A Adèlinha confiou ao
Rubém que se queria casar nas noivas de Santo António, pois havia uma bonita
festa, davam o vestido de noiva branco, um almoço e muitos presentes úteis para
a casa.
- Ó filha de branco? Isso
até parece mal, mas se queres muito, seja – disse o Rubém meio indignado.
- O D.Plínio disse que
tratava de tudo, pois como é da embaixada mete lá uma cunha na Câmbara. Em troca
pediu-me que eu não o largasse e eu disse-lhe que vinha perguntar-te.
- Ó filha dá sempre jeito
mais dinheiro para a casa, o que eu acho é que lhe devias pedir um aumento por
causa do IVA, está tudo tão caro…minha malandra, tu gostas de brincar – disse o
Rúbem já a pensar na Cátinha Alexandra. Assim ficava tudo na mesma e ainda se
ganhava com o quiosque!
Acontece que a Adèlinha
precisou que o Rubém assinasse um papel para o sr. Prior por causa das Noivas
de Santo António e lembrou-se de apanhar o autocarro e ir ter com ele à
oficina.
Nesse dia a Cátia
Alexandra escolhera uma roupa janota. Tinha levado para a pastelaria um saco de
plástico do Lidel com o traje que poria para ir ter com o Rúbem.
Ele contara-lhe das
Noivas de Santo António, sossegara-a quanto a manter-se tudo na mesma e até lhe
prometera nas férias uma ida ao Senhor Roubado, pois tinha aberto recentemente
um grande armazém chinês cheio de coisas baratas mas muito jeitosas e ela
ficara toda excitada.
Tinha comprado na
capelista da esquina que vendia de tudo, um verniz côr-de-laranja que estava na
moda das madamas da alta, e na loja do sr. Li de nome “Pérola do Oriente” uns
brincos a imitar as arrecadas do Minho mas só que em vez de douradas eram com
luzes fluorescentes, brilhavam muito, muito, o Rúbem havia de gostar! Ia
estrear uma blusa de fios brilhantes entre o verde e o amarelo canário e uns
shorts que quase deixavam ver as partes da vergonha quando se dobrava!
Uns
sapatos destes com uns saltos muita altos, que ela via no cabeleireiro nas
revistas do coração e um perfume muito leve de uma marca que comprara na farmácia,
chamado “Bien-être” que até tinha sido barato. Perguntara se era dos melhores
e ela que sim, a framacêutica sabe destas coisas!
Sem soutien, de peitaça a
transbordar da blusa de malha como ele gostava…e sem calcinhas pois já era tudo
tão apertado que já nem dava espaço…
A única coisa que lhe
começava a chatear era ela ir assim de arrasar e toda lavadinha e ele estar
sempre suado, cheio de óleo e com as unhas e mãos sujas. Fazia-lhe nojo quando
ele a agarrava e tocava mas ele era tão quente…havia de lhe dizer que alugassem
um quarto ali ao pé, com duche e tudo.
A Adèlinha estava
encantada com o casamento e toda a cerimónia. O D. Plínio tinha sido muito
amigo e ela sentia-se assim como uma dona, menos puta, sim porque estas coisas
da igreja sempre davam respeitabilidade e ela havia de ser muito feliz com o
seu Rubém.
Viu a porta da oficina
entreaberta e disse para si mesma: horas extraordinárias! Coitado, trabalha sempre até
tão tarde que só pode estar comigo nos fins-de-semana.
Entrou e pensou; vou
devagarzinho para lhe fazer uma surpresa e até já vou começando a me
desapertar. Hoje apetecia-lhe festa e havia de compensá-lo de tantos dias sem ela.
Luz meia mortiça no interior
da oficina, um barulho como se fossem gritos que ora eram altos ora baixinhos,
uns gemidos e uma chusma de palavrões “ meu cabrão, anda leão, mete-me essa
mudança, puseste-lhe freios novos, arranca-lhe as pastilhas”!
- Mas querem ver co meu
Rúbem está com uma gaja?
- Ah desavergonhada, ah
desgraça da minha vida, hás-me de mas pagar. Ah que me lixas as minhas ricas
Noivas de Santo António!
O Rúbem desprevenido
fugiu para o canto e a Adélinha de sacola em riste vá de bater sem descanso na
Cátia Alexandra.
Desfez-se o casório, a
Adèlinha ficou com o D. Plínio e quiçá até bem melhor, e o Rubém acabou por enjoar o “Bien-être”
e mudou de oficina.
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