terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Audrey Hepburn - poema de vida


Quand on lui a demandé de révéler ses secrets de beauté, l'actrice Audrey Hepburn a écrit ce poème, qui fut lu à ses funérailles :
Pour avoir des lèvres attirantes, prononcez des paroles de bonté.
Pour avoir de beaux yeux, regardez ce que les gens ont de beau en eux.
Pour rester mince, partagez vos repas avec ceux qui ont faim.
Pour avoir de beaux cheveux, laissez un enfant y passer sa main chaque jour.
Pour avoir un beau maintien, marchez en sachant que vous n’êtes jamais seule, car ceux qui vous aiment et vous ont aimé vous accompagnent.
Les gens, plus encore que les objets, ont besoin d’être réparés, bichonnés, ravivés, réclamés et sauvés : ne rejetez jamais personne.
Pensez-y : si un jour vous avez besoin d’une main secourable, vous en trouverez une au bout de chacun de vos bras.
En vieillissant, vous vous rendrez compte que vous avez deux mains, l’une pour vous aider vous-même, l’autre pour aider ceux qui en ont besoin.
La beauté d’une femme n’est pas dans les vêtements qu’elle porte, son visage ou sa façon d’arranger ses cheveux. La beauté d’une femme se voit dans ses yeux, car c’est la porte ouverte sur son coeur, la source de son amour.
La beauté d’une femme n’est pas dans son maquillage, mais dans la vraie beauté de son âme. C’est la tendresse qu’elle donne, l’amour, la passion qu’elle exprime.
La beauté d’une femme se développe avec les années.

ESPANHA


ESPANHA
Um amigo mandou-me o link para a cerimónia em directo no Palácio Real da atribuição pelo Rei à princesa das Asúrias, sua filha Leonor, da Ordem do Tosão de Ouro. (vão ver à Wilkipédia se não sabem).
Muito bonita e ternurenta e o discurso do Rei impecável, moderno e transmitindo à filha o que deve ser um monarca no mundo de hoje, sem perder de vista os valores que pessoalmente nos compete a cada um de nós cumprir e viver.
Ao mesmo tempo que a cerimónia decorria em streaming via El País, lia-se em baixo os comentários dos espanhóis.
E foi isso que mais me impressionou! Desde grosserias sem nome que o pudor me impede de escrever sobre actos sexuais que praticariam com a princesa, de 16 anos parece-me, senão menos, insultos ao Rei, vivas à república, morte à Família Real, desejo que vão para o exílio....enfim centenas de posts seguidos e sem parar muito violentos, odiosos revelando um povo desencontrado, perdido e ávido de rancor.
Muito triste, pois não foi esta Espanha que me habituei a admirar, visitar com frequência e a desejar que continuasse unida e grande.
Tenho vários costados castelhanos mas hoje fiquei sobretudo preocupado em como vai tudo acabar, o que não pode deixar de ter influência em Portugal. E tive pena e admiração pela coragem do Rei que tem tempos tão difíceis pela frente e ainda é muito novo.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Mãe e Maria João na moto


A minha irmã Maria João, louca ahahah, a levar a Mãe ao Monteiro cabeleiro na Rua Borges Carneiro. Também a Mãe era modernaça e gostava de experimentar novas coisas. Que querida

Nota: tendo em consideração que sempre teve chauffeur e nunca guiou

FAZIA ANOS HOJE A MINHA MÃE

 
FAZIA ANOS HOJE A MINHA MÃE

Não posso deixar de constatar que se foi uma Mãe extraordinária, muito do que fez e conseguiu foi devido também ao amor que o meu Pai por ela tinha e que tanto a fez feliz, projectando essa harmonia nos seus filhos com uma estabilidade exemplar.

Gostava de poder acreditar que um dia voltarei a estar com esta minha Mãe terrena, aquela a quem dei beijinhos, apertei nos meus braços, dei as mãos, chorei junto e socorri nos últimos tempos da sua vida.

Não me interessam especialmente nuvens, nem almas, nem infinito. Deixo sempre uma porta aberta para a novidade. Oxalá ela exista!

Mas o principal testemunho é o de amor e saudades imensas pela sua ausência. Acho que é muito bom e consolador dizer isto de alguém, sobretudo se é a minha Mãe.

SÃO SEMPRE AS MÃES, E OS PAIS?

 
SÃO SEMPRE AS MÃES, E OS PAIS?

Dizia-me alguém amàvelmente a propósito do post que publiquei sobre os anos da minha Mãe: "Mãe é um sentimento que não se esquece, que vive connosco permanentemente."

E os Pais? O sentimento de orgulho e comoção por cada recém-nascido que pegamos pela primeira vez nos braços, este laço que nos faz rir e chorar ao longo da vida, tantas "untold stories" que jamais contamos mas as vivemos - doenças, noites mal passadas, exames, profissão, alegrias, orgulho, amor grande e profundo, dor, injustiças deles e nossas para com eles - tudo isto é um acervo que só os bons e maus Pais conhecem e sentem.

Se houvesse uma escola de Pais tínhamos andado lá todos e depois....sempre houve uns melhores alunos do que outros, mais inteligentes do que os menos, mais duraços e outros mais sentimentais, mas creio que nessa escola TODOS sem excepções - se forem verdadeiros e humanos- receberam e absorveram as tais lições de amor que não se estudam mas que se mostram quando a professora mandava usar o coração.

E por isso quando nos nossos exames de consciência, muitas coisas nos pesam de omissões, más acções ou menos boas, de egoísmo e de falta de paciência de tanta coisa em que poderíamos ter sido melhores, só quem seja de má raça, não sente arrependimento e purifica o coração que volta a bater com amor pleno.

Os Pais também permanecem para sempre e não são melhores nem piores que as Mães. São diferentes no papel que desempenham.

Às vezes a meio da noite lá tinha que mudar a fralda ou pegar ao colo ou dar o biberon ou pô--los a arrotar.

Tornava-se irresistível ver naquelas caras miúdas uma dependência de nós, dos nossos defeitos, falsidades e das fraquezas dos crescidos e sempre prometia uma protecção permanente. 

Não deve haver estatísticas nem récordes de Pais bestiais, do melhor e sem erros nem defeitos.

O nível de comparação de amor e de best performance, esse não é ditado pelos Pais mas sim pelos Filhos.

E por isso referi o papel relevante do meu Pai na vida e felicidade da minha Mãe, o que se projectou em nós Filhos.

Chega de paleio e toca a praticar e ao menos compensarmos como Avós!

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

3 inovações no Senhor Roubado

Vou fazer 3 inovações no Senhor Roubado:

1. Abrir uma casa de chá que será gerida pelo BE o que, espero, atrairá a esquerda festiva e haverá surpresas na apresentação da conta pois a ver se se apanha alguém em petites ou grandes corruptions...ahahah..não é só o Salgado nem o Sócrates!

2. às 5ªf a partir das dez da noite um buffet excelente só para gente da direita e antes tem que se fazer um teste de inteligência. Tudo quanto ficar abaixo de 30 numa qualificação de 1 a 31, não pode infelizmente entrar. A ideia é serem sessões de democracia, com especial incidência em leituras de autores russos e chineses...ahahaah

3. Aos Sábados à tarde e até ao anoitecer experiências de colectivização da propriedade, só e exclusivamente para me apanharem as couves e outros vegetais e leguminosas acompanhados por canções do Volga, vendendo depois a um preço com desconto após o extenuante trabalho.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A propósito da SUPERNANNY e não só


A propósito da SUPERNANNY e não só

Há imensas mães que se acham bestiais, têm vozes estridentes, gritam, berram, acham-se indispensáveis e só elas sabem o caminho da educação dos seus filhos. São insuportáveis para os filhos e respectivos maridos, ou companheiros. Até para os gatos.
São autoritárias, exclusivas e não fazem equipa em casal, nem têm paciência para a moderação masculina ou porque são as únicas que cozinham, ou limpam a casa depois de dias de trabalho, dão banho às crianças etc...umas pobres de ter pena e deixar lamentarem-se, imagine-se!
E porque não experimentam, sem exigir na tal voz estridente e aos gritos, propor aos maridos ou companheiros para lavarem a loiça, darem banho aos miúdos, pôr a mesa, distribuir tarefas MAS ATENÇÂO, sem terem sempre que opinar e espiar para controlar e ver se está tudo como ELAS fariam no seu superior saber.
Pois bem foi isto o que aconteceu no programa de ontem e causou paz e harmonia e progresso naquele lar ( casal e filhos).
Não acham que para a maioria dos espectadores que muitas vezes para dentro de si próprios se revêem nas personagens apresentadas só faz bem, incita à reflexão, ao desejo de paz e de felicidade familiar? Pois eu acho, como acho noutros casos em que a tv é relevante na influência nos espectadores, QUE SIM, que é positivo.
Finalmente com os meus 6 filhos, levaram tabefes, açoites no rabo, castigos sempre qb e são normaizinhos da Silva.
O que interessa se a supernanny é feia, ou alta, ou mal vestida, ou menos atraente. Consegue o objectivo que é o de ajudar com regras sãs, simples, lógicas e eficazes.
Ridículo ler umas psicólogas baratas ficarem indignadas e como sempre em Portugal, a solução é fazer queixa para as autoridades e pôr cínicamente a mão no peito com virtude. Vão para o raio que as parta de vez e as impeça de exercer a profissão pois fazem-no sem pedagogia. Centros de dia a ver a tv!
Quanto às crianças serem vistas nas escolas, deixem as crianças julgarem por si próprias. Se os miúdos e miúdas têm mau feitio em casa também são insociàveis na escola. Se todos virem o arrependimento e a melhoria e paz na vida familiar, têm uma medalha de honra nos corações de todos.
E se ou não as tvs pagam €1,000 ao casal, ainda bem pois o dinheiro ajuda a equilibrar a vida e posso-vos garantir que não é por dinheiro que as pessoas más passam a boas.
Tratem mas é de olhar para as vossas vidas e perderem esta mania nacional de superioridade intelectual, sobretudo de algumas mulheres pitonisas, de chatearem o pessoal.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Evelyn Waugh também acabou por morrer preocupado


Evelyn Waugh também acabou por morrer preocupado

A crónica do ALA na Visão desta semana fala de uma entrevista que o impressionou: a última a Evelyn Waugh antes de morrer e que ao ser perguntado sobre o que queria que fizessem quando morresse, a resposta foi: “que rezem pela minha alma pecadora”!

Fica sempre no ar a definição do pecado. O que será uma alma pecadora? Qual o critério? Depois, se alma houver, porque precisa que se lhe reze por ela? Já foi dito que não existe inferno nem purgatório nem se sabe se o Céu é em baixo ou em cima ou no meio.

Tudo temas controversos que pouco a pouco com o avanço da ciência e os testemunhos de alguns escritores esclarecidos tem vindo a ser progressivamente aceite que existe uma “vida”, “uma existência” para além da morte do corpo.

Há limites para a discussão entre amigos, familiares, cientistas, políticos, crentes e não crentes pela simples razão de se não saber tout court.

Hoje foi o Paul Bocuse que morreu, têm desaparecido a todos os dias figuras ímpares da literatura, do espectáculo, do desporto e seres simples e bons que não eram conhecidos senão dentro do círculo das suas famílias, mas com o mesmo mérito dos outros famosos. Também acabam por morrer estupores, criminosos e homens maus.

Com isto tudo quero dizer que fica sempre no íntimo da maioria de cada um o medo da morte, o desejo de que ao se rezar pela alma a liberte do sofrimento, etc

E se em vez de perdermos tempo com o desconhecido, tentássemos todos ser melhores enquanto vivos e as coisas, atitudes e comportamentos que dependem de nós e causam em outrem melhor ou pior efeitos, seja o mais relevante?.

No sentido vulgar de pecado acho que todos temos, mas por acaso não me preocupo em que rezem por mim depois de morrer, o que peço é que tornem a minha vida enquanto cá estou o melhor possível para evitar cometer assim tantos pecados…estrafogar o pescoço de alguns, ir às trombas de outros incluindo Presidentes estrangeiros sem entrar em outros ilícitos penais…

É isto que vos escreve hoje o vosso almocreve das almas, com sono e sem muito entusiasmo pelo futuro.

sábado, 20 de janeiro de 2018

O PENINHA FOI A UMA VIDENTE QUE LHE VATICINOU O CARGO DE MENISTRO


O PENINHA FOI A UMA VIDENTE QUE LHE VATICINOU O CARGO DE MENISTRO

O Peninha já andava há muito a querer saber da sua vida e alguém lá no trabalho indicou-lhe a dª Celeste, que tem consultório aberto em Sta. Iria da Azóia.

Apanhou o autocarro e pela manhã, chegou ao destino. As consultas começavam cedo e ele queria ser o primeiro.

Tratava-se de um prédio destes mais modernos de 5 andares, num bairro social, e sem elevador. O consultório estava ao nível do rés-do-chão com uma ampla janela dando para a rua, com uma cortina azul marinho por dentro com muitas estrelas douradas pequeninas.

Tinha uma tabuleta pequenina na campainha cá fora – Celeste vidente.

Peninha tocou e a porta abriu-se dando para uma entrada atarracada que cheirava a comida e virando-se para a direita encarava-se uma nova tabuleta em metal dourado cravado na porta do rés-do-chão direito que dizia : CELESTE MANGUINHAS – VIDENTE ENCARTADA -.

Uns minutos depois aparece na soleira a dª Celeste, de roupão azul de seda brilhante, com o cabelo ainda desalinhado mas com os olhos pintados e um bâton vivo e com um sorriso largo.

- Bom dia Sr. Peninha, como está? – disse com uma voz rouca.

- Eu bem obrigado e a senhora? Mas como sabe o meu nome? – disse Peninha espantado.

- Ora, ora então por isso é que sou vidente. – retorquiu a dª Celeste.

Entrou e dirigiram-se a uma sala apropriada à profissão da anfitriã. Toda pintada de preto, com um tecto azulado com estrelas cintilantes, uma mesa com duas cadeiras e ao fundo um sofá que ela lhe explicou servir para quando chama os mortos ou os vivos e as sessões são longas. Serve para se sentarem.

-Vamos então ouvi-lo Sr. Peninha – disse a vidente.

- Saiba a dª Celeste que ando infeliz com a Adélinha e com a vida. O Costa, sabe o Primeiro-Ministro, tem-me descontado mais no ordenado, tenho um rendimento miserável, a mulher queixa-se e chaga-me a vida, eu quero mudar de profissão e ver se arranjo mais dinheiro e uma nova mulher ou mesmo por uns tempos ficar sozinho sem compromissos. E é isto. O que vê a dª Celeste no meu futuro próximo?

A dª Celeste abriu o baralho de Tarot, deitou as cartas e pensou, pensou e disse:

- Olhe Sr. Peninha, vou-lhe fazer uma surpresa. Tem o dito Costa na sala ali atrás e está-me a dizer que o vai convidar para o lugar do Vieira da Silva e vai-lhe dar muito dinheiro para as mãos, o da Segurança Social. Diz ele que só precisa de um compromisso seu: é falar só quando ele disser para o fazer e dizer o que ele lhe indicar. De resto quanto a salário e benesses não se preocupe: carro de luxo, motorista, cartão de crédito gold do Montepio sem limite, horas extraordinárias pagas a 200% e umas secretárias muito atraentes dispostas a tudo.

Peninha levanta-se confundido e tenta avançar para o sofá que estava vazio à procura de uma mão para beijar, dizendo meio-curvado – oh meu benfeitor, oh meu benfeitor, ser político é tudo quanto mais desejo!

Dª Celeste acalmou-o e disse-lhe que ele tinha partido já para a Auto-Europa, que aquilo lá estava complicado, mas que ela estava a dar um jeito também.

Peninha afogueado e ainda não caindo em si, repetia em voz baixa: ser Menistro, ser político…

A vidente, com uma voz serena e um ar dramático disse-lhe:

- Tenho porém algumas más notícias para lhe dar.

A Adélinha com as suas ausências vai por-lhe os cornos com vários amantes e a sua casa passará durante o dia a ser anunciada na página dos anúncios porno do Correio da Manhã. Vejo-a inclusivamente em fotografias núa de colants curtos em poses provocantes.

Depois os cofres da Segurança Social estão secos, por isso não há cá negociatas possíveis.

Finalmente a imprensa descobrirá que é enganado pela Adélinha ( alguns dos seus colegas no Governo, mais do tipo Secretários de Estado, para além de a frequentarem, com inveja de si deixam cair pequenas denúncias para os jornais) e passará a ser conhecido como “Il Cornutto”. Bem sei que é em italiano e sempre disfarça um pouco, mas mesmo assim…

Eu posso ajudá-lo e contrariar esta sua sina, mas custa-lhe dinheiro, pois tenho que fazer uns preparados de asas de mocho e olhos de lagarto, e o mais difícil é obter pelos de urso da Ucrânea. Mas vou tendo umas reservas pois as minhas clientes ucras, vão-me abastecendo.

- São €500 e sucesso garantido.

Peninha, contrariado pagou e pediu recibo mas dª Celeste disse que não gostava do FISCO.

Peninha, furioso por ter gasto este dinheiro todo disse-lhe de maus modos: - olhe que se a sua sopa de lacraus não funcionar venho cá e parto-lhe isto tudo e faço-a em cacos.

Dª Celeste, calma e guardando a nota dos €500 numa bolsinha de cetim chinesa com dragões de ouro, disse-lhe com doçura: - vai ver que tudo volta ao normal.

Peninha saiu batendo com a porta, não sem antes ter de novo olhado para o sofá aonde estivera o Costa.

Já na rua, repetia para si mesmo: “Il Cornutto” nunca, nunca, jamais…não há carreira política que valha o vexame! E ainda por cima no Correio da Manhã.

Voltando a casa Adélinha viu-o com um ar estranho e perguntou-lhe azeda: - o que foi agora?

Peninha sentiu uma indignação subir por ele acima e disse: - passei a ser a favor da violência doméstica, põe-te a pau!

E saiu desabrido para ir beber um copo a uma taberna da esquina.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Instantâneo

 
Instantâneo:  vim buscar uma moldura de um quadro que foi restaurada e que me custou os "olhos da face" aqui a uma loja em S.Bento. Já ponho o retrato do quadro que é bonito e bom. Foi a minha excelente, fiel e amorosa empregada de há anos que ao limpar deixou cair e fez em muitos cacos parte da moldura antiga. Claro quem pagou foi o Oliveira, ou seja eu.
Entretanto ao lado há uma pastelaria que serviu para eu matar a fome enquanto esperava pela abertura da loja.
Rapaz com ar meio alucinado, inexperiente e sobretudo distraído.
Pedi um pão-de-Deus SEM manteiga e com queijo.
Desapareceu para a cozinha e voltou com o dito pão com uma pasta amarela e um filete de peixe. Perguntei -lhe o que era aquilo e disse-me que tinha ido pôr banha (que eu odeio e que para mim é pasta para engraxar, mas sei que como sem dar por isso) e o filete era de corvina.
A dona aflita com o meu protesto, cândido, ainda que com esforço, mandou fazer outra como deve ser!

Maldita corvina!

domingo, 14 de janeiro de 2018

A VITÓRIA DE RUI RIO


Fui ao cinema ver o Churchill que adorei.
Regresso a casa e vejo que ganhou quem eu queria. Fico contente. Vai ser escrutinado pelo seu comportamento político, o que é normal.
Irritam-me alguns dos meus "amigos/as" virtuais aqui do Facebook começarem logo na maledicência, inventando cenários patéticos, sem darem sequer a chance a Rio de mostrar o que vale.
Mas isto infelizmente é Portugal, um país de invejosos, azedos e destructivos que se alegram pela desgraça dos outros e têm raiva a quem, com trabalho, ganha.
Veremos pelo andar da carruagem e do tom dos pica-bilhetes se não vai uma varridela valente por intolerância minha de não me apetecer ler dislates e radicalismos.
Fiquei cheio da personalidade do Churchill e do Reino Unido que nas adversidades se unem e o que vale é a Pátria.
Em termos de personagens históricos, mesmo com todos os erros e defeitos que pudesse ter, ocorre-me francamente SALAZAR como um patriota e um dedicado servidor do seu País.
O resto é "comme ci comme ça", e então desde 1910 uns trapalhões.
Parabéns a RUI RIO e desejo-lhe muita sorte para enfrentar os traidores, os oportunistas e os barões do PSD.
O que interessa somos nós os Portugueses!

sábado, 13 de janeiro de 2018

A well known prayer written by a 17th century nun

I found this pasted on to the last page of one of my Mother’s old Missels and so liked it that I am sending it on to you:

“Lord, thou knowest better than I know myself that I am growing older and will some day be old.
Keep me from getting talkative, and particularly from the fatal habit of thinking I must say something on every subject and on every occasion. Release me from craving to straighten out everybody’s affairs.
Keep my mind from the recital of endless details - give me wings to get to the point.
 I ask for grace enough to listen to the tales of others’ pains. Help me to endure them with patience.
But seal my lips on my own aches and pains - they are increasing and my love of rehearsing them is becoming sweeter as the days go by.  Teach me the glorious lesson that occasionally it is possible that I may be mistaken.
Keep me reasonably sweet: I do not want to be a saint - some of them are so hard to live with - but a sour old person is one of the crowning works of the devil.
Make me thoughtful, but not moody; helpful but not bossy.
With my vast store of wisdom, it seems a pity not to use it all - but thou knowest, Lord, that I want a few friends at the end.”  

AMEN

A well known prayer written by a 17th century nun. 

importante


TANTE à la mode de BRETAGNE


TANTE à la mode de BRETAGNE

Hoje à tarde fui visitar uma Tia “tante à la mode de Bretagne” velhinha e de quem gosto muito. Está lucidíssima e vive num apartamento na Lapa excelente mantendo todo o recheio como se fosse há 50 anos. Quadros (lindos) retratos pintados da Família e fotografias em lindíssimas molduras de prata, veludos, loiças, marcadores de prata armoriados, esplendorosas cortinas de seda caindo sobre as janelas: tudo como se não fosse só ela e um criado velho também, o jacinto, que de libré me abriu a porta, ali a viverem.
Conversámos sobre tudo e verifiquei que está a par de tudo: Trump, eleições para o PSD, Costa, Jogos Olímpicos da Coreia do Sul e a possível presença da Coreia do Norte, Irão…Diz-me que assiste muito às notícias das televisões estrangeiras e às de cá selectivamente para estar informada. Lê com uma lente jornais e revistas.
Perguntou-me se eu tinha visto ontem na CNN a AMANPOUR que ela tanto aprecia como comentadora e entrevistadora e eu disse que sim.
Comentou-me a entrevista de Amanpour aos dois actores de um filme que ela não quer perder e que foi premiado em Cannes e Globos chamado “Call Me By Your Name”. As histórias de amor nunca passam de moda, como se sabe, dizia-me ela.
É uma emocionante história de amor entre Ellio e Oliver passada no norte de Itália, nos anos 80.
Tudo começa com Ellio Perlman (Timothée Chalamet) de férias com os pais na sua casa de campo no norte de Itália. No meio de uma família intelectual, os dias quentes passam-se na piscina, no piano e a passear de bicicleta com os amigos de verão. Naquela casa ouve-se francês, italiano, inglês e até alemão para discutir música, história e política, e todos estão em paz com o espírito preguiçoso do verão.
Como de costume, a família adopta um estudante estrangeiro durante seis semanas para ajudar o pai de Elio, professor de arqueologia, a fazer pesquisa académica.
Desta vez, o estudante escolhido para o estágio é Oliver (Armie Hammer), um norte-americano com uma estatura saída de um catálogo: alto, forte e confiante na sua voz possante. O que inicialmente é um conflito entre os dois rapazes aparentemente heterossexuais, vai gradualmente se transformando numa relação de cumplicidade, à medida que se conhecem. Por ser território desconhecido para ambos, a incerteza que os retém acaba por ser dominada pela inevitável atração e torna-se numa história de verão repleta de culpa, dúvida e paixão.
No meio deste ambiente descontraído desenrola-se a amizade secreta entre os protagonistas do filme, com alguns episódios eróticos e outros mais de pendor cómico. As cenas são vividas com intensidade graças à performance dos actores principais. O jovem ator Timothée Chalamet tem sido bastante aclamado nos jornais internacionais devido ao excelente papel que representa, com uma emoção e fragilidade que transcendem o grande ecrã, chegando a todos os espectadores.
Depois lanchámos optimamente, chá e scones. Sempre bebeu “ Queen’s selection” do Fortnum & Mason que manda vir quando acabam as reservas.
Tem 85 anos e não fala da morte, bem pelo contrário, das viagens que faz, da moda que veste, do carro que acabou de comprar (um Bentley magnífico) que é conduzido pelo Jacinto.
Não tem família próxima e é Senhora de um grande apelido e tem uma Quinta linda no Norte.
Tem tudo para ser feliz e é. Saí de lá a apetecer-me que ela me deixe tudo isto….ahahahahah

Crónica de muito amor


Crónica de muito amor

O João trouxe-me um Santo António pequenino de Pádua:
comoveu-me que se tivesse lembrado de mim. Na minha família não se fala de mariquices mas, de vez em quando, há gestos destes, de ternura escondida, como quem não quer a coisa. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar? Pelo menos entre nós é assim: não há elogios, não há censuras, raramente há perguntas. Para quê? Há um estar ali que é já tanto. Diz-se sem as palavras e percebe-se que se diz e o que se diz porque o clima, não sei explicar de outra maneira, se torna diferente. Não falamos do que cada um faz: a gente sabe. Do que cada um sente: a gente sabe. Não se fala do sofrimento, não se fala da alegria: a gente conhece. É melhor desta forma. Uma única ocasião o meu pai fez-me uma confidência, sacudiu-a logo com a mão
- Chega
de pieguices
e alegrou-me que se penitenciasse por transgredir as regras. Não há efusões, não há gestos e, no entanto, as efusões e os gestos estão lá. Quem souber ver que veja, quem não souber é porque não pertence à tribo. Não há lamentos: porque é que hei-de lamentar a minha sorte, interrogava o grego. Não há censuras, não há críticas, salvo em ocasiões muito, mas mesmo muito, especiais. O Zé Cardoso Pires percebia isto
- Vocês estão muito ligados
disse-me um dia, e mudou logo de paleio.
- Nenhum escritor gosta de falar do que escreve
afirmava ele. E, realmente, nunca falámos um ao outro do que escrevíamos. Quase todos os dias conversávamos mas não se tocava nesse assunto. Quando muito
- Estás a trabalhar?
e acabou-se. Ou
- Não estou a trabalhar
e acabou-se. Uma tarde telefonou-me
- É para te dar os parabéns porque ganhei um prémio
desviou logo o assunto e isto é o cúmulo da amizade. Foram os parabéns que, até hoje, mais prazer me deram. Até as nossas dedicatórias mútuas eram secas: Para o António do Zé, Para o Zé do António e um rectângulo à volta, a cercar as palavras, a fechá-las lá dentro. O rectângulo, claro, era o mais importante, e o que estava naqueles quatro riscos, meu Deus. Maior elogio mútuo
- Belo livro
maior crítica mútua: silêncio dentro de um soslaio breve. Não, maior elogio:
- Posso ser amigo de um médico, de um engenheiro, de um pedreiro. Para ser amigo de um artista tenho que admirá-lo.
Passeávamos de braço dado na rua. Com o meu irmão Pedro, por exemplo, darmos o braço é fazermos chichi juntos, no escuro, junto à cascata do jardim dos meus pais, com um comentário sobre o jacto respectivo. Depois sacudirmos os pingos ao mesmo tempo porque a pila não sabe fungar. Então abotoamo-nos e cada um vai para o seu lado, em silêncio. Deve ser difícil as mulheres entenderem isto mas, para os homens, fazer chichi lado a lado, ao ar livre, é sinal de amizade, a olharmos para baixo, cheios de duplos queixos. Tanto che che che nesta frase. Fazer chichi na rua é um dos meus prazeres, devo ter sido cachorro noutra encarnação. Detesto urinóis, retretes: haverá alguma coisa que se compare à exaltação de mijar contra uma parede? Às vezes, a seguir ao jantar, digo ao Pedro
- Já mijaste?
sabendo que ele estava à minha espera para essa celebração da cumplicidade. Nem que sejam três gotas faz-se um esforço. Vemos as árvores, vemos o muro, não nos vemos um ao outro mas estamos ali. Nem quero pensar na ideia de fazer chichi sozinho. No fim pergunta-se
- Como é que estás?
sabendo que o parceiro se cala. Depois cada um no seu carro, sem mais palavras. Um atrás do outro e, a certa altura, separamo-nos, com um sentimentozito de despedida que custa. Quer dizer não custa assim tanto, custa um bocadinho e passa. Eu vou fazer redacções, ele vai fazer não sei o quê: pouco importa. Importa que durante uns momentos estivemos juntos. Agora interrompi esta crónica porque fui lá dentro espreitar o Santo António antes de lhe pôr o ponto final. Que pena um ponto final ser tão pequenino.

António Lobo Antunes ( Crónica/Visão)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O DEBATE HOJE NA TVI ENTRE PSL E RR


O DEBATE HOJE NA TVI ENTRE PSL E RR

Ópás hoje na TVI o debate final entre PSL e RR. Deve ser uma maçadoria mas quero ver para estar a par do que uma série de cretinos aqui comentam, creio, muitas vezes sem sequer terem visto os anteriores debates e como à portuguesa...de rompante, com impressões que são escritas sem reflexão, atenção e conhecimento do, neste caso, o au-delá no sentido do futuro em termos de eleições.
Atrevo-me a dizer que os portugueses merecem o que têm vindo a ter pela apatia em participarem na vida política e cidadania do país. Um desconsolo!
Estou sempre à vontade para isto dizer pois durante anos fiz vida política activa e não discutia de copo na mão bem sentado em casa. Dava o corpo ao manifesto e a maioria das vezes com juventude que é muito mais generosa do que os "Millenium" que só pensam na neve, em Bali e em ganharem dinheiro. Não lêem, não vão a museus, não sabem comprar uma bonita peça de prata nem um quadro expressivo mesmo de pintura moderna, uma cómoda de qualidade...nada, só futebol e copos.
Naturalmente que com honrosíssimas excepções.
Hoje deu-me para cascar! Não é invulgar em mim, mas também o fazem comigo.
Enfim, vi uma promoção colorida do Abu Dhabi e da sua vida cultural, fiscal....muito importante e invulgar.
Vou de novo pensar arranjar lá uma espécie de Senhor Roubado para aonde me retire de temps en temps. Ditto.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

jornais e revistas portuguesas






Gostava de saber porque os jornais e revistas portuguesas põem em grandes parangonas quanto é que vamos pagar este ano, no imposto automóvel, etc

Estou-me nas tintas pois há-de ser razoável e como tudo aumenta também aumentará. É, como no tempo de Salazar, "comer e calar"!

Comprei três revistas: Le Point, Le Figaro Magazine e o The Spectator.

Trazem assuntos tão interessantes e actualizados. Para quê perder tempo em merdas?

No primeiro, trata como artigo principal sobre o YOGA e uma série de informações úteis e práticas, para além da actualidade.

No segundo, tem uma belíssima capa de Maria-Antonieta e diz para pararmos de mentir sobre a história da França. Fiquei curioso!

O terceiro trata como top story, os eventos no Irão.

Vou postar as capas para vos atrair a lerem outras coisas que não sobre futebol ou comeres...caraças...ahahahah

domingo, 7 de janeiro de 2018

Trump


"Actually, throughout my life, my two greatest assets have been mental stability and being, like, really smart. Crooked Hillary Clinton also played these cards very hard and, as everyone knows, went down in flames. I went from VERY successful businessman, to top T.V. Star.....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 6, 2018
....to President of the United States (on my first try). I think that would qualify as not smart, but genius....and a very stable genius at that!"

— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) January 6, 2018

sábado, 6 de janeiro de 2018

O Miguel (II)


O MIGUEL (II)

Hoje encontrámo-nos no Galeto pois ele acha a Versailles chique. Foi pelas 15h mas eu estava cheio de fome e estando ele já agarrado a dois hambúrgueres do McDonalds, convidei-o, não obstante, para me acompanhar num leve almoço.

Tinha-lhe emprestado um livro sobre a vida de Mao contada pela enfermeira/secretária/amante que descreve a podridão e todos os crimes que ele cometeu. Estranhamente acedeu a ler e devolveu-mo hoje dizendo que o Mao era um biltre. Nem perdi mais tempo a falar sobre Mao pois estávamos de acordo.

Pusémos em dia a actualidade política e as minhas análises sobre o futuro previsível em Portugal eram coincidentes.

Disse-me que a revolução dele estava meia adiada porque não tinham meios. Eu disse-lhe que sem uma sede e todos instrumentos comunicacionais necessários hoje em dia, um representante para os contactos com a imprensa que fosse atractivo (ela ou ele e não um zibigu mal enjorcado e sem um português escorreito – dei o exemplo positivo do Louçã -) jamais arrancariam e penetrariam nas massas populares pois hoje em dia mesmo os trabalhadores menos qualificados do que os da Auto-Europa são exigentes e a revolução deu-lhes um estatuto muito melhor. O Arménio Cardo da CGTP é um "burguês elegante", bem vestido, põe gravata quando visita quer o PR quer o PM e sabe que tem impacto na televisão e nos jornais. Concordou comigo.

Falámos do TRUMP, do Irão, da China, da Rússia e do Médio-Oriente e as minhas análises eram coincidentes com as dele. Somos ambos rigorosos, objectivos, informados e não há muito a acrescentar ao que é a realidade. O resto é pura fantasia.

Mas hoje a discussão de fundo era complicada e ele quis saber a minha opinião.

O papel das mulheres na vida política de organizações revolucionárias. Comecei por lhe dizer que o que conheço do interior da vida das ditas organizações é o que vem transpirando das cisões e das vinganças publicadas em livro de quem sai batendo com a porta.

Ele, Miguel, diz que é difícil recrutar mulheres pois trata-se de um trabalho para homens, com as devidas excepções como sempre. São mais exigentes nas condições de trabalho, não abdicam da vida familiar quando têm companheiros ou descendentes, preferem integrar-se em estratégias já iniciadas, não têm o mesmo espírito aventureiro dos homens e por isso na maior parte destes partidos é difícil ver mulheres líderes ou mesmo em número visível. Têm menos espírito criativo para pôr em prática acções mais ousadas e são depositárias no sentido de valorizarem o seu estatuto de mulher por oposição à dos homens.

Eu ouvi-o em silêncio e ele disse-me que às poucas raparigas a quem pôs o problema com mais "suavidade" ouviu impropérios e irritações. Disse-me que não estava em causa qualquer diferença de género nem machismo, mas que esta era a realidade.

Eu disse-lhe que concordava com ele, mas como excepção lembrei-o de Cristas e de Catarina Martins, mas ele e bem, disse que o CDS não era um partido marxista nem com uma estrutura interna igualitária e em permanente actividade, com horários diários de reuniões até tarde e de saídas de casa, etc.e que considerava o BE um partido de revisionistas.

Se mesmo já nas famílias conservadoras, apartidárias e sem actividades políticas o homem tem que chegar a casa cedo, e a mulher se por acaso anda na ramboia é passiva de sevícias do tipo violência doméstica de companheiros "marialvas" o que será num partido pequeno, desorganizado, sem meios e com uma ideologia com pouca penetração ainda, segundo ele, no meio laboral!

Claro que teve muito mais vivacidade a discussão e teceram-se muito mais argumentos aliás pacíficos, mas constatei que a Guarda e a sua neve no inverno, no campo de reeducação ainda estará longe.

Vou falar com amigas minhas para ouvir abalizadas opiniões sobre o tema e procurar desde já uma Mata-Hari que a troco de um bom ordenado pago pelos capitalistas, que os há pouco, seja uma infiltrada e prove que a teoria do Miguel está errada.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

O Miguel

O MIGUEL

Como alguns saberão fiz voluntariado na prisão de Alta Segurança de Monsanto, como professor de Português para estrangeiros pois os meus reclusos de topo eram todos de várias nacionalidades. Já vos contei bastante sobre esta minha experiência.

Um dos reclusos disse-me um dia: - Talvez quisesse conhecer o Miguel que é um rapaz que me visita e me tem ajudado com o Advogado.

Disse-lhe que sim e ele deu-me o número de telemóvel e eis-me a ligar.

O Miguel tem cerca de 29 anos, é gorducho, baixo, usa óculos grossos e é comunista. Mas dos ferrenhos. Não é, porém, do Partido Comunista Português, mas sim de um mais radical e aspira a fazer uma revolução em Portugal aonde vai tudo raso.

Encontramo-nos no Café Gelo do Rossio, de tradições revolucionárias, com o que eu me estou nas tintas pois tem uns óptimos bolos e croissants e uma data de estrangeiras que no verão estão o tempo todo a rir para nós, sem saberem o que lhes aconteceria se o Miguel conseguisse os seus intentos.

O Miguel tirou um curso superior no Instituto de Formação Bancária, tem um irmão e um pai e uma mãe separados que vivem no mesmo piso mas em apartamentos diferentes. A Mãe é uma alta funcionária pública de bastante valor e ocupando uma posição relevante, creio que socialista mas não nomeada por este Governo, e o pai está reformado e é manifestamente comunista.

O Miguel tem uns costados maternos de limpeza de sangue com um bom apelido mas usa só Miguel e o último que é péssimo, em termos de gente conhecida….ahahahahah

Quem me conhece saberá que eu adoro a diferença e somos muito bons amigos. Conversamos sobre tudo e eu vou-lhe perguntando como avança a revolução e ele vai dizendo que devagarinho pois não têm muitos fundos para o trabalho de propaganda nem para uma sede decente nem têm ainda muitos militantes. Eu digo paulatinamente, ainda bem e a conversa prossegue. Não te esqueças de me avisar com alguma antecedência...acrescento!

O Miguel é muito inteligente, uma daquelas pessoas só focadas nos temas revolucionários, ou seja sabe de cor “Das Kapital” e toda uma vasta literatura soviética, fala vários idiomas que ninguém fala desde o árabe ao farsi e enfim o inglês, não vê televisão, tem reuniões aos Sábados à tarde do Comité Central e vive num quarto para os lados do Martim Moniz.

Eu dou-lhe na touca dizendo que poderia viver melhor em casa da mãe ou até do pai, no seu quarto, com refeições regulares e boas, com total liberdade de movimentos, e umas vezes quando se pega com vizinhos e vizinhas de quarto aparenta ter vislumbres de algum desejo de conforto capitalista no seu lar materno, mas mal me deixa mergulha no seu mundo.

Gosto muito de ser amigo dele, temos discussões bravas mas civilizadas eu de um lado ele do outro, esgrimimos argumentos e o Miguel às vezes batido com um lógico bom-senso de que a revolução não triunfará, diz-me que em caso de sucesso eu serei preso num campo de reeducação na Guarda, mas num quarto individual e com vista e ele velará por mim. Rimo-nos muito e eu agradeço-lhe.

É divertido ter um amigo assim, diferente dos de toda a vida, porque tem bom fundo e ouve-me na parte profissional e naturalmente reconhece que o capitalismo tem um fascínio irresistível que até nele impacta, ou seja, se puder ter um emprego que eu lhe arranje aonde possa ganhar um bom ordenado não diz que não.

Encontramo-nos de 15 em 15 dias, agora no Inverno eu passo a busca-lo no carro ou ao Sábado ou Domingo de manhã e estamos no bate-papo umas duas a três horas.

E é tudo para já pois o futuro dirá se vou parar à Guarda num campo de reeducação ou ele vem passar umas férias ao Senhor Roubado na quinta dos meus trisavós que já não existe mas que lhe descrevo nas nossas conversas, com requinte e detalhe capitalista.

Espero continuar a contar as aventuras com o Miguel pois é sinal que a nossa amizade perdura e resiste.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

ESPERANÇA


ESPERANÇA

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mario Quintana