sexta-feira, 24 de junho de 2011

Memórias do cárcere (13) o assassinato


Márcia lá ia todos os dias para o Hotel Polana, bem arreada com vestidos ousados, belas jóias que eu, tolo, lhe tinha comprado, e quando se despedia de manhã, piscava-me o olho! Era desesperante e eu já não sabia se era de troça, de cumplicidade ou de provocação.

Cada vez estava mais apaixonado e desejava-a quando a via sair de saias travadas salientando um rabinho bem feito e mostrando, generosa, uns alvos peitos que se viam, indecentemente e sem soutien, até aos bicos.

Não tinha coragem de a ir visitar, pois era dar parte de fraco, mostrar ter ciúmes, desconfiar! Mas ficava enraivecido em casa, a pensar que outros homens a miravam com apreço dos pés à cabeça, se aproximavam só para a cortejar e quem sabe, fazendo-lhe propostas tentadoras.

Decidi comprar-lhe um carro pequeno que não desse nas vistas: o pretexto seria não gastar mais dinheiro do muito que já tinha dispendido nos últimos tempos com roupas, jóias, perfumes, cabeleireiros, produtos de beleza, um pesadelo!

Já toda Lourenço Marques falava de a ver passar pelas ruas da cidade no Maserati a alta velocidade, de cabelos ao vento e já se murmurava que nem sempre o fazia sozinha, pois os meus amigos já a tinham visto com outros acompanhantes masculinos lá para o pé das dunas!

Falei-lhe sobre isso e ela riu com aquela boca sensual tão gostosa, pondo a cabeça para trás provocante, com o corpo na minha direcção e agarrando-me insinuante:

- O meu amor está com ciúmes! Que bom, é a prova que me adoras. Mas são Clientes estrangeiros e esporádicos do Hotel que me pedem para lhes mostrar a praia e eu vou. Tens que confiar, meu bebé – e conquistava-me de imediato e fazíamos amor como se ela só pensasse em mim.

Voltei ao meu Maserati e passava o tempo a beber em bares pela cidade. Era visto a meio da tarde a sair meio cambaleante e a voltar a casa, perigosamente aos zigue-zague, de tal maneira que a Polícia falou para o meu pai, avisando-o que se assim continuasse, iria ter sarilhos.

Os meus amigos íntimos constituíram uma embaixada e vieram visitar-me a casa dizendo que precisavam de falar comigo sobre um assunto sério. Temia que fosse sobre a Márcia, e assim foi.

Entretanto passaram-se meses e ela cada vez chegava mais tarde, rejeitava-me na cama e com sobranceria exigia-me mais dinheiro. Passei a odiá-la e a amá-la ao mesmo tempo!

A delegação vinha falar-me para que eu tomasse uma atitude, pois Márcia era vista com muitos homens e sabia-se que os frequentava, não sendo já só estrangeiros mas até alguns dos meus inimigos locais que se riam nas minhas costas. Propunham a habitual solução: que a largasse de vez e que a deixasse fazer a vida que ela quisesse.

Agradeci-lhes a franqueza e tomei uma decisão: vamos os dois sair por uns tempos de Lourenço Marques e viajar até à Europa, passando uns meses em Lisboa.

Quando Márcia regressou nessa noite já um pouco bebida, fui meiguinho e falei-lhe dos meus planos. Aceitou, estranhamente sem resistir e mostrou-se bem contente. Fomos para a cama enlaçados e voltei a sentir a Márcia de sempre.

- Olha Luis, o Ronaldo quer-me levar a dar uma volta na Europa para depois passarmos uns meses em Lisboa – disse Márcia ao seu amiguinho do coração.

- Calha-me bem, pois tenho coisas que fazer na Metrópole e assim como não nos conhecem como aqui, estaremos mais à vontade. Vê lá se te despachas na viagem à Europa, pretexta uma enxaqueca ou uma razão forte e volta depressa – disse Luis, com Márcia sentada no seu colo, meia despida, num quarto que tomara de aluguer permanente no Hotel Polana.

Voltámos de Paris para Lisboa após 2 dias insuportáveis de estadia, pois Márcia queixava-se de enjoos e tinha-me dado a entender que poderia ser por estar grávida. Fiquei entre o feliz e o desapontado por ter criado enormes expectativas nesta quase lua-de-mel que eu antevia como reparadora do passado recente em África.

Em Lisboa, vivíamos na casa dos meus avós, um palacete que ganhara o prémio Valmor, na Av. da República.

Márcia saía de manhã e só voltava à noite e não me dizia por onde tinha andado. Cada dia que passava fervilhava na minha mente um desejo de vingança por me ter atraiçoado e, achava, continuar a fazê-lo.

Demos um beijo longo, mas formal, nessa manhã antes de sair.

Depois, ela despediu-se de mim, sorrindo e piscando o olho, o que me pareceu falso mais uma vez.

Observei-a a atravessar a Av.da República e pedi a todos os santos para que um carro desrespeitasse o sinal e a atropelasse.

Mas, infelizmente, nenhum carro desrespeitou o sinal.

À noite quando voltou, estava bêbada e sonolenta e foi-se deitar.

Tinha já tudo programado: um fino lenço de seda para a estrangular, sem que antes a despisse toda e a abusasse até à exaustão.

A pistola a meu lado para me suicidar em seguida e o telefone com o número direccionado para a Polícia com uma mensagem pré-gravada, considerando-me culpado.

Aproximei-me com muito cuidado para não a acordar e de uma só vez, com um gesto seco, passei o lenço pelo pescoço e comecei a apertá-lo. Acordou espantada e olhando-me em pânico quis balbuciar umas palavras, calculo que de socorro ou de súplica. Amarrei-lhe as mãos e as pernas depois de a por quase sem fôlego para respirar e despia-a com gozo.

Apalpei-lhe o pescoço fino e macio de gata, desci para o peito que sempre me encantara, cheio, redondo e firme que tremia, fui avançando para baixo e penetrei-a muito, muito.

Estava com um lenço atado na boca, mas eu sentia o estertor do desespero.

Finalmente apertei o laço até lhe ver os olhos esbugalhados saírem das órbitas e num estremeção ficou hirta e morta.

Carreguei no botão do telefone e a mensagem partiu para a Polícia e quando apontei a pistola às têmporas, realizei com horror que não tinha balas. Procurei desesperado por todas as gavetas e apercebi-me que as tinha deixado em Moçambique.

A Polícia entrou e saí algemado e ainda deitei um último olhar frio e sem emoções para Márcia que jazia entre a cama e o chão já sem vida.

Convenhamos que ninguém gosta de um par de cornos. Eu não gosto, pelo menos!

(continua)

2 comentários:

  1. Ninguém gosta, não, LOL Beijo e parabéns da RFerro

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  2. Olá Manel... espero redimir-me da minha ausência aqui. Finalmente consegui tempo para acabar de ler os "capítulos" que faltavam... e a minha opinião mantém-se.
    Faça favor de escrever!!!!!!!!!!!!
    Beijinho amigo e fico a aguardar a continuação do tanto que ainda tem para escrever!!!!!
    Isabel

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