terça-feira, 29 de novembro de 2011

terrível profecia


Como as velhas famílias falidas que ostentam o brasão e comem a crédito nos restaurantes da moda, a Europa tenta salvar o pouco que ainda resta do seu modelo social criado noutros tempos e por outra gente.

A II Guerra acabou só há 65 anos. Devastada e faminta, a Europa de então ergueu-se ensaiando uma unidade feita de valores comuns, assente na alternância e cimentada no diálogo entre movimentos sociais fortes e articulados.

Lideranças e governos provinham da excelência da política, da cultura, da sociedade e das academias. Depois a Europa aburguesou-se. E alargou-se contagiando vícios e perdendo virtudes.

O Estado do Bem-Estar pareceu coisa eterna e indestrutível. Tornou-se egoísta e narcisista, esquecendo os escombros onde se reinventou. Assemelhou-se à imagem do capitalista gordo e de charuto difundida pelos marxistas nos tempos da guerra fria.

Leu as cartilhas epicuristas e consumiu o presente com a avidez de um cigarro que se desfaz em cinza e nada. Enjeitou os seus valores fundacionais e prosseguiu políticas de controlo da natalidade como se não houvesse futuro.

Abriu as portas a movimentos populacionais que quis aculturar sem êxito e depois controlar sem piedade. É essa Europa perdulária e esbanjadora, servida por lideranças medíocres, formada por povos descrentes sem mais dinheiro para alimentar a sua preguiça, que corre o risco de implodir.

Não é fácil impor sacrifícios a quem da vida sempre teve a noção do desfrute. Por isso, esta Europa da crise está à mercê do primeiro populista que apareça para lá dos Pirenéus e reclame a sua desagregação. E não serão as pusilânimes lideranças europeias do momento (porventura à excepção de Merkel e de poucos mais) que terão o engenho, a coragem moral e a confiança pública para os enfrentar. Este é o drama. Pior. A terrível profecia.

José Luís Seixas

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