domingo, 3 de abril de 2016

A VISITA ÍNTIMA À PRISÃO DE ALTA SEGURANÇA


A VISITA ÍNTIMA À PRISÃO DE ALTA SEGURANÇA

Mari Cármen, tinha apanhado o comboio em Bilbao para vir a Portugal, para mais uma vez visitar o companheiro que estava preso. A cada mês tem direito a uma visita íntima: tem que trazer a roupa de cama completa, desde os lençóis às fronhas e um par de toalhas para se lavarem num duche incómodo e muitas vezes com água fria, depois de fazerem amor.

Vem no comboio transcantábrico, em segunda classe, em bancos quase de pau de duros que são e durante umas quantas longas horas não consegue adormecer. São viagens cansativas, deixando para trás a sua vida que já está organizada com as filhas pequenas, a família, as suas ocupações…no fundo a rotina de uma vida simples mas que consegue levar por diante.

O companheiro, claro que faz falta e sabê-lo na prisão é para ela e para as filhas um motivo de tristeza. Mas a vida continua e nos esforços que faz para a sua libertação, congregando apoios políticos e jurídicos, é genuína e quer vê-lo fora assim que puder.

Mas o passageiro da frente olha para ela despudoradamente, para as suas pernas meias de lado com a saia travada e subida, pois já não tem posição no banco, para a sua blusa aberta aonde espreitam dois seios ainda fortes e bem-feitos – ela não tem mais de 29 anos – e a sua cara bonita, um pouco deslavada pela viagem, a qual acaba por ser sensual com dois olhos de longas pálpebras e uns beiços carnudos e incolores.
Ela sabe que lhe custa ser fiel: tem os seus desejos, tem quem a deseje, sente-se muito sozinha e o captiveiro do companheiro ainda vai durar mais alguns anos.

Nestas vindas para saciarem a fome de sexo que têm um pelo outro, tudo é ao contrário do que deveria ser. A viagem mói o corpo - porque diabo é que num dia marcado e durante duas horas é que o líbido tem que estar desperto, sobretudo nela…nele seguramente que sim, privado que está de qualquer contacto e passando 90% do dia na sua cela, sozinho.

Mas quando se encontram e se despem tremendo de desejo, se beijam, se apalpam e se rebolam na cama que range e que serve de ninho de amor para todos, tudo esquecem e são dois corpos ardentes que se interpenetram.

É um misto de amor e sensualidade, erotismo nos jogos de amor que celebram, esquecendo-se da nudez da sala aonde existe uma cama velha, e grades nas janelas.

Depois vem a saciedade de terem conseguido fazer amor à loucura, mas sabem que o tempo está a consumir-se para voltarem a estar separados.

E choram abraçados de tristeza, de emoção já com saudades ainda antes da partida!

Deixam para o fim as conversas e os recados e ele quer saber das filhas pequenas, se estão bem, se falam nele, no fundo quer saber da vida no dia-a-dia como que se lá tivesse estado…e desistem os dois, pois cada um tem o seu espaço e distância.

O guarda vem abrir a porta e os olhares de tristeza e de separação ficam a perder-se na lonjura do afastamento até a porta se fechar.

O regresso à cela é penoso e atira-se para a cama com a cabeça entre as mãos…

Mari Cármen, faz tudo no regresso o que fez na vinda…mas abandonada ao cansaço e ao desânimo.
Mas ambos sabem que um dia a vida voltará a ser possível para os dois. O que é preciso é saber aguentar e não desistir.

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