O PENINHA NO CONGRESSO DO PSD
O Peninha levantara-se cedo na 6f para rumar a Espinho.
Tinha sido inscrito como Congressista pelo círculo do Senhor Roubado, aonde
mora há anos.
Tomou o foguete, sim, porque não tem dinheiro para mais e beneficiando
já de um preço especial como inválido do comércio. Cobram meia-tarifa de ida e
volta. Tivera um acidente lá na taberna do Folião, mesmo à saída do Senhor Roubado,
quando rebolando um pixel de carrascão para substituir na taberna o que
findara, tropeçou, desajeitado, caiu e ficou com uma perna por debaixo do pixel
pesado.
Felizmente que a torneira do vinho ficou ao alcance da boca e enquanto,
aflitos, os vizinhos procuravam socorro, foi-lhe bebendo do tinto. Foi em
serviço, disseram na junta médica, e passaram-lhe um atestado de deficiência
para o trabalho com um grau de 40%. Sim, porque de cabeça continuara estupendo.
Mas enfim, sempre defendera uma única via, a da social-democracia,
e pareceu-lhe que PPC estava numa de vir a fazer ataques ao Presidente Marcelo,
que Peninha venerava. Estava mesmo decidido a intervir se fosse caso disso.
O que apreciava no Presidente Marcelo era a modéstia no
vestir, sempre com a mesma gravata azul lisa, a sua dieta que cumpria
escrupulosamente, o seu saber de música moderna e sobretudo a sua filiação no
Braga. Peninha fizera-se até sócio desse Clube apesar de nada ter dito no Senhor Roubado,
pois sendo um filho-da-terra seria uma desfeita não ser do Recreativo
Roubadecence.
Quando se aproximou do Pavilhão dos Congressos, teve assim
uma comoção interior e pensou: nada como os amigos para defenderem quem possa
vir a ser atacado, pois viu por ali muita chusma de oportunistas, fracas
figuras, tudo gente do comércio e da corrupção, e nada dos genuínos, vá dos antigos da fundação.
Roçou-se pela Isilda Martins, jornalista reformada do Jornal
de Santo Ildefonso, que conhecera quando fizera a tropa e ao saudá-la,
lembrou-lhe que estava disponível para comentar o Congresso, assim ela
quisesse.
Quando todos se levantaram e aplaudiram o discurso de PPC,
ele ficou dignamente sentado e nada disse nem fez. No final, aproximou-se da
mesa e inscreveu-se para falar, mas disseram-lhe que só havia vaga para perto
da meia-noite e era bem possível que a essa hora os últimos oradores inscritos
tivessem que desistir.
Foi ruminando o discurso e o sangue começou a ferver-lhe!
Que topete o de PPC o de tentar sub-repticiamente intuir que o Presidente
Marcelo poderia estar a fazer o jogo do PM! Mais ainda, com um ar superior e
protector, veio dizer que o PSD e ele próprio não deixariam de evitar que o
Presidente Marcelo fosse manipulado pelo Governo!
O raio das horas foi passando, desfilando uma série de
energúmenos que botavam faladura sobre assuntos chatos e inócuos e quando
chegou a sua vez, restavam na sala duas empregadas da limpeza, que se
declararam do PCP e o montador de som do Partido.
Subiu com dignidade ao palco, toldado pela emoção e julgou
ver a sala apinhada de militantes e num ímpeto de entusiasmo e patriotismo
gritou bem alto: - Viva Portugal!
Começou a cascar em PPC e a defender o Presidente Marcelo,
mas subitamente o afinador de som, gritou-lhe pelos altifalantes. – Terminou a
sua intervenção.
Jurou que tinham passado pelo menos trinta minutos e o som
das palmas não tinha fim.
Aproximou-se da mesa do Congresso, cumprimentou o Presidente
e os Membros, olhou para os restantes partidários que se sentavam atrás e
disse:
- Defendi com unhas e dentes o meu Presidente e não tenho
medo de represálias! Peninha do Senhor Roubado, a Odivelas. Militante número….ó
diabo falhou-lhe a memória mas não deixou de acrescentar: - ao vosso serviço!
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