O PENINHA E OS PAPÉIS DO PANAMÁ
O Peninha dormiu mal de noite de ontem para hoje só de pensar na edição do Expresso com os nomes dos portugueses implicados nos “Panama papers”! É que o Peninha anda alvoroçado com todo o frenesim à volta do assunto e acha que é chic constar da lista.
Ouviu na tv, um jornalista dar a explicação do que é uma offshore e pôs-se a pensar se na família teria havido alguma para trás. Por aquilo que percebeu, ter dinheiro numa offshore é esconder de alguém esse dinheiro.
Peninha tem uma ideia vaga de que o avô Libório, que era dado a senhoras e a jogatana em casinos clandestinos lá para o Senhor Roubado, escondia da avó Marcolina o dinheiro que ganhava, para o poder gastar com a Alcina, meretriz conhecida como tendo muitos amásios.
Talvez, se encontrasse a Alcina, que já deve ter para cima de 80 anos, lhe pudesse pedir um papel confirmando quanto o avô lhe pagava e assim entregar no Expresso, provando que tinha havido desvio de fundos do seio familiar.
Leu de fio a pavio o artigo do jornal e ficou decepcionado.
Pensou logo que tinha que aparecer o seu nome para dar brilho, distinção e criar suspense.
Decidiu ir levantar ao BES MAU as suas poupanças e dirigiu-se ao Martim Moniz aonde lhe tinham falado de uma sobreloja aonde faziam offshores rápidas e já com problemas de legalidade. Era o que ele queria, assim seria apanhado de imediato, durante o correr da semana, e com sorte apareceria na edição do Expresso do próximo Sábado, sim porque tinha percebido que ainda tudo estava no princípio.
Tocou a uma campainha de uma porta de vidro “opaco” que dizia em letras garrafais: “Fazem-se offshores ao minuto”! Abriram-lha de seguida, e eis que entra dentro de uma sala cheia de posters nas paredes com vistas de praias, mar, montanha, neve e pensou – que raio, mas isto é uma agência de viagens!
Um paqui com um ar manhoso mandou-o sentar e perguntou-lhe: - Quer frôr?
Meio perplexo, considerou que seria talvez uma pergunta em código e respondeu:- aonde fazem offshores?
- Ah, momento – disse o paqui – é aqui na sala ao lado.
Levantou-se e entrou numa sala com fotografias de vários estabelecimentos prisionais, barras de ferro, celas e em vários países do mundo. Imediatamente percebeu que pertenciam aos países aonde secretamente se podiam fazer offshores.
Duas cadeiras de pau, incómodas e duras e um outro paqui, estendeu-lhe a mão e apresentou-se: - Fonseca de Karachi!
Começaram a conversar e da lista apresentada, Peninha escolheu uma assim mais perto para ser possível ser apanhado com rapidez, sempre com o fito de aparecer no Expresso.
A opção recaiu em Beja, numa offshore situada dentro do aeroporto. O Fonseca explicou-lhe as vantagens:
- perto
- deserto e por isso discreto
- tem uma única máquina ATM, podendo fazer levantamentos facilmente identificáveis
- consta que foi construído com fundos resultantes de uma corrupção de um Governo, que Fonseca, se esquecera qual era, talvez até de vários, mas com verbas gastas muito acima das necessárias, dando por isso um bom escândalo, quando descoberto..
- processo conhecido, nada do tipo Panamá que ninguém sabe aonde é
A Peninha pareceu-lhe o ideal e pagando o custo – que achou bastante razoável – saiu com um pacote de documentos cheios de carimbos e textos que nem leu, mas que deveriam seguramente relatar ao detalhe as modalidades do offshore que acabara de constituir.
Meteu tudo num envelope grande, e por fora escreveu a letras encarnadas: DELAÇÃO ANÓNIMA – offshore. CONTRIBUTO de um CIDADÃO CUMPRIDOR.
Reflectiu se devia assinar, mas seria contraditório em relação ao título de denúncia anónima.
Quando começassem a escarafunchar logo descobririam nos papéis que se tratava dele próprio.
Pelo sim pelo não, escreveu em letra miudinha uma pista…..Senhor Roubado!
Ficou com uma cópia dos documentos da offshore e foi deitar o sobrescrito na caixa do correio do Expresso.
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