domingo, 3 de abril de 2016

À CONSIDERAÇÃO SUPERIOR

À CONSIDERAÇÃO SUPERIOR

Alguém me dizia que as grandes datas do catolicismo como o Natal e a Páscoa, precedidas respectivamente pelo Advento e a Quaresma podem ser momentos de paragem e de reflexão da vida de cada um.

Pouco importa o credo; entendo que se deve periodicamente analisar o “curso das estrelas” da nossa vida, ainda que sem ser de forma obsessiva e doentia, mas como meio de prevenção.

Até aqui nada de novo, por ser tão evidente e de senso comum.

Já quando metemos a mão bem fundo na nossa consciência o resultado é outro. Varia de pessoa para pessoa, mas há sintomas comuns a pessoas comuns. E é dessas que estamos a tratar agora.

Atingindo-se uma idade a partir dos 60, quer por razões de menos operatividade, ou de um corpo que se ressente de uma vida cheia e às vezes menos regrada, ou mesmo de doenças crónicas, ou de crises financeiras pessoais ou do país aonde se vive, para não falar de guerras, violência….assiste-se a um decréscimo de entusiasmo pela vida e encara-se o futuro com algum desencanto, senão mesmo desespero ou neurastenia, dependendo, obviamente, de cada situação.

Por outro lado, para quem tem famílias e descendentes, formam-se novos núcleos familiares e é habitual que os filhos se dediquem mais intensamente às suas próprias vidas e da dos seus do que à dos progenitores.

Cria-se assim um fosso relacional entre várias gerações, sobretudo agudizado hoje em dia pelas solicitudes da vida moderna, trazendo problemas àqueles que sendo mais velhos, voltam a estar numa situação de carência de alguma protecção, desvelo, atenção e assistência.

Verifica-se, nomeadamente em Portugal, por falta de condições económicas e de apoio institucional do Estado, a uma diminuição gritante da qualidade de vida e de bem-estar, vulgo felicidade, que faz aumentar exponencialmente os suicídios, a apatia, o desejo da chegada da morte e sem embargo, tantas vezes, de uma eventual esperança de vida num número ainda significativo de anos que poderia ser gozado de outra forma.

Será que não há nada a fazer?

Não tenho a certeza se as organizações/instituições e as pessoas que se dedicam a estes problemas e que com tanta boa vontade, generosidade, altruísmo e disponibilidade estão a cada dia a dar apoio a esta geração, conseguem entender realmente o que é preciso para dar nova esperança e ainda chegar a tempo de recuperar uma boa percentagem de gente potencialmente válida e desejosa de desempenhar o seu papel na sociedade.

Esmiucemos o que quero dizer com este último parágrafo. Não falo daqueles que sem grande chama ou inteligência desde quase sempre foram pessoas sem interesse ou cinzentas: para estes é muito mais fácil fazer a transição e tornarem-se umas criaturas quase vegetativas, com uma vida rotineira quase igual à anterior, não fora a idade, a situação de reforma, ou alguma doença inibidora de alguma actividade.

Refiro-me a quem pense, leia, escute e intervenha e acompanhe o seu tempo, participando ainda pública ou privadamente na sociedade civil, viajando, apreciando mais a natureza, frequentando tertúlias intelectuais…
Estes são o contrapeso da irreflexão, da imprudência na governação dos povos, da inexperiência sobre o bem e o mal, do conforto na dor e na vivência da alegria. São preciosos auxiliares na formação de netos e o recurso de filhos desorientados.

Naturalmente que este quadro mirífico que traço, nem sempre corresponde a uma percentagem elevada de “qualificados”…mas em cada um de nós há sempre uma parte mais pequena ou maior de todos estes ingredientes.

E se muitas vezes se queixam de um certo abandono a que por vezes são votados na defesa “corporativa” dos seus interesses, é bem verdade que se quiserem organizar-se e constituírem forças de pressão na sociedade, mais fácil tornam o apuramento de novos caminhos e soluções.

Não há hoje em dia, muita tolerância para um capital de queixa, dado que actualmente na maioria dos países ditos civilizados, em regimes democráticos, a iniciativa é totalmente livre e existem inclusive, meios à disposição, assim fossem os interessados mais organizados.

Volto ao início do meu texto sobre os momentos necessários à interiorização.

Este é um tema que pode servir para ser proposto a quem de direito e no actual momento, tendo nós um Presidente da República que deseja um mandato de proximidade e afectos, bem faria em considerar este tópico para um dos seus pilares de actuação como Presidente de todos os Portugueses, pois abarca um número significativo de governados, com o sentimento de alguma “orfandade”.

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