário, são dores difíceis de conter. Não dói a consciência mas dói a alma.

E aos poucos, a dor cede o lugar ao desalento. Instala-se a dúvida e põem-se em causa capacidades.

Triste com o presente e assustado com o futuro, o indivíduo inicia processos de autodestruição podendo acabar, em alguns casos, no suicídio.

1 comentário:

  1. É verdade, Vicente... em muitos casos. Noutros, pensa-se em "desempregar-me para alcançar outros intentos!?!..."
    ...e, dada a situação, falta a coragem por ver e sentir a dor destes exemplos.
    Abraço
    Isabel

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