terça-feira, 12 de julho de 2011
A Leitura como forma de regeneração dos presos
Um dia destes vi numa reportagem televisiva, que numa cadeia algures, desde há muitos anos que não há nenhuma rebelião. E uma das razões seria o resultado de um acordo entre a direcção da cadeia e uma biblioteca itinerante que, quinzenalmente, envia um funcionário para emprestar livros aos que estão confinados na cadeia. Bíblias, ficção científica, romances, poesia, contos, histórias juvenis e infantis, banda desenhada e o Código Penal (muitos presos estudam os dispositivos legais aplicáveis às suas sentenças), histórias verídicas, biografias, para todos os gostos.
E todos esses livros e revistas são devolvidos no prazo combinado e quase sempre em óptimo estado.
A reportagem mostrou exemplares deteriorados pela acção do tempo e do manuseamento, pois muitas pessoas têm por hábito molhar os dedos para virar as páginas, mas estão lá, inteiros, os livros. Livros lidos.
Não pretendo discutir o sistema prisional português, sei apenas que funciona muito mal, tem uma população exagerada confinada em espaços mínimos, tratada pior do que gado e, para muitos, é a verdadeira escola do crime.
Entretanto, a atitude da direcção desta cadeia, e também da biblioteca, vem conseguindo um resultado bastante positivo: levar ao preso um pouco de Conhecimento.
Um dos entrevistados, disse que são poucos os que saem desta prisão, que voltam a reincidir no crime.
Esta cadeia devia ser mais conhecida: avaliada. Talvez pudesse servir de exemplo para a reeducação e reintegração social dos condenados do nosso país.
Lembro-me de um filme americano (creio que se chamava - Um Sonho de Liberdade) aonde, numa prisão de segurança máxima, havia uma escassa biblioteca, e um preso empreendeu todos os esforços burocráticos para melhorá-la; depois, quando finalmente começou a receber doações das editoras, ia de cela em cela levando e recolhendo livros.
A Leitura pode mudar a vida de qualquer pessoa. Para melhor ou pior, é verdade. Mas esta é uma outra conversa. Os jornais mostram todos os dias notícias de gente que leu muito na vida e que praticou crimes que dariam condenações de séculos; mas, estão aí, livres...
O importante, penso e acredito, é que a Leitura permite ao leitor preso um acesso maior à reflexão interior, já que tempo é o que mais tem, e a obter das palavras impressas a capacidade de discernir melhor (e compreender as diferenças) entre o bem e o mal, a motivar-se pessoalmente para encarar a vida fora das “jaulas” aonde foram empilhados, como se não fossem seres humanos.
Imagino a angústia de uma pessoa saudável que, por estar a cumprir uma sentença, pouco vê o sol e, pior ainda, tendo que passar dia após dia dentro das grades, sem ter que fazer; não pensa senão em asneiras.
Não tenho a ilusão de que o livro, apenas o livro, regenere alguém. Mas sei que a Leitura é muito capaz para, em muitos casos, como o desta cadeia, ser um primeiro passo para a reeducação de pessoas.
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