sexta-feira, 25 de junho de 2010

Carta de um Amigo notável sobre o que se vai passando


Meu velho amigo e bom Manuel,

Talvez te surpreenda o conceito trivial, a imagem cada vez mais banal, inútil e limitada que tenho da minha passagem pela Pátria-acordeão do tempo imaginado, que nos restará.

O Sancho Pança que me habita registou, mediu e pesou todos os micro-mini-moinhos assaltados pelo engenhoso Alonzo Quijana que se esconde por debaixo das minhas, cada vez menos frequentes, indignações.

De verdadeiramente raro só terei talvez essa coisa verdadeiramente incomum que é o ser quase feliz a maior parte do meu tempo.

E a clarividência de me sentir superficial, efémero e pequenino. Teria para dar o quê?

Não tenho o talento necessário para distribuir a serenidade e o amor como gostaria. Na minha escala limitada são coisas intimas que se experimentam e vivem, mas tão difíceis de passar de mão em mão.

Ah, já me esquecia, os próximos, os que me conhecem, os que me frequentam, têm regressado sempre. E fazem estremecer estas paredes que a paisagem aceitou como se há muito aqui estivesse, com grandes gargalhadas.

Desejar ser consensual, e equitativamente respeitado por Rubens, Márcias e Tias, escutado e acatado pelos melhores do que eu… seria voltar-me do avesso, ser outro. E ter uma vontade de protagonismo e uma ilusão de ser capaz de tecer pequenas diferenças que fui deixando silenciosamente pelo caminho.

Sou como o meu país, tenho uma enorme , uma insustentável dívida publica. Recebi muitíssimo mais do que aquilo que fui capaz de dar.

Essa consciência faz de mim um homem mais atento, mas não necessariamente um homem melhor, ou sequer à altura daquilo que deveria ser capaz de redistribuir quem recebeu tanto e que não deseja quase nada.

Um abraço

1 comentário:

  1. Isabel Maia Jácomesexta-feira, junho 25, 2010

    :)Delicioso!!!!!!!!! Simplesmente, delicioso!
    Isabel Maia Jácome

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