domingo, 20 de dezembro de 2020

A análise de um ano complicado


A análise de um ano complicado

 

Para toda a gente 2020 trouxe uma surpresa que foi o Covid 19. Não importa escrever demais sobre os aspectos técnicos do vírus e da pandemia, se foram ou não previstos, cumpridos e bem geridos que pelo pelo Governo quer pelos cidadãos.

 

Importa-me mais olhar para dentro de mim e tentar generalizar um pouco para com quem interagi: familiares, amigos, profissionais.

 

Um primeiro aspecto que foi relevante foi o de ter criado uma sensação de impotência não só face ao desconhecido e sobretudo no início, como haver pouco a fazer em termos individuais para superar a insegurança, o medo e a impossibilidade de reagir.

 

Para o meu feitio (só sou parado quando me surge uma parede de betão e sem passagens, mesmo estreitas por baixo ou por cima) esta situação tornou-se insidiosamente incómoda, perturbadora do meu natural equilíbrio e cerceadora da liberdade de movimentação.

 

Sou muito cioso da minha liberdade e da de todos por isso odeio ditaduras de qualquer tipo. Isto não quer dizer que não seja “bem-mandado”, isto é, quando quem com razão e autoridade me indicar o caminho, nem hesito em obedecer. São por isso, coisas diferentes.

 

Entretanto, no mundo, ocorriam mudanças políticas em países importantes, dos mais significativos com um decorrer de tempo desesperante até a uma definição aceitável, o que me perturbava igualmente. Tendo mais tempo disponível e liberdade de distribuir as minhas horas de trabalho profissional, dedicava bastante tempo a acompanhar nos diversos meios de comunicação, o que se ia passando.

 

Uma impaciência enervante era o que sentia com as mudanças bruscas a cada dia que tinham impacto no mundo livre, na economia e nas reacções internacionais das grandes potências.

 

Ficou assim abalado o meu conceito de estabilidade e de paz interior, reagindo mais ansiosamente, menos compassivamente, com mais irritação com pessoas, ideias e coisas que se iam cruzando no meu dia-a-dia.

 

Claro que, dentro deste invólucro estão as redes sociais e os seus participantes no Facebook, WhatsApp, e-mails, canais de televisões com notícias e programas, conversas sociais e familiares – tudo a acrescer ao sucessivo desenvolvimento de vários tipos de confinamento que iam surgindo.


Ouvia-se vagamente falar que tudo isto causava depressões, separações e divórcios, suicídios, doenças penosas que terminavam na morte de quem muitas vezes nos sendo indiferentes e sem especial proximidade, respiravam o mesmo ar da nossa mesma comunidade.

 

Fui poucas vezes a psicólogos e psiquiatras. Aos primeiros, para além de gastar o dinheiro do tempo passado no gabinete, acabava por ser eu quem dava a consulta.

Os psiquiatras, salvo honrosas excepções aliás como para com os psicólogos, era entrar e na primeira vez explicar sucintamente ao que vinha, e na receita uma série de químicos que, na maior parte dos casos, tinham sucesso.

 

Isto vem a propósito de eu ter pensado fazer uma visita a um destes “sacrossantos habitáculos” para me queixar de…..o que eles próprios, quiçá, também sentiam. Gosto de chá, bebi-o em “piqueno” e parece que há uns quantos que acalmam os interiores. Só que ainda não se descobriu umas ervas contra o Covid, e o Earl Grey é um dos meus favoritos.

 

Assim que, continuei na mesma. Resolvi voltar-me para três “mèzinhas” que andavam há uns tempos enterradas no subconsciente: o esquecimento de mim próprio e a atenção aos outros que precisem ou simplesmente gostem de comigo estar; um adoçamento do coração e interesse em fazer novos amigos/as; procurar novos negócios em plena "crise" palavra a que os chineses chamam de "oportunidades".

 

Tem corrido bem, estou menos stressado e apesar de não me deixar vencer pelo desânimo e sucessivas "vagas" assustadoras da “Nazaré”, dar-vos-ei notícias quando algo de significativo merecer a caridade da vossa leitura…imaginam-me a pedir a vossa caridade, mas a aplicação desta expressão “caridade” estava eivada de cinismo e era uma brincadeira entre mim e um meu amigo e colega de Administração de um banco aonde trabalhámos.

 

Merry Christmas ou seja aguentem-se porque em português desejar um Bom Natal não faz sentido, se bem que valha a pena fazer uma visita ao presépio. É tão bom ser pequenino…as saudades que eu tenho de nascer e não ter responsabilidades.

 


 

domingo, 13 de dezembro de 2020


 Pesentes de Natal do Peninha


Este ano, por causa da pandemia, o Peninha resolveu presentear a família e amigos, com produtos do "comer".


Assim foi à Rua do Arsenal comprar bacalhau aos grossistas que vendem o "fiel amigo.


Foi à zona saloia de Lisboa, comprar couves, batatas, cenouras, aipos, alhos franceses, abóboras, bróculos, espinafres, tomates, courgettes e muita fruta fresca. Tudo isto biológico.


Foi à Beira Alta comprar cabritos, no Alentejo adquiriu borregos, em Sintra, perús e nas fronteiras com Espanha, produtos contrabandeados tais como café, bâtons, soutiens, cuequinhas de renda, perfumes chineses e outros produtos de consumo a preços irrisórios.


Também comprou algum produto à Maria Joana para a juventude.


Tudo isto ia para um armazém no Senhor Roubado aonde tinha um alarme que abria duas portas de ferro mediante uma frase que se tinha de dizer em voz alta: " o lobo que vá para o inferno".


O Peninha tinha vários inimigos, sobretudo na taberna do Neto. Com os copos os ânimos exaltavam-se sobre discussões entre adeptos do Sporting ( este era o clube do Peninha) e do Benfica.


O Sabastião era do Benfica e estabelecido na praça e quando o Peninha se gabou do que tinha comprado e disse que tinha guardado num armazém fóra dos limites do Sr. Roubado e que para se ter acesso tinha que se dizer uma frase em voz alta que só ele sabia, o Sabastião jurou que lhe havia de ir roubar tudo.


Havia um caminho que se fazia a pé muito bem de um extremo do Sr. Roubado até ao armazém do Peninha.


Peninha estava contente pelas compras que fizera e caminhava assobiando o hino da "Internacional" pois para além de ser bonito, o Peninha andava enviezado para os lados do partido comunista!


Sabastião seguia-o escondido no arvoredo sem se dar a ver.


Lá chegado, o Peninha gritou: " o lobo que vá para o inferno" e as portas abriram-se de par em par deixando ver o vasto e rico recheio.


Sabastião regressou à banca do mercado e pôs-se a pensar que nessa noite, de lua cheia, aparelharia o burro à carroça e ia "limpar" o armazém do Peninha.


Assim fez e lá chegando pôs-se a gritar " abre-te sésamo".."abre-te sésamo" e as portas nada.


Voltou furioso ao Sr. Roubado e cogitou ir de novo às escondidas quando topasse que o Peninha lá voltava.


Tudo isto ficou sem efeito porque o concelho ficou com um cordão sanitário um mês e toda a gente confinada em suas casas.


Sabastião desesperado à janela gritava para o ar " o lobo que vá para o inferno" e Peninha que passeava o cão no passeio por debaixo da janela do seu arquinimigo, sorria para si, sabendo que jamais alguém se lembraria desta palavra passe para entrar nos seus "domínios".


E assim se prova que a história do Ali Bábá teve sucessores, ainda que mais bem sucedidos, pois não foram roubados.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Shanghai e as minhas perplexidades

 



Uma das inúmeras vezes que fui a Shangai fiquei num hotel de 5 estrelas bem confortável. O gerente acompanhou-me ao quarto e quando me abriu a porta para entrar, qual não foi o meu espanto quando vi deitada na minha cama uma chinesa novinha e com uma cara gira que me dise "Hello".

Perguntei ao gerente se tínhamos entrado no quarto errado mas disse-me que não, era um costume nos hotéis e hospedarias chineses para agradar aos Clientes. Se eu não quisesse ou preferisse um rapaz também me arranjavam.

Disse que vinha cansado e que para já queria ficar sózinho, iria tomar um banho e fazer umas chamadas e trabalhar um pouco e que se ela quisesse a convidava para o jantar.

Saiu discretamente e reparei que tinha um bonito corpo, talvez de 20 ou poucos mais anos, falava inglês e tinha uma boca bem feita com bâton encarnado.

Acabei por sair, fiz uma compras, sirandei pela Bunt ( promenade ao longo da baía de Sanghai com uma vista esplendorosa sobre a ilha aonde se vislumbra a Sanghai moderna, como se fosse Manhatan) e almoçei num restaurante francês excelente pois já levava 8 dias de comida chinesa, de que aliás gosto muito. 

À tarde fui ao Consulado de Portugal aonde combinei com o Cônsul ele arranjar-me contactos de empresas para eu visitar e tentar fazer negócios.

Eram umas 18h regressei ao Hote e à entrada perguntei ao concierge se a menina que estava no meu quarto de manhã, sabia fazer massagens e se estavaa livre.

Enquanto trabalhei em Hong Kong todos os dias quando saía da empresa ia fazer exercício num ginásio e a seguir uma massagem. Sou um fanático de massagens e em todo o mundo aonde vou reservo sempre hotéis com spa.

Com o Covit faço massagens de juízo na cabeça.

A menina subiu e entrou no quarto. Devo dizer que para mim massagens é eu estar nu de frente e detrás e não há cá vergonha nenhuma....qual toalhinhas qual carapuça.

No meio da sessão, batem à porta e aí cubri-me e pedi à menina para ir ver quem era e dizer que agora não podia falar.

Eis senão quando vejo entrar dois chineses com cara de maus, que me pedem para pagar a massagem e levam a rapariga.

Telefonei indignado para a recepção do Hotel, contei a cena furioso e exigi uma explicação.

Vesti-me e desci e o gerente atrapalhado disse-me que ela pertencia a uma tríade e que a tinham vindo buscar por estar com um estrangeiro.

Refilei com o Hotel e fiz uma queixa para a Polícia....devia haver disto todos os dias e a queixa cairia em saco roto.

O Hotel, gentilmente, arranjou-me duas outras raparigas que me fizeram uma massagem excellente.

Conclusão: andar sempre com o bacamarte armado...ahhahahh


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

O PENINHA REGRESSA DOS USA

 


O PENINHA REGRESSA DOS USA


O Peninha esteve agora nas eleições presidenciais nos USA a trabalhar em Newark como repórter do Correio da Manhã.


Alojou-se em casa de um primo emigrante ( Newark é composta quase na maioria pela comunidade portuguesa) o Zé Bacalhau, que tinha um armazém de importação do dito cujo para a América.


O Peninha conseguiu este tacho de repórter do CM durante o período eleitoral, pois durante meses, desempregado e vivendo no Senhor Roubado, rondava as saias da Cremilde, a secretária do técnico de recursos humanos do CM.


A partir de certa altura passou da fase de rondar as saias para uma convivência física com a Cremilde, co-habitando com ela na Alfama.


A Cremilde tinha uns largos seios redondinhos e um nariz arrebitado que davam alguma graça a uma cara grosseira mas sempre arranjada e pintada.


Usava jeans para ir trabalhar e seguramente o número de cintura escolhido fora propositadamente rebaixado, deixando ver um rabão em forma de pêra, esprimido e saliente a um metro de distância.


A Cremilde em tempos passados agasalhou a carne do Director do CM e ganhou alguma influência sobre ele, pois apesar de terem rompido as relações ficaram para o sr. Arménio as recordações de suculentas noitadas passadas no seu apartamento com a Cremilde.


Fruto dessa influência, o Peninha conseguira obter um emprego no arquivo morto do CM. O salário era magro mas o Peninha era compensado na qualidade de vida diária por viver à custa da Cremilde e petiscar-lhe as carnes com uma frequência avassaladora.


Um dia escreveu um e-mail para o primo luso-americano, o Zé Bacalhau e perguntou-lhe se lhe dava guarida e alimentação em troca de ser o correspondente em Newark do CM para as eleições presidenciais.


Obtido o consentimento entusiástico do primo pois contava também ganhar com o "quiosque" para incrementar a venda do "fiel amigo", ajudou o Peninha, através da Cremilde, a conseguir o acordo do sr. Arménio para esse posto de correspondente do CM em Newark, tendo em conta que o CM só teria de pagar um bilhete de avião de ida e volta, sendo o resto das despesas por conta do Zé Bacalhau.


O Peninha ficou privado da fruição sexual do corpo sensual da Cremilde, mas o primo arranjou-lhe para o compensar, um namorico com uma sobrinha com contactos na Casa Branca, a Rose Perroux.


O Peninha comportou-se na primeira vez que a conheceu no leito como um verdadeiro garanhão português de puro sangue, apesar de se desconfiar da origem cigana dos antepassados o que no CM, falado à boca pequena, trouxera agruras ao Peninha no partido do Chega e em entrevistas falhadas com o André Ventura.


O desiderato de Peninha seria o de obter em exclusividade uma entrevista com o Trump e para isso contava com os apoios de Rose, que no passado tinha frequentado a Trump Tower como "camareira", no sentido literal do termo.


Rose fora depois do fartote do Trump em relação a ela, quem lhe apresentara a querida Melânia.


No início da campanha e numa vinda de Trump a Newark, Rose arranjara para o CM uma entrevista com o Presidente, mas que não poderia exceder duas perguntas e um retrato do Trump com uma gata!


O Peninha estava nervoso pois não falava inglês de todo em todo, excepto dois palavrões: "fuck" e " bye-bye son of a bitch".


Trump entrou apressado na sala de entevistas e estavam Rose e o Peninha, expectantes e cheios de entusiasmo.


Rose estava com o vestido côr-de-rosa com um generoso decote vendo-se os biquinhos dos seios e com uma saia muito curta e justa.


O Peninha tentou adivinhar o que poderia usar para impressionar Trump e pediu ao Zé Bacalhau para encontrar na comunidade portuguesa alguém que lhe emprestasse o traje de campino do Ribatejo de vara, barrete, colete e tudo.


Trump ficou pasmado ao olhar para o Peninha e entusiasmado perguntou a Rose se o jornalista era escocês!


Rose lá lhe explicou tudo mas Trump não fazia a menor ideia a que país pertencia o Ribatejo nem a que zona do mundo.


Trump estava apressado e tendo um dos assessores dito que o jornal que o Peninha representava só tinha direito a duas perguntas, ficou à espera que o Peninha as "xutasse"!


Fazendo-se valente e querendo provar a Rose que não precisava da sua ajuda, perguntou a Trump:


- like fuck?


Trump ficou agradado e desenvolveu toda uma teoria que deixou Rose encarnada de um rubor púdico falso.


Trump riu-se muito e Peninha gravava no seu gravador portátil a resposta para enviar mais tarde para a redacção do CM.


A segunda pergunta foi:


" you son of a bitch"?


Gerou-se uma enorme confusão na sala, Rose e Peninha foram agarrados pela segurança do Presidente e o FBI ainda identificou o Peninha, mas pareceu-lhes inofensivo o traje de campino. Já a vara ficou apresada pois consideraram-na uma versão rudimentar de arma de fogo susceptível de um atentado plausível.


Deram um pontapé no rabo do Peninha e à Rose uma palmada descarada nas nádegas e expulsaram-nos para a rua.


Em Portugal o sr. Arménio estava ansioso pela reportagem e o Peninha enviou-lhe tal como a gravara sem perceber pinta do conteúdo, escondendo cautelosamente de como foi vestido, pois tinha a certeza que essa teria sido a razão de tanto escarcéu.


O sr. Arménio percebia inglês e ficou deliciado com a resposta detalhada e porca de Trump à primeira pergunta. Seria, seguramente, uma caixa do CM.


Quando ouviu a segunda pergunta e se deu conta das consequências para a boa reputação do CM, apagou-a e meteu a gravação da primeira pergunta numa gaveta como um "manual" de bons conselhos.


Em consequência desta experiência o Peninha foi posto na rua do CM mas continuou a deleitar-se com a Cremilde que ignorante do idioma da Albion, achou que tinha sido pura inveja do sr.Arménio.

domingo, 29 de novembro de 2020

A partida do Zé


A partida de alguém é sempre patética: traz dor, saudades, tristeza e como que se ficássemos espantados e não esperássemos que um dia haveria de chegar mas, seguramente duvidosos do destino do morto. E agora para onde?

Não me importa o ponto de vista das diversas religiões, pois em nenhuma até agora houve notícias reais da existência de uma vida...que conceito de vida poderia ser, para além da morte.

Discuti várias vezes com o Zé este tema quando ele abordava o sentir que caminhava para o seu fim. Fazíamos um trato que era o de não falar nem da minha nem da dele. Assim estávamos mais à vontade e sem medos.

Cada um trazia para a conversa livros que lera, artigos de cientistas, de religiosos de vários credos, histórias de "retorno" de doentes que contavam a visão de um túnel de luz e uma vontade de não regressar, mas no final nada tínhamos avançado.

Tenho para mim que o melhor será despreocupar-nos sobre o after-death e ao contrário tratarmos de viver bem enquanto estamos vivos. 

Há tanto para melhorar, enriquecer em amor, cultura, valor profissional, social e de entrega a quem precise, e uma permuta de tudo isto com e de quem gostamos.

Por isso quando a morte chegar, seja de mansinho ou de forma estrepitosa, ou com sofrimento, a expectativa de no fim da vida se ter paz, deverá afastar o medo.

A memória dos nossos mortos é temporária e ao mesmo tempo permanente. Ficam-nos gravadas as histórias de e com cada um/a e passadas as primeiras semanas a vida continua e nem deve ser amargada por uma atitude de luto permanente pois torna-se cansativo e às tantas já nem temos um propósito pois os mortos não retornam.

Interessa sim, estar atentos a uma frase que alguém diz e de repente revêmo-nos num momento de grande lembrança e intensidade de emoções e de saudades, numa música, num sítio, tudo isto por casualidade pois é o que nos dá a certeza de os "chorarmos" com naturalidade.

Querido Zé, obrigado pela tua amizade e presença na minha vida. Foi sempre amistosa e permanente e tenho a certeza que valeu a pena para os dois esta mútua partilha dos nossos defeitos e qualidades.

É isto que se deve fazer, na minha opinião: ser gratos no nosso coração com quem parte e termos a humildade suficiente de reconhecermos, se porventura fomos úteis ou de ajuda, nada disso interessa pois não há um Livro do Deve e do Haver, na contabilidade do amor.


 


sábado, 28 de novembro de 2020

O gostar uns dos outros, não há melhor! E saber exprimi-lo, dizendo-o. Só isso basta!


O Imperador Napoleão Bonaparte nunca o disse. Primeiro porque era muito inteligente, segundo porque tinha de facto, perdido a batalha com mortos visívéis espalhados pelo campo da peleja. 

Esta graça, está a parafrasear Trump, de quem nunca gostei e a quem já ouvi dizer públicamente nas redes sociais ser o Eleito, o melhor, o mais inteligente.

Deixemos de falar de um perdedor e hoje apetece-me concentrar-me naquilo que penso dever ser a atitude de cada um, quando está em casa confinado, seja acompanhado ou seja sòzinho.

É sempre uma boa oportunidade para descansar a cabeça, ler, conversar com o/a parceira/o e também saber respeitar o seu silêncio. Por outro lado as pessoas que se tornam omnipresentes no confinamento e refiro-me aos tais ditos parceiros, podem causar uma saturação. Cada um tem que arranjar o seu "espaço" e ser equilibrado na intromissão da intimidade do outro.

Tem crescido o número de suicídios, separações, divórcios, pancada da brava e tempos infelizes. Já bastam as dificuldades da vida diária neste preciso momento em todo o mundo para que nos nossos pequenos mundos adicionemos acidez, zaragata e falta de paz.

Talvez pensar nos outros que se encontram em circunstâncias piores e AJUDAR ou com quem nos dá prazer conversar e nada mais fácil do que estar um bom bocado ao telefone a falar de coisas leves ou de negócios que nos distraiam, ou trocar impressões sobre temas que a qualquer um possa servir de guia ou de motivo de reflexão.

Não há nada melhor do que se gostar uns dos outros e exprimir sem vergonha esse sentimento, pois cai fundo no coração e na parte do cérebro (tenho falado com cientistas do melhor e estou um entendido...ahahahah) que provoca uma sensação de bem-estar.

Vamos então a isso, pois apesar de ter a imagem do Bonaparte que não foi pêra doce, foi esta a reflexão que me apeteceu deixar hoje.

 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Diego Maradona


 DIEGO MARADONA 

 Cada vez julgo menos as pessoas. A morte de Maradona é a morte de um homem complexo e que mesmo na sua morte chama a atenção do mundo. Todos temos os dois lados: o bom e o mau. Maradona jogava muito bem...no passado quando estava equilibrado e são. Este foi o lado bom. 

Devo dizer que o tempo passa para todos e eu acho que o Ronaldo e o Messi, Pélé entre outros jogam ou jogaram tão bem ou melhor do que Maradona. E são normais. 

O lado mau de Maradona não pode ser esquecido pois há muita gente presa e para toda a vida e há forças legais que perseguem traficantes de droga ao nível dele apoiado e ligado à Camorra ( mafia italiana) bem como com negócios muito sujos. Os que são fanáticos por futebol não conseguem controlar os excessos nos elogios ou críticas. Por fim começo como disse no início, cada vez julgo menos e espero que finalmente Diego Maradona tenha encontrado a paz.

sexta-feira, 31 de julho de 2020


Instantâneo

Fui à FNAC do Colombo que é de longe a maior e com os livros mais bem expostos e como sempre farejo a ver se há algo de novo. Nunca venho de mãos a abanar. Creio mesmo que com o que já gastei de livros na FNAC e BERTRAND daria para ou ser accionista maioritário de qualquer uma das casas ou garantir uma pensão simpática post-COVID 69.

Hoje comprei "Revisitar os Clássicos" de Kenneth Rexroth, o livro novo da Matilde Campilho "Flecha" e os Contos do Eça em espanhol para dar de presente a um dos meus sócios castelhano que vem a Portugal visitar-me a caminho de França.

Como sempre faço perguntas jocosas a empregados novos na loja pois os outros já me conhecem todos e ficam parados a ver o que sai desta vez.

Era um rapaz até bem parecido, bem apessoado, com um ar amável e prestável. Ainda pensei se devia interpelá-lo.

Mas foi mais forte do que eu.

- Olhe sff, aonde é a secção de pedicure? E já agora a de depilação que anunciam com saldos para o verão.

Respondeu-me como se já soubesse; é ali no fim da loja à direita.

Rimo-nos todos um bom bocado e sobre as nossas cabeças dançavam como loucos pequenos COVIDS 69.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

O PENINHA E O COVIDUS




O PENINHA E O COVIDUS


O Peninha tem andado desaparecido porque tem passado entre os pingos da chuva, ou seja do COVID.

Esteve confinado no Senhor Roubado, numa casa que o Regedor lhe pôs à disposição, casa essa que tomara muita gente ter: dois quartos sendo um deles a sala, tudo em pequenino, coitado, mas era de borla. A casa-de-banho era no jardim, numa cabine de alumínio com uma pia, um lavatório, um bidé, e um chuveiro de água fria.

No entanto a Junta fornecia-lhe refeições completas desde o pequeno-almoço ao jantar. Tinha para se distrair uma televisão a preto e branco com os 4 canais, um longínquo sinal de wi-fi para poder ligar o computador.

Mas apesar do confinamento a que esteve sujeito, tinha uma vantagem extraordinária: é que tinha pela frente um terreno de 50ha, com animais selvagens à solta desde, leões, leopildos, gatos selvagens, serpentes, elefantes, tigres, papa-formigas, chimpanzés, saguís, hipopótamos numa ribeira meia cheia e um jacaré.

O Peninha tinha-se substituído ao Rei Leão e era ele quem dominava o espaço vasto aonde estavam estes animais em alegre convivência.

No fundo, o Presidente da Junta propôs ao Município a construção de um novo jardim zoológico, mas devido a corrupção ao nível da Câmara, nunca o projecto andou para a frente.

O Peninha tinha especial predilecção por um chimpanzé a que chamara Sócrates, pois conversava com o Peninha sobre pensamentos elevados de como conduzir os destinos do zoológico.

O Peninha detestava a serpente, pois lembrava-se da história da Eva e estava sempre a culpá-la pelo estado do mundo. A serpente que se chamava EVA, já encolhia os ombros pois não estava para o ouvir sempre com a mesma história.

O papa-formigas era a empregada de limpeza do Peninha pois linguaruda limpava-lhe os cantos do quarto e da sala das formigas e do pó que se ia acumulando.

O jacaré era porreiro, pois deixava o Peninha afiar as facas nos dentes pontiagudos. Um dia quis fazer uma gracinha para assustar o Peninha e fechar a boca devagarinho mas o Peninha, lesto, tirou uma das facas e espetou-lha na carcaça. Está visto que partiu a lâmina mas não deixou de mostrar quem é que mandava. Com aquela bocarra grande quando a abria toda, tinha um sorriso divertido.

O hipopótamo estava gordo e mexia-se com dificuldade mas o Peninha fazia umas sestas deitado ao lado dele…quando abria a boca dava-lhe sono.

Havia um elefante, que começou por ser chamado Jumbo mas despois da venda a outra cadeia de supermercados, o Peninha pôs-lhe o nome de Lidél: era-lhe muito útil pois era o chuveiro do Peninha e com a tromba apanhava-lhe bananas de uma bananeira que por ali havia.

Com os tigres é que tinha mais problemas pois com a pele deles eram vaidosos e passeavam-se pela quinta como se fossem as piquenas das ruas de Odivelas de casacos falsos de leopildo. Nem olhavam para os outros animais.

Finalmente os saguís falavam lá uma língua aos guinchos entre eles que muito divertiam o Peninha que começara já a aprender e conseguia fazer-se entender.

Apesar desta vida variada ao ar livre o Peninha tinha que se confinar na sala ou no quarto, com áreas muito pequenas.

Estranhava nunca ser visitado por nenhuma autoridade de saúde quando via na tv a preto e branco uns relatórios de arrepiar de gente que era infectado e ia para os hospitais.

Tinham-lhe dado uns livros do porco do Vilhena, mas o Peninha mostrava os desenhos pornográficos ao chimpanzé que dava gargalhadas. Aos saguís nem pensar porque em tamanho ainda eram miúdos.

Um dia apareceu lá o Regedor que lhe disse que já podia sair livremente pois tinha-se passado à fase de desconfinamento.

Os animais ficaram muito tristes mas ele foi peremptório:

- Ó filhos ( eram como se fossem filhos do Peninha) deixem lá, que estou aqui estou a voltar pra aqui com vocês.

E o Peninha tinha toda a razão pois o Senhor Roubado foi uma das freguesias da Grande Lisboa que teve novo recrudescimento da pandemia.


quinta-feira, 5 de março de 2020

Instantâneo 2




À espera do médico em S.José para a consulta é irresistível não ter conversas com as pessoas simples que aguardam cama para entrarem e ser operadas, os seus familiares, etc 

Perguntam-me com ares trágicos e com medo, coitados, contam-me os seus males e eu quando vejo que vão ter um final de sucesso ( operação à próstata sem cancro e ligeiras intervenções) brinco com eles e pergunto se não vão ter saudades de brincar aos pais e às mães😊 O de hoje, pelos 64 segundo ele, respondeu-me que já nem lhe passa pela cabeça e punha um dedo na testa careca.

Gargalhada geral incluindo uma esposa desdentada.


Quando vinha pela rua do Garcia, há logo ali à direita da porta do S.José uma pastelaria óptima aonde vão todos os médicos. Fui tomar um café e comi uma rosca óptima e grande do tipo arrufada, que normalmente é má para o colesterol, mas por isso está perto do Hospital! 


No meio do bruahah das conversas diz o empregado para o patrão: a dona Deolinda está a ir agora para o cemitério. E continuou a servir os clientes. A vida continua. Quando ouvirem dizer o mesmo sobre o Nelo, sou eu. 

Dêem umas migalhas aos pombos do Rossio, estupores que cagam tudo.

Instantâneo 1



O meu médico urologista também dá consulta em S.José. Deu-lhe jeito que eu lhe fosse mostrar as últimas análises no intervalo da consulta. Mete sempre conversa sobre tudo pois ele é um dos meus leitores. Estava tudo bem. Saí e vim a pé até ao Rossio pela Calçada do Garcia ( calculei que fosse o Vice-Rei Dom Garcia de Noronha meu directo antepassado ou quiçá um moço galego a quem o bairro prestava homenagem pela sua vida abnegada ao serviço dos moradores) e eu inclino-me mais para a segunda hipótese. Ambos serviram o povo português à sua maneira. 

Vim dar ao Rossio aonde vou sempre engraxar os meus sapatos a um amigo engraxador, culto e com quem converso o tempo todo. Turistas de várias nacionalidades param a olhar e eu explico-lhes que para além da amizade que há entre nós, ele trabalha com qualidade e dignidade na sua profissão e eu fico com os sapatos que nem um espelho a brilhar. E tantas outras histórias que andar em Lisboa a pé se podem observar.