quinta-feira, 13 de julho de 2023

O silêncio e a voz que não se ouve


 Pior do que a voz que se cala,
é um silêncio que fala.


Simples, rápido! E tanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois sabe, o silêncio não é dado a amenidades.


Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.


Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.


Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que não queremos ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.


Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem as suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.


Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
“Diz alguma coisa, mas não fiques
aí parada a olhar-me!”

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.


É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para quem trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.


Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.


Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.


O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.
É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados no gravador do telefone
e mesmo assim, entendes a mensagem.

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