domingo, 18 de novembro de 2012

Carta ao meu primo Luis Bernardo - elogios na missa do meu 7º dia da morte


Meu Querido Luís Bernardo,

Tenho ido ultimamente a vários enterros de familiares de amigos, uns mais novos e outros já mais velhos.

Recebem do púlpito dos padres e até de filhos ou netos, enormes elogios e palavras lindas sobre o que fizeram na vida, directamente para o caixão e perante muita gente.

Eu também quero, quando morrer!  -  diz-me o que é preciso fazer para isso.

Houve alguns que foram umas pestes, outros chatos e pesados, outros bêbados, e mais outros maus maridos e ou mulheres, péssimos filhos, irmãos, primos, patrões e até leitores pois nunca abriram uma página de um livro e no fim, tau!, toda a gente a dizer bem.

Puxa, eu sei que não sou perfeito, mas sou educadinho, tenho um bonito sorriso, franco e aberto, já li muitos livros e até te escrevo, não copiei muito na escola, não roubei dinheiro da carteira da minha Mãe, será que tenho alguma chance?

Vou-te dizer desde já o que queria que dissessem quando eu morrer: que amei muito a vida, a verdade, a inteligência, a ousadia e a coragem em ser-se como se é e sobretudo pensei muito mais vezes nos outros do que em mim, mesmo que não soubessem ou tivessem, sequer, reparado. No final, o maior elogio seria o de que fui um pouco atrevido no amor e talvez na forma diferente de amar, mas o meu braço esteve sempre lá. 

Se houver alguma daquelas velhotas beatas da paróquia que queiram pôr uma vela em forma de parte do corpo, a escolha será a do coração.

Ouve lá, Luís Bernardo, tu não me falhes nos conselhos para ser bem sucedido, que eu sou vaidoso e invejoso. Tanto fdp a ter discursos bonitos e inflamados e eu, um bom menino, sem vir a ter nada!  

Teu muito dedicado primo e esperançado na tua consultoria, aí usa-se a expressão?

Manuel



1 comentário:

  1. Não precisamos todos, afinal re um reforço positivo relativamente ao que vamos fazendo?
    quanto ao que fizemos, depois de mortos, importa relmente o julgamento público, se afinal nem sempre é justo, adequado, verdadeiro e quase sempre revestido de interesses para os próprios que tecem os elogios?
    A vida é complicada, "Vicente"... mas continuo a achar interessante estas "suas cartas" ao seu primo e as respostas que ele dá.
    Abraço,
    Sempre,
    Isabel

    PS - ah!... e quem sabe, nas entrelinhas consegue descobrir um pouco, a resposta ao que me perguntou? Postei... catapultada por um texto que li e partilhei, mas a que não resisti, de rompão, a dizer o que provavelmente nem sempre deveria dizer. Onde começa e deve acabar o íntimo?... mas depois apetece-me tantas vezes romper com os condicionalismos de que me revisto...
    existe também, mesmo a propósito o post da Zilda... foi tão bom lê-la e responder!!! Veio mesmo a propósito... dê lá um salto, sff.
    Obrigada "Manuel". É, e será um dos meus impulsionadores... dos que me levam a romper medos e a soltar-me dentro deste meio, para o bem e para o mal... o melhor e o pior... :)...e sei que dará sempre uma opinião cincera e amiga.
    Outro abraço...
    Isabel

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