terça-feira, 21 de junho de 2011
Memórias do cárcere (12) Márcia
Foram tempos de grande paixão.
Começámos a viver juntos e alugámos um apartamento esplendoroso no décimo segundo andar com uma vista deslumbrante sobre Lourenço Marques e perto da praia.
Deu brado a nossa ligação e passámos a vida a ser convidados para todo o lado: cocktails em casas sumptuosas, almoços, jantares com iguarias finas e também em restaurantes da moda, fins-de-semana na selva….enfim, uma vida social intensa e muito pouco virada para nós.
Fazíamos amor esporadicamente, ou melhor, eu queria uma vida mais íntima a dois e com maior frequência mas à Márcia raramente lhe apetecia pois vinha esfalfada das festas e um pouco bebida.
Comecei a reparar que quando se despedia de mim ou de alguém piscava um olho. Era um tique que me enervava. Ao princípio achei graça mas depois parecia-me uma pirulice. Delicadamente perguntei-lhe a razão e respondeu-me que desde miúda começara a fazê-lo e que tinha sempre agradado a toda a gente, e com uma gargalhada fresca partiu, sem antes deixar de me dar um beijo repenicado na cara!
Ao fim de uns dois meses extenuantes, tive uma longa conversa com ela e pedi-lhe que abrandasse o ritmo das saídas. Concordou e durante algumas semanas tornou-se meiguinha, fizemos amor loucamente como que a compensar o tempo de folia perdido e eu sentia-me verdadeiramente apaixonado e o homem mais feliz e orgulhoso de Lourenço Marques.
No descapotável e de cabelos ao vento passeávamos a alta velocidade pelas ruas e cafés e não havia descanso para os acenos e olhares com que éramos brindados.
Márcia disse-me uma manhã que tinha arranjado uma ocupação pois sentia-se fútil durante o dia sem nada para fazer. Tratava-se de ser relações públicas do Hotel Polana o que implicava, disse-me com uma voz de gatinha, ter que gastar mais dinheiro em vestidos, cabeleireiros, e até ter um carro para se movimentar.
Achei boa ideia e aceitei que pudesse usar o Maserati enquanto, com tempo, não se comprasse um carro, o que a tornou muito feliz e excitada.
Só começaria a trabalhar na semana seguinte por isso aproveitámos o tempo para estar juntos e ela quis-me compensar de tanta generosidade, entregando-se-me completamente.
Os meus pais detestavam-na: achavam-na uma oportunista que se queria aproveitar do meu dinheiro e estavam sempre a dizer-me que me arrependeria mais tarde. Eu ficava furioso e respondia indignado, defendendo-a.
É claro que a minha conta bancária teve que ser muito mais reforçada, pois as despesas com ela e os seus gastos eram como um saco sem fundo.
Nisso os meus pais nunca me limitaram, continuava a haver muito dinheiro e os bancos eram os primeiros a tentarem-me com cartões de crédito gold com plafonds ilimitados! Caí na asneira de dar um a Márcia e os saldos subiram em espiral.
Quando me queixava, ela sabiamente enroscava-se em mim e nesses dias eu atingia o êxtase com a ternura, fogosidade e sensualidade de Márcia.
Comecei a ouvir de uns amigos que ela já tinha dado cabo de várias fortunas, mas atribuí estes rumores a ciúmes e inveja.
Gastou-me um fortunão em novas roupas que foi comprar a Joanesburgo, mas deu como pretexto que era para que se soubesse como eu a tratava bem e como éramos tão unidos e felizes, sobretudo neste novo emprego aonde teria que contactar com clientes importantes, ricos e exigentes.
(continua)
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