Fui o último Presidente da Torralta antes de passar para as mãos de Belmiro de Azevedo e de Américo Amorim.
Os
accionistas privados da holding maioritária, gente muito rica do Norte e
donos de indústrias de nomeada, pediram-me para pôr a casa na ordem e
tentar recuperar a maior empresa turística de Portugal.
Era
um desafio irrecusável, excelentes condições pecuniárias prometidas,
apoio irrestrito dos accionistas, a liberdade de levar uma equipe da
minha confiança, um património invejável e com uma tradição grande em
Portugal, pois quase todas as famílias tinham títulos de férias dos
manos Agostinho e José da Silva.
Tróia encantou-me desde o primeiro momento, pois
as praias, a vista, o cenário eram belíssimos e a Torralta tinha um
património equivalente no Algarve. em termos de hotelaria e terrenos
excelentemente localizados.
Tomei
solenemente posse e nesse dia saíram notícias sobre o meu perfil
profissional, o que se esperava de mim, tudo posto pelos accionistas nos
jornais económicos e diários e tudo prometia ser um sonho.
Nessa
noite, fui entretanto avisado, que teria que jantar já na minha
qualidade de Presidente com a celebérrima actriz Lauren Bacall,
convidada do Festróia, uma tradição de festival da empresa e com
bastante projecção nacional e internacional.
Luís
Filipe Menezes, Mário Ventura, o Director do Festival, e inúmeras
personalidades de relevo e de vários quadrantes políticos, olhavam para
mim com curiosidade e vim a saber depois, com apetite de me comerem vivo, pois era um penetra
desconhecido que iria meter o nariz nas “malvadezas” que
despudoradamente cometiam numa empresa que não lhes pertencia e ao
arrepio dos interesses dos milhares de pequenos accionistas que eram
directamente prejudicados.
Sentei
Lauren Bacall à minha direita e a conversa fluiu com o maior interesse
sobre música, filmes, american way of life, amor e tristeza pela morte
do seu marido e grande amor Humphrey Bogart (tinha
estudado à tarde e à pressa, o seu percurso artístico, os filmes, as
paixões e romances e cada traço da personalidade) e foi com espanto e
lisonja que a ouvi perguntar-me o que eu fazia nessa noite depois da
festa. Brejeira e provocadora, sabendo eu que ela gostava de homens
novos, considerei o convite como uma proposta para um encontro.
No
dia seguinte, o meu primeiro acto foi chamar o Director Financeiro e
perguntar-lhe quanto tínhamos em caixa, pois sabia que havia cerca de
700 ou mais funcionários e notícias veladas, falavam de problemas
salariais.
A
resposta do Director Financeiro foi a de que o saldo de caixa era de
Euros 3,000,00! Julguei ter percebido mal e perguntei-lhe como iríamos
fazer face ao pagamento dos salários no fim do mês e ele respondeu-me
que não iríamos pagar, como aliás desde há dois meses para trás!
Pedi-lhe
para preparar-me um orçamento de Tesouraria e informou-me que o
montante dos salários a pagar mensalmente era de cerca de Euros
400,000,00!
Os
meus accionistas, tinham traçado um cenário totalmente viciado e não me
passaram as informações relevantes, pois escamoteavam-na dos bancos e
dos credores e pensavam que ao me ocultarem no início do meu mandato a
realidade, poderiam assim continuar a controlar a empresa.
Pedi
para falar com o meu antecessor, Albino Moutinho, mas como foi corrido
pelos accionistas, recusou-se terminantemente. Requisitei o Livro de
Actas da Administração e disseram-me que tinha desaparecido.
Convidei
um amigo íntimo, competente e de toda a confiança para o Conselho de
Administração para ocupar o pelouro financeiro e um Advogado, também
impecável e meu amigo de longa data, para Secretário-Geral.
Começava bem,
com tudo minado! E isto era só o princípio, pois as peripécias foram de
alto coturno, se o leitor tiver a paciência de me continuar a ler.
(continua)
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