domingo, 14 de julho de 2019

O PENINHA FOI CONVIDADO PARA O COCKTAIL DA EMBAIXADA DA RURITÂNEA



O PENINHA FOI CONVIDADO PARA O COCKTAIL DA EMBAIXADA DA RURITÂNEA


O Peninha tem andado em viagem por países complicados a entrevistar líderes odiados e amados como o Presidente Trump, o Ayatola Khomeny do Irão e até o Marco Paulo.

Regressou a Portugal (trabalha agora para um jornal digital “O Notícias falsas” e encontrou no correio um convite da Embaixada da Ruritânea para o cocktail do aniversário do dia nacional.

Como era a primeira vez que ia a um pôr-do-sol (cocktail em modo possidónio) tentou saber como seria o traje e sondou no arquivo do seu jornal e encontrou vagamente uma pequena informação que era de casaco de cetim violeta, laço colorido a dar com o tom do casaco e calças de seda preta com uma lista violeta e sapatos de lacrau pretos brilhantes. Achou que era muito triste e passou tudo para dourado.

O cocktail (ou rabo de galo) passava-se numa moradia acabadinha de construir junto à praia de Algés, com varandas e arcadas. Tinha uma escadaria escondida que dava acesso à praia e cujo objectivo era permitir a fuga de pessoas clandestinas e comércio de canábis para botes que arrimavam de noite junto ao areal.

O Peninha chegou todo vestido de dourado e claro, não passou despercebido. O Embaixador de uma família de marchantes conhecida na Mealhada, deu-lhe um grande abraço e mostrou-se honrado com a sua presença.

Começava bem, pensou Peninha para consigo. Só faltava que ele o apresentasse aos diversos convidados que desde logo se apercebeu pertencerem ao meio-industrial do calçado, das carnes, dos têxteis, das bebidas e até pareceu-lhe entrever uma cronista social cujo nome ele associou a uma cantora italiana da moda, de apelido Pavone ou coisa do género.

Começou a girar entre as pessoas e apresentava-se e de volta recebia uns sorrisos meio-trocistas, calculava ele por causa do traje dourado, pois os homens estavam todos de casaco branco e laço preto. Até se confundiam com os criados que serviam as bebidas e umas tapas.

Começou a anotar os apelidos dos convidados e mandava o fotógrafo do jornal tirar umas fotografias e perguntava o nome de cada um, para não fazer gafes quando as publicasse.

Uma boazona cheia de carnes em vestido de chiffon claro, de minissaia, loira e toda pintada: - sou a Dolores de Aveiro, esposa do Antero das Salsichas. A mão dela demorou tremente na minha, mais tempo do que a decência formal o indicaria e nos meus apontamentos marquei uma seta para trás o que significava voltar a estar com ela, mas talvez os dois sozinhos num dos terraços.

Um cavalheiro de bigode e cabelo pintado de preto vivo e brilhante com a mão cheia de anéis de oiro bem grossos: Vitor Nabo dono dos Têxteis de Alterne, muito prazer. Anotei no meu caderno que pelo nome da empresa devia fornecer lençóis e outros apetrechos para casas de meninas, o que dava sempre jeito conhecer.

E fui por ali adiante cumprimentando e apresentando-me aos Neves da Carne, aos Gonçalves dos sapatos, aos Pinto de Melo da moda, a vários modelos exóticos que se passeavam no meio das gentes, quais osgas coleantes, mas tudo gente que o Peninha achou interessante e novato como era nestas coisas, considerou serem representativos do jet-set.

A Dolores do Antero das Salsichas, piscou-me o olho e com a cabeça apontou-me um canto de uma varanda mais afastada que estava sem ninguém. Deixei-a ir primeiro e ainda me apresentei ao Sezinando Martins que tinha uma rede de ervanárias. Chato para burro, começou-me a falar do Pau de cabinda que vendia nas lojas e até de umas ervas chinesas que provavam melhor do que o Viagra. A custo consegui despegar-me e avancei com naturalidade para a dita varanda aonde a Dolores me esperava. Nessa varanda havia o pau com a bandeira da Ruritânea desfraldada.

Lá chegado senti-me agarrado com frenesim pela Dolores que me deu um beijo naa boca com um bâton carmim, deixando-me todo esborratado.

- Vês aí o pau da bandeira meu galã, pois foi por isso que te chamei para aqui. O Peninha previu sarilhos com o esposo da Dolores, se bem que a sua salsicha estivesse seguramente mais tesa do que as que o Antero vendia na fábrica.

Já estavam os dois a encenar uma grande cena de marmelada de Odivelas, quando se sentem passos a aproximar-se e o Peninha ficou hirto e firme como se estivesse a admirar os pássaros que chilreavam nas árvores frondosas do jardim da Embaixada.

Era o Embaixador que que queria apresentar ao Peninha o Duque de GibralFaro (entre Gibraltar e Faro) que era o grão-mestre da Ordem do Pavão Azul.

O Peninha ficou todo inchado e curvou a cabeça em sinal de respeito. Entretanto, furiosa, a Dolores deixou-os e foi de volta para o grupo do marido que a acarinhou e que levou uma tapona : - tira as mãos de cima de mim, oubiste? E pôs umas trombas e calou-se.

O Peninha sempre fora curioso em relação à nobreza e tinha ouvido dizer o avô materno que descendiam de um caldeireiro do rei D.Diniz, que pelos serviços prestados lhes tinha dado o apelido de Caldeiras, que não tinha chegado ao Peninha.

O Duque queria impingir-lhe uma condecoração da Ordem mas pedia-lhe uma fortuna e o Peninha disse-lhe que ia pensar, mas desde logo assentou na sua cabeça que fantasias emplumadas estavam fora de questão.

Entretanto chegou a hora de se despedir pois viu toda a gente a retirar-se e ao agradecer ao Embaixador, disse-lhe com muito ênfase, que tinha gostado e que a vivenda da Embaixada era ao estilo francês, mas que estava muito bonita e prestava-se a festas destas.

Em voz baixa o Embaixador, como quem dá um abraço mais apertado, disse-lhe a um ouvido: - ó homem, não se vem vestido de dourado para um cocktail nem para sítio nenhum. Isso é de paneleiro!

O Peninha engoliu em seco e saiu e decidiu comprar o livro da Pavone de que tinha ouvido falar a Arlete, cabeleireira, que morava em frente dele, e trazia tudo, tudo como se devia fazer.

Não pode responder ao Embaixador sobre a sua orientação sexual, pois poria em causa a Dolores, mas havia de a encontrar outra vez e aí se veria como ele era um verdadeiro HOMÃO!