domingo, 8 de setembro de 2013

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

António Gedeão

2 comentários:

  1. Um sábio, o António Gedeão. Os budistas dizem que não existe o eu... Querem que nós compreendamos que o eu é fonte de problemas, apenas isso. Por tal, para vivermos felizes, temos que esquecer o eu... como se não existisse. Como se ele não fosse o UNIVERSO que afinal é.

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  2. Muito Bonito o poema!
    Aqui se demonstra como os estados de dúvida e incerteza são belos e elevados.
    Só a dúvida nos faz procurar e só a insatisfação nos leva a encontrar.
    Adoro a vida, esse poderoso e infinito mistério
    onde vogamos todos, individuais consciencias da Existencia
    Abraço
    gonçalo t m

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