domingo, 24 de abril de 2016

É mesmo porreiro o amor




É mesmo porreiro o amor
Que maçada, estou sem inspiração
Fazer poesia é entregar-se à imaginação
Que bom ler um bom livro, ouvir música que nos invade
Dias bons e maus, momentos de sofrimento e incómodo
Outros, pequenos, de alguma calma e as cores ficam logo mais vivas.
O drama são as pessoas más, indiferentes, indolentes, invejosas
Maledicentes, complicadas, orgulhosas e arrogantes, estúpidas, ignorantes.
Tantas coisas a nos preocuparem, a crise, a guerra, os refugiados, o desemprego.
Esta crónica diária de más notícias, umas atrás das outras, nas ruas, nos jornais, nos telejornais
Nas bocas das pessoas, na cabeça dos cidadãos que ouvem teses sobre o défice e sobre o Pib, muitas delas sem saber quem são tais sujeitas, pelas quais têm já um ódio de morte pois recebem menos salário, têm vidas parcas, desinteressantes, sem prazeres mínimos.
Vê-se gente morrer todos os dias, de morte violenta, de morte natural, chora-se e outras vezes finge-se, a maior parte das vezes fica-se indiferente. Há uma secreta repulsa da morte, das doenças, do momento, como chega com a foice, devagar para nos buscar. Depois a vida continua no dia seguinte, com chuva ou sol, compras, praia no Verão, emprego rotineiro, chefes chatos, trabalho de merda, rendimento mensal insuficiente.
Tal como o sexo, contam-se muitas aventuras sobre a felicidade, que sim e que tal e que é porreira, mas se olharmos para o suco que sai do copo do seu sumo, pingam umas gotas parcas, e às vezes até amargas. Famílias disfuncionais, casais desavindos, cansados de se respeitarem, vidas cheias de azedume.

Mudar de mulher ou de homem, que chatice: na casa-de-banho o copo dos dentes sempre ficou do lado direito, agora muda de sítio, o cabelo de manhã ao acordar é medonho, para quê mudar. Tudo igual, corpo e sexo, umas vezes, poucas, melhor, temporariamente até à rotina das posições, das experiências novas, o pobre seminarista cuja posição é considerada clássica para o acto de amor, tudo tem limites…o barulho que fazem, as manias, as taras, justificam lá a mudança para o agora é que é. E isto é o mesmo para hétero e homo e lesbo e até entre animais não racionais. É o cio, gente. Mesmo a tesão tem prazos e tempos, o resto é patranha. “Estive em cima dela 4 horas”, dizia um colega de liceu, o Aníbal Zé, e nós ficávamos suspensos, até que ele acrescentava “ levei um saco de pevides e depois de descascar com os dentes a casca, cuspia para o chão”…estranho amor este, pensava, pelo menos eu. Pevides e sexo é muito rasca…lembrei-me de Versailles com a Madame de Pompadour, o Rei tinha requintes, apesar de se saber que eram pouco asseados e não tomavam banho…o que me deu para falar nestas minudências!
Acho que o mais importante é mesmo ser-se sorridente, simples, bondoso, calmo e ir gozando a vida como ela se nos apresenta. Cada dia é um dia. Como dizia o outro, por acaso eu, quando for desta para melhor, sabe-se lá, vou com o papinho cheio.
Fim. Há quem se sinta feliz sozinho. Oiço cada vez mais teses, mas é tão bom dar a mão, fazer festas de mansinho, entrelaçar os dedos, trocar olhares em silêncio, agarrar o corpo, estreitar os corpos, pouco a pouco procurar os sítios de prazer. Não me venham com tretas, é mesmo porreiro!

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