domingo, 22 de agosto de 2010

O tempo e o modo



Aprendi a arranjar coisas.

Quase todas as minhas tentativas de fazer pequenas reparações, montagens de móveis com instruções, aparelhos de electrónica, televisões e hi-fi, terminavam em confusão, insucesso e frustração.

Havia sempre alguém ou de casa ou de fora que vinha "compor o ramalhete", e fazer funcionar.

Sempre estive convencido que por maldição da Natureza, me faltava a qualidade responsável pela aptidão pela mecânica!

Um dia destes, ao subir as escadas do meu escritório deparo com um vizinho novo que ainda não conhecia e que estava de portas abertas atarefado a montar a casa, com criancinhas pequenas aos pulos, mas com uma calma olímpica progredia nas diversas tarefas que normalmente são feitas em outsourcing. Comentei-lhe: " Sabe, tenho grande admiração por si. Nunca consegui arranjar esse tipo de coisas nem fazer nada do género"!

O meu vizinho, sem nenhuma hesitação, respondeu-me: " Isso é porque não lhe dedica tempo".

Na verdade, é sabido que nem tenho conhecimentos – nem sequer tempo para os adquirir – que me permitam resolver a maior parte das avarias "mecânicas" ou instruções a seguir para a montagem de aparelhos, dado que escolhi concentrar o meu tempo na minha vida profissional em assuntos não mecânicos. Portanto, continuo a ir a correr à oficina mais próxima ou recrutar especialistas.

Mas agora sei que é uma escolha feita por mim, que não fui "amaldiçoado", nem sou de outra forma incapaz ou impotente. E sei que eu ou qualquer outra pessoa, que não seja deficiente mental, podemos resolver qualquer problema se nos dispusermos a dedicar-lhe tempo.

A questão é importante, principalmente porque às vezes não nos dispomos simplesmente a gastar o tempo necessário para resolver muitos dos problemas intelectuais, sociais ou espirituais da nossa vida, tal como eu não o gastava até há bem pouco tempo em resolver problemas "mecânicos"!

Antes das minhas "iluminações" recentes em uma série de montagens e instalações, deitaria as mãos à cabeça e diria:

" Não sou capaz".

E eu acho que esta é a forma como muitos de nós abordamos outros dilemas da vida do nosso dia-a-dia.

A questão é muitas vezes de tempo.

Assim que nos apercebemos de um problema, sentimo-nos perturbados e exigimos uma solução imediata e não estamos dispostos a tolerar, o desconforto sentido, o tempo suficiente para analisarmos o problema.

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