To suffering there is a limit.To fearing, none.
Francis Bacon
sábado, 30 de abril de 2016
TEXTO MUITO BONITO DE PAULO VARELA GOMES, que hoje morreu
TEXTO MUITO BONITO DE PAULO VARELA GOMES, que hoje morreu
Tenho um cancro de grau IV. De cada vez que abro o teclado do computador na intenção de escrever, ocorre-me a frase, já mil vezes repetida, “Quando estiverem a ler estas linhas, é provável que o autor já não esteja vivo”.
São incontáveis os artigos, livros, documentários e filmes sobre pessoas que morrem de cancro. Nunca vi nenhum porque não aguento o stress mas ouvi dizer que alguns são eficientes e fazem os espectadores chorar muito. Não vou escrever aqui um artigo desse género, primeiro, porque não sou capaz, e em segundo lugar porque a história da minha doença e daquilo que tenho feito para lidar com ela tem algumas características muito peculiares que podem interessar a todo o género de pessoas que se preocupam com a vida e a morte e que pensaram com seriedade no tema deste número da Granta: “Falhar melhor”.
Tudo começou quando acordei uma manhã com um inchaço do tamanho de uma amêndoa no lado esquerdo do pescoço. Iludido por uma espécie de incredulidade optimista, pensei que se tratava do resultado de uma infecção nos dentes ou na garganta. Desenganou-me um médico especialista dessas áreas com quem fui falar alguns dias depois: “O senhor tem uma massa na garganta. É melhor ir ver isso rapidamente.” Estava muito grave e sossegado, ele. Percebi depois que nunca lhe tinha passado pela cabeça que alguém não soubesse o que quer dizer “massa” em termos orgânicos. Esta foi a única consulta médica a que a Patrícia, minha mulher e minha “curadoura”, não me acompanhou. Estava a ajudar a Rita a podar as videiras da Vinha Comprida. Quando lhe telefonei a transmitir a seca mensagem do médico, percebeu tudo e diz-me que ficou imenso tempo a olhar lá para o longe, para o pinhal sobre a várzea, com as lágrimas a correr-lhe pela cara.
Quarenta e oito horas depois fiz a obrigatória TAC cervical. Despi-me sem preocupações, coloquei aquela bata ridícula dos hospitais que faz qualquer pessoa parecer que sofre ininterruptamente dos intestinos, deitei-me na máquina. No fundo, esperava boas notícias: não tarda, iriam informar-me de que se tratava de uma chatice menor. Estivemos depois hora e meia debaixo da luz verde escura, crepuscular, da sala de espera. Quando o radiologista veio falar connosco, acabou nesse preciso instante a vida que levávamos juntos há mais de duas décadas. O radiologista tinha a expressão macambúzia de quem apresenta os pêsames a uma família enlutada: cancro na otofaringe com tumor na cadeia linfática cervical posterior e metástases no pulmão. Não operável. Tratamentos em doses muito altas de quimio e radioterapia para, daí a dois a quatro meses, deixar de poder comer ou respirar.
Decidimos que nunca me submeteria aos tratamentos da medicina oncológica, às suas armas: as clássicas (cirurgia), as químicas (drogas) e as nucleares (radioterapia). Estas armas destroem as defesas próprias do organismo e aceleram frequentemente a sua degradação. Já vi suficientes doentes de cancro entregues nas mãos da oncologia para tremer de horror ao pensar que poderia suceder-me o mesmo.
Quando voltámos para casa, não houve uma lágrima, um gesto de desespero, um queixume. Falámos muito pouco. As estradas por onde passávamos tantas vezes pareciam agora ter uma realidade inverosímil, como se fossem pinturas de paisagem antiga. Fazia calor e a luz era branca.
Durou vários dias seguidos, este silêncio emocional. As palavras que trocámos em casa foram reduzidas ao mínimo. Uma consulta com um médico do IPO confirmou tudo o que estava no relatório do radiologista. Mais tarde, algumas instituições com nomes que tilintam como lingotes de ouro vieram dizer-nos o mesmo: não havia nada que valesse a pena fazer.
Essas opiniões não nos importaram, porém. Numa estranha frieza, só quisemos saber o que faríamos para acabar com a minha vida quando essa altura chegasse. A Patrícia jurou que não me impediria de morrer, e até me ajudaria se fosse necessário. Como disse Plotia ao poeta em A Morte de Virgílio de Hermann Broch: “A morte fecha-se a quem está só, o conhecimento da morte apenas se desvenda à união de dois seres.”
Sucede que estes acontecimentos já me parecem um pouco perdidos no nevoeiro do tempo. Passaram mais de mil dias desde a tarde abafada de 23 de Maio de 2012, quando fiz a TAC, até à nebulosa e fresca tarde de Primavera em que estou aqui a escrever isto. Dois anos e onze meses.
Não sei se nesta evolução, que não tem cessado de nos surpreender e a quem nos conhece, podemos adivinhar a lenta condensação de um milagre. Sei que há muita gente a rezar por mim e é com alegria que agradeço a todos.
Mas sei também que tenho recorrido a muitas medidas práticas para evitar a sorte ditada pelos oncologistas.
A primeira foi fazer-me acompanhar, desde algumas semanas depois da TAC, por um médico homeopático (os médicos encartados não acham graça nenhuma a que se chame médico a um homeopata, mas tenham santa paciência). Sob sua orientação comecei por mudar radicalmente de regime alimentar. Em vez de comer produtos tóxicos como faz a maior parte das pessoas, passei a alimentar-se com produtos que ajudam o meu sistema imunitário e alguns que combatem o cancro activamente. Além disso, o médico foi prescrevendo suplementos alimentares e medicamentos homeopáticos.
Devo à homeopatia a qualidade dos mais de mil dias de vida que levo de vantagem sobre os médicos oncologistas. Duas ou três semanas depois de começar a terapia já começava a duvidar de alguma vez ter tido cancro. Imaginem: um canceroso em estado grave, que pouco tempo antes estava arrasado de cansaço e pessimismo, foi à praia! Confesso que tive medo de entrar na água, eu que vivi junto ao mar e mergulhei nas suas ondas vezes incontáveis. Só no segundo dia consegui decidir-me, e foi tão grande a felicidade experimentada no corpo que percebi que a Idade do Gelo em que tínhamos vivido desde o diagnóstico tinha dado lugar a uma Primavera, incerta e frágil, é verdade, cheia de dias de nuvens, mas tempo de viver e não de morrer.
As semanas correram e fomos passear a Toledo, a Burgos, a Viseu. Participei em conferências, orientei alunos, fiz todos os dias companhia à minha mulher e aos nossos seis cães, andei com a minha neta aos saltos sobre os charcos de água da chuva. As minhas análises foram durante muito tempo boas, e o meu aspecto muito diferente da maioria dos desgraçados que frequenta os campos de morte da oncologia. Além disso, como os leitores e leitoras saberão, escrevi e publiquei três romances, uma colectânea de colunas escritas para jornais, e finalizei mais um romance e um livro de contos.
Todavia, não houve um único dia em que não tenha pensado na morte. Nem um. Ao princípio não receei mas também não compreendi essa Senhora de Negro e, portanto, ofereci-lhe de bandeja as inúmeras oportunidades que, demoníaca, busca dentro de nós para nos fazer a vida num inferno ou para nos levar. É verdade que a vontade de viver teve desde sempre mais poder sobre mim do que a desistência perante a morte ou a ida ao seu encontro – já não estaria aqui se assim não fora. Mas vida e morte estão por vezes demasiado próximas e o conflito entre elas que tem lugar no meu espírito é muito antigo e muito complexo. Sou acompanhado por psicanalistas há muito tempo. Aquele com quem trabalho desde há alguns anos, e que é uma das peças-chave do puzzle da minha não-morte, recebeu como uma pancada a notícia do meu diagnóstico e, depois de uma breve conversa entrecortada de angústia e silêncio, lembro-me de lhe ter dito com um ar quase triunfante: “Nem sempre se pode ganhar, doutor…”
Quem é que estava a falar assim pela minha boca? Quem é que experimentava em mim essa estranha alegria raivosa que emergira quando soube que tinha um cancro e que este era incurável? Que força psíquica queria que eu morresse, que as pessoas tivessem misericórdia de mim, se recordassem, me admirassem? Que parte de mim, velha e zangada, se aproveitava assim deste meu narcisismo para me arrastar para a morte?
A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga-me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar. Quando a vida manda mais em mim do que a morte, amo os que me amam, e cresce de repente no meu coração a maré da vida. Cada lágrima que me escorre por vezes pela cara ao adormecer, cada aperto de angústia na garganta que sinto quando acordo de manhã e me lembro de que tenho cancro, cada assomo de tristeza que me obriga a sentar-me por vezes à beira do caminho quando vou passear com os cães e interrompe a oração ou a conversa com o céu que me embalava o espírito, cada um destes sinais provém do falhanço momentâneo do amor dos outros em amparar-me, e sobretudo do meu em permitir-lhes que me acompanhem.
Quando, pelo contrário, decorre um dia em que consigo escrever e gosto daquilo que escrevo, em que me curvo sobre os canteiros para cortar ervas daninhas, em que admiro amorosamente a energia da Patrícia sentada ao computador ou a trazer lenha para casa, quando isto sucede, o meu tempo já não é o Tempo Comum mas antes um longo domingo de Páscoa: sinto a presença amorosa de todos os que precisam de mim e d’Aquele de quem eu preciso.
O médico homeopata nunca me prometeu um milagre, e a minha saúde começou a piorar em Janeiro de 2014, cerca de um ano e meio depois do diagnóstico oncológico. Pouca coisa, ao princípio: algumas dores no pescoço, na cabeça e na garganta, mais cansaço, problemas intestinais. Pouco a pouco, desapareceram ou tornaram-se-me impossíveis, um por um, todos os prazeres físicos de cujo timbre e tom já quase me esqueci: o sexo, beber um copo de vinho tinto antes do jantar, fazer uma viagem com mais de duas ou três horas, o gosto da comida sólida a percorrer-me o interior da garganta com os seus variados sabores e texturas, uma corrida com os miúdos ou os cães.
Houve semanas piores, outras melhores, mas o tumor do meu pescoço foi crescendo, rebentou como um pequeno vulcão de pus, e ficou pouco a pouco com um aspecto tão abominável que deixei de aguentar ser eu a mudar o penso todas as manhãs. O terrível panorama estragava-me o dia e a melancólica e repugnante tarefa de cuidar do tumor ficou adstrita à Patrícia, que sabe fazer tudo e não tem nojo de nada. Mais tarde, alternando com ela, começaram a vir regularmente a minha casa as enfermeiras dos serviços continuados de saúde.
E, de repente, ia morrendo: uma grande hemorragia despertou-me a meio de uma noite de Julho de 2014, encharcado no sangue que brotava de uma veia que o tumor do meu pescoço pôs a descoberto e enfraqueceu. Desmaiei imediatamente e a Patrícia, não conseguindo ao princípio acordar-me, pensou que tudo estava acabado.
Ganhei depois, com lentidão e a custo, uma relativa saúde. Passei dias inteiros deitado. Depois, devagarinho, melhorei. Uma nova hemorragia, em Dezembro, embora não tenha atingido a violência da anterior, obrigou-me a considerar uma transfusão de sangue que fiz num hospital que estava, como quase todos nessa época, mergulhado num tal caos que passei um dia simultaneamente divertido e ofendido a observar a desordem que grassava à minha volta.
As duas perdas de sangue fizeram pender a balança para o lado da minha morte interior: regressei à melancolia com que me sentava à sua cabeceira conversando com ela nas duríssimas semanas do Verão de 2012 que se seguiram ao veredicto do cancro. Como é que vou morrer? Exactamente como?, perguntava-lhe.
Não me referia à chamada morte natural, que nunca me tinha ocorrido desde o primeiro dia da doença. Falava da morte infligida por mim próprio.
Entretanto, porém, o cristianismo, que estava quase esquecido desde o meu baptismo, irrompeu pela minha vida através da palavra de um Padre que é outra peça-chave do puzzle, mas desta vez, e ao invés do psicanalista, do puzzle do meu encontro feliz com a morte.
O suicídio é uma ofensa frontal à vontade de Deus que quer que a morte de cada cristão seja a sua disponibilidade para de se entregar à Cruz no momento em que Cristo quiser e da maneira que Ele decidir. Mas eu e a Patrícia tínhamos jurado que eu morrerei aqui, em minha casa, e que nada me fará embarcar no carnaval de luzes da ambulância para ir morrer a um hospital. Esse juramento mantém-se.
Tomámos esta decisão mal tínhamos saído do parque de estacionamento da clínica onde fiz a TAC e ouvi o diagnóstico. No meu espírito doente, a morte celebrava jubilosamente a vitória desse momento e era-me tão impossível controlar ou combater este sentimento como invocar a luz da esperança, encolhida num canto de mim como um miúdo paralisado de terror. Enquanto regressávamos a casa, eu pensava na dificuldade e nos riscos envolvidos no modo como morreu o meu irmão, pensava no salto de uma ponte, pensava na agonia do veneno, na ignorância sobre medicamentos letais, mas sobretudo no facto de que todos estes caminhos da morte ainda concedem ao suicida o tempo suficiente para se arrepender, precisamente aquilo que eu não queria na altura, mergulhado num tumulto mental que julgava mais voluntário e corajoso do que de facto era.
Experimentei por vezes os movimentos da dramatização da minha morte, uma espécie de novela sem invenção e sem vida cujo maior óbice era o de saber se, na altura definitiva, teria a certeza absoluta de não haver outra solução. Conseguiria deitar fora como se fossem trocos sem valor os restos de vida que continuam a cintilar dentro de mim? E se me enganasse? Se não fossem meros desperdícios? Se valessem mais do que a escuridão silenciosa do túmulo onde vou apodrecer?
Aquando da segunda hemorragia, cheguei-me muito próximo de encontrar uma resposta sem alternativa a estas questões. Depois de fechar os cães e de me despedir brevemente da Patrícia, sufocada de pavor e lágrimas, ajoelhada no chão sem conseguir olhar para mim, saí de casa transportando a arma e uma cadeira de plástico onde me sentar com a coronha da arma apoiada no solo. Quase não tinha forças e tremiam-me as pernas. A minha camisa estava empapada em sangue e, tendo passado a mão pela cara e os óculos, vi as árvores, os arbustos, a casa das ferramentas e do tractor, a encosta, a vinha, através de um nevoeiro vermelho. A decisão com que, apesar da fraqueza física, andei sem hesitar algumas dezenas de passos, surpreendeu-me a mim mesmo. Pronto, ia morrer. Aspirei o cheiro intenso, quase ridente, de uma hortelã-pimenta que nascera ao pé do pinheiro grande sem que, até então, alguém tivesse dado por ela. Coloquei a cadeira junto a uns troncos cortados, sentei-me e, já com os canos da arma na boca, o dedo aflorou o gatilho. Senti o metal como uma coisa sem qualidade, cálida, mortiça, dócil. Tudo me pareceu vagamente ridículo, o meu gesto, os objectos de que me rodeara. Veio até mim mais uma vez o cheiro da hortelã. Ergui os olhos que tinha fixados na guarda do gatilho e vi um pinhal que o sol, através de uma abertura nas nuvens, isolava, dourado, do verde-escuro da encosta. Ocorreu-me de repente uma vaga de alegria inexplicável, como se fosse um sinal da presença de Deus à semelhança daqueles que os textos sagrados referem por vezes. Cheguei à mais simples conclusão do mundo: estava vivo e, enquanto assim estivesse, não estava morto. Fiquei verdadeiramente contente, a vida a fervilhar em todas as veias, mesmo as estragadas. Pousei a arma no chão e regressei a casa. Não olhei para trás, para a cadeira branca e a arma, que ficaram ali completamente indiferentes à minha sorte. Ao abrir a porta, a Patrícia, sem conseguir dominar a torrente de lágrimas que lhe corria pelo rosto, caiu-me nos braços. Ficámos muito tempo agarrados um ao outro, quase imóveis, como se fôssemos o tronco de uma grande árvore.
Não há muito mais a contar. A saúde vai piorando pé ante pé.
Deixei para trás a ideia de suicídio por uma razão muito simples que levou demasiado tempo a descobrir. Ei-la nas palavras que Mateus atribui a Cristo (Mt 10, 39), palavras que iluminaram como um relâmpago – e finalmente resolveram no meu coração – a maneira hesitante como lidei com o sofrimento nestes mais de mil dias:
“Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la”.
S. Domingos, Podentes, 10 de Abril de 2015
Paulo Varela Gomes,
sexta-feira, 29 de abril de 2016
VIAGEM ATÉ À RÚSSIA DE PUTIN
VIAGEM ATÉ À RÚSSIA DE PUTIN
Hoje acordei cedo e bem-disposto pois dias de sol para mim são uma cura do spleen.
Apetecia-me pegar no carro e ir por aí a fora, atravessar fronteiras e passarinhar por diversos países. Tomaria estradas secundárias e visitaria pueblos em Espanha e comeria em tasquinhas celebradas e depois em França ficaria em auberges do caminho e apreciaria a boa table de la campagne.
Hoje acordei cedo e bem-disposto pois dias de sol para mim são uma cura do spleen.
Apetecia-me pegar no carro e ir por aí a fora, atravessar fronteiras e passarinhar por diversos países. Tomaria estradas secundárias e visitaria pueblos em Espanha e comeria em tasquinhas celebradas e depois em França ficaria em auberges do caminho e apreciaria a boa table de la campagne.
Ao entrar Europa a dentro só pararia no Kremlin aonde iria propor alguns negócios ao meu amigo Putin.
Os líderes da Europa não percebem que ele o que quer é um afago de vez em quando, ser visto nos areópagos das capitais conhecidas, em pândegas com os Chefes de Estado (tudo pago por ele) e deixá-lo ter rédea solta para resolver chatices em países maçadores…vai tudo a eito e nós é só depois candidatar-nos com algumas empresas patrocinadas por ele, para a reconstrução da Síria, do Iraque, do Yémen…só entrar carcanhóis.
É um pouco isso que lhe vou propor e já agora que comece a varrer também alguns ditadores de países da América Latina, do Sul e da África…estratégia global.
Recebe-me sempre como um tsar com caviar, vodka, bailarinas que dançam ao som dos barqueiros do Volga..um encanto.
Mas enfim, tenho que fazer na 2ªfeira por isso, não dá para estas duas semanas, mas fica o plano na minha cabeça.
Os líderes da Europa não percebem que ele o que quer é um afago de vez em quando, ser visto nos areópagos das capitais conhecidas, em pândegas com os Chefes de Estado (tudo pago por ele) e deixá-lo ter rédea solta para resolver chatices em países maçadores…vai tudo a eito e nós é só depois candidatar-nos com algumas empresas patrocinadas por ele, para a reconstrução da Síria, do Iraque, do Yémen…só entrar carcanhóis.
É um pouco isso que lhe vou propor e já agora que comece a varrer também alguns ditadores de países da América Latina, do Sul e da África…estratégia global.
Recebe-me sempre como um tsar com caviar, vodka, bailarinas que dançam ao som dos barqueiros do Volga..um encanto.
Mas enfim, tenho que fazer na 2ªfeira por isso, não dá para estas duas semanas, mas fica o plano na minha cabeça.
domingo, 24 de abril de 2016
Absurdistão
Muita coisa mudou e muitos portugueses passaram a ter vidas mais equitativas. Uma das coisas que mudou radicalmente foi a liberdade e isso foi muito bom. De resto e sem dizer mal do meu País, há muito absurdo na vida política e por isso o epíteto é apropriado, mas tinha que fazer esta ressalva.
a cup of tea
In Ireland, you go to someone's house, and she asks you if you want a
cup of tea. You say no, thank you, you're really just fine. She asks if
you're sure. You say of course you're sure, really, you don't need a thing. Except they pronounce it ting. You don't need a ting.
Well, she says then, I was going to get myself some anyway, so it would
be no trouble. Ah, you say, well, if you were going to get yourself
some, I wouldn't mind a spot of tea, at that, so long as it's no trouble
and I can give you a hand in the kitchen. Then you go through the whole
thing all over again until you both end up in the kitchen drinking tea
and chatting.
In America, someone asks you if you want a cup of tea, you say no, and then you don't get any damned tea.
I liked the Irish way better.
In America, someone asks you if you want a cup of tea, you say no, and then you don't get any damned tea.
I liked the Irish way better.
É mesmo porreiro o amor
É mesmo porreiro o amor
Que maçada, estou sem inspiração
Fazer poesia é entregar-se à imaginação
Que bom ler um bom livro, ouvir música que nos invade
Dias bons e maus, momentos de sofrimento e incómodo
Outros, pequenos, de alguma calma e as cores ficam logo mais vivas.
O drama são as pessoas más, indiferentes, indolentes, invejosas
Maledicentes, complicadas, orgulhosas e arrogantes, estúpidas,
ignorantes.
Tantas coisas a nos preocuparem, a crise, a guerra, os refugiados, o
desemprego.
Esta crónica diária de más notícias, umas atrás das outras, nas ruas,
nos jornais, nos telejornais
Nas bocas das pessoas, na cabeça dos cidadãos que ouvem teses sobre o
défice e sobre o Pib, muitas delas sem saber quem são tais sujeitas, pelas quais têm já um
ódio de morte pois recebem menos salário, têm vidas parcas, desinteressantes,
sem prazeres mínimos.
Vê-se gente morrer todos os dias, de morte violenta, de morte natural,
chora-se e outras vezes finge-se, a maior parte das vezes fica-se
indiferente. Há uma secreta repulsa da morte, das doenças, do momento, como
chega com a foice, devagar para nos buscar. Depois a vida continua no dia seguinte,
com chuva ou sol, compras, praia no Verão, emprego rotineiro, chefes chatos,
trabalho de merda, rendimento mensal insuficiente.
Tal como o sexo, contam-se muitas aventuras sobre a felicidade, que sim
e que tal e que é porreira, mas se olharmos para o suco que sai do copo do seu
sumo, pingam umas gotas parcas, e às vezes até amargas. Famílias disfuncionais,
casais desavindos, cansados de se respeitarem, vidas cheias de azedume.
Mudar de mulher ou de homem, que chatice: na casa-de-banho o copo dos dentes sempre ficou do lado direito, agora muda de sítio, o cabelo de manhã ao acordar é medonho, para quê mudar. Tudo igual, corpo e sexo, umas vezes, poucas, melhor, temporariamente até à rotina das posições, das experiências novas, o pobre seminarista cuja posição é considerada clássica para o acto de amor, tudo tem limites…o barulho que fazem, as manias, as taras, justificam lá a mudança para o agora é que é. E isto é o mesmo para hétero e homo e lesbo e até entre animais não racionais. É o cio, gente. Mesmo a tesão tem prazos e tempos, o resto é patranha. “Estive em cima dela 4 horas”, dizia um colega de liceu, o Aníbal Zé, e nós ficávamos suspensos, até que ele acrescentava “ levei um saco de pevides e depois de descascar com os dentes a casca, cuspia para o chão”…estranho amor este, pensava, pelo menos eu. Pevides e sexo é muito rasca…lembrei-me de Versailles com a Madame de Pompadour, o Rei tinha requintes, apesar de se saber que eram pouco asseados e não tomavam banho…o que me deu para falar nestas minudências!
Mudar de mulher ou de homem, que chatice: na casa-de-banho o copo dos dentes sempre ficou do lado direito, agora muda de sítio, o cabelo de manhã ao acordar é medonho, para quê mudar. Tudo igual, corpo e sexo, umas vezes, poucas, melhor, temporariamente até à rotina das posições, das experiências novas, o pobre seminarista cuja posição é considerada clássica para o acto de amor, tudo tem limites…o barulho que fazem, as manias, as taras, justificam lá a mudança para o agora é que é. E isto é o mesmo para hétero e homo e lesbo e até entre animais não racionais. É o cio, gente. Mesmo a tesão tem prazos e tempos, o resto é patranha. “Estive em cima dela 4 horas”, dizia um colega de liceu, o Aníbal Zé, e nós ficávamos suspensos, até que ele acrescentava “ levei um saco de pevides e depois de descascar com os dentes a casca, cuspia para o chão”…estranho amor este, pensava, pelo menos eu. Pevides e sexo é muito rasca…lembrei-me de Versailles com a Madame de Pompadour, o Rei tinha requintes, apesar de se saber que eram pouco asseados e não tomavam banho…o que me deu para falar nestas minudências!
Acho que o mais importante é mesmo ser-se sorridente, simples, bondoso,
calmo e ir gozando a vida como ela se nos apresenta. Cada dia é um dia. Como
dizia o outro, por acaso eu, quando for desta para melhor, sabe-se lá, vou com
o papinho cheio.
Fim. Há quem se sinta feliz sozinho. Oiço cada vez mais teses, mas é tão
bom dar a mão, fazer festas de mansinho, entrelaçar os dedos, trocar olhares em
silêncio, agarrar o corpo, estreitar os corpos, pouco a pouco procurar os
sítios de prazer. Não me venham com tretas, é mesmo porreiro!
sábado, 23 de abril de 2016
Viver é despedir-nos um pouco de nós mesmos
Viver é despedir-nos um pouco de nós mesmos
Essa vida é mesmo surpreendente. Em uma única existência somos capazes de viver e sobreviver a diversas fases, sob a sorte e a falta dela que nos unge os dias. De uma forma concisa eu poderia dizer que viver é uma sucessão de erros e acertos, de tropeços e saltos, afogamentos, resgates, onde só desfrutamos e valoramos as subidas depois que despencamos ladeira abaixo. E como toda história tem dois lados, na vida não poderia ser diferente. A gente só percebe a vitória e a derrota quando estamos no topo, ou no poço.
Acredito que nós, seres humanos, somos providos de uma força sobre-humana para aguentar tanta pedrada que a vivência insiste em mandar. É incrível a nossa capacidade de cair e levantar, de reformular por dentro, sangrar e estancar, ressurgir. Somos feitos de partículas de persistência, átomos de dedicação, moléculas de crença, células de esperança. Quanto mais nos entregamos e mergulhamos em nossos motivos, mais reforçamos o nosso propósito de viver. Acontece que, vez ou outra, vem uma paulada pelas costas, um tombo violento e esparramado, uma bala perdida que nos encontra na escuridão. Então morremos. Para, depois, nascermos de novo.
A vida é cheia de ciclos… E para começar um é preciso encerrar o outro. Por isso morremos tantas vezes durante tantos anos. A prova viva da morte está no fim cruciante de um relacionamento amoroso, no vazio assustador do abandono físico, na escassez de alguém ali, que nos ame, ou que ao menos nos suporte. Está na falta de emprego e perspectiva, na despensa vazia, na ordem de despejo, na saúde fragilizada e apavorada, na despedida de uma alma querida. Quando perdemos tudo, o que nos resta é recomeçar do nada. Precisamos morrer para renascer, assim como o mito da Fênix, que antes da sua morte entrava em combustão para depois renascer das próprias cinzas. Somos assim. Aves tão fortes que conseguimos carregar elefantes. Nossas lágrimas não só expelem alívio, como também têm o poder de cura.
A verdade é que os golpes da vida nunca são gentis, muito menos educados ao ponto de anunciar a chegada. Ao lançar-nos no chão parece que um buraco se abre e nos engole, mastiga, degusta e então, cospe. Do que sobra de nós é preciso dar forma e pôr de pé. Morre um para nascer outro, indiscutivelmente mais resistente. Desse jeito, toda vez que recebemos uma pancada desnorteante nos despedimos de um pouco de nós, um fio de esperança se perde, um bocado de confiança vaza, um tanto de boa fé escorre. É possível que nos recuperemos adiante, embora algumas vezes isso não aconteça. Morremos.
Como a Fênix, cessamos em nossa autocremação de dores, de ódio, indignação e sensação de incapacidade, um mistura de venenos que nos corrói e nos traz de volta à terra. É com base na junção de algumas mortes passadas e futuras vidas que eu digo: Deve-se cortar para florescer, é preciso morrer para voltar a viver.
Então, do pó ressurgimos, amedrontados, cambaleando, abrindo os olhos e as asas, sacudindo a poeira. Enchemos o pulmão de ar para arriscar um primeiro voo, ainda contido e baixo, mas consumidos de uma força maior acreditada em nossas capacidades e virtudes. Aos poucos, nos enchemos de esperança e de coragem para alçar novas manobras e riscar outros horizontes.
Não adianta. A nossa força oriunda das quedas. É por isso que as feridas são imprescindíveis para o crescimento, por mais que nos regalem certa rigidez ao casco. É a capacidade de recomeçar dentro de nós mesmos que nos permite viver outra vez. Somente dessa forma recuperamos a nossa vida.
Quando a alegria decorrer em tristeza, quando a leveza se transformar em pesar, é o momento de desprender-se outra vez. E outra, e outra, e outra. Quantas forem necessárias. Em busca da felicidade vamos, endurecendo-nos, mas sem perder a ternura. Jamais.
Karen Curi
Tudo passa… até mesmo o amor. Viver é recomeçar
Um dia a porta da sua alma se fechou. Sua música parou de tocar. Você
olhava pela janela enquanto o amor te deixava. Pode ir, você disse,
e jurou que nunca mais sentiria essa dor. Espalhado pela casa com os
cacos do seu coração, a última coisa que você queria era amar outra vez.
Rejuntar estilhaços até se fortalecer de novo é um processo que leva tempo, e a duração desse tempo é muito pessoal, assim como o tamanho da dor que cada um carrega. É como se você ainda vivesse, seus órgãos e sistemas do corpo funcionam, você respira, mas falta algo. Falta vida no robô que rejunta as suas peças.
Foi assim, com muito esforço e angústias, que você tropeçou em seus próprios pés para reaprender a andar. Iluminou seus passos com seu brilho esmorecido. Mas você nunca parou, nunca desistiu. Não sabia o que ia encontrar lá na frente, somente sabia que era para lá que tinha que ir. Nem sempre você achava aquilo que procurava. Algumas vezes, acabou encontrando quem nunca imaginaria encontrar. Outras vezes, você mesmo foi atrás de pessoas queridas que dormiam nas suas lembranças. Por fim, você achou a sua imagem que se escondia atrás do espelho.
E agora você está aqui, sentindo-se inteiro. Você voltou a brilhar, a pulsar! Está batendo suas asas pelo mundo novo que deseja conhecer. Porém, mesmo no auge de suas mais novas descobertas e da confiança de um dia melhor que o outro, vira e mexe, você tem medo.
O medo sopra pela fresta da porta do seu quarto à noite, em seu silêncio secreto. Mas não é aquele pavor ao se deparar sozinho na plataforma de embarque rumo a um país desconhecido. E nem de ter outra cólica renal ou levar uma bronca do chefe. Isso tudo você encara. A coisa toda complica quando não se encontra o sentido das coisas ao fim desses dias longos e incertos, quando o cansaço penetra pelos poros a ponto de derreter a pessoa por dentro. Quando se cai em uma rotina mecânica de acordar, trabalhar, reclamar, pagar as contas e fazer parte da massa de conformados cidadãos inconformados desse mundo louco.
Esse mundo que te obriga a assistir gente ser decapitada e queimada viva. O medo de sair de casa e ser assaltado no trânsito, e, por isso, ficar com receio de abrir a janela do carro para dar um trocado ao pedinte que parece doente. A falta de vergonha na cara de políticos que zombam da sua inteligência. O medo de pegar dengue. A espera ansiosa pela chuva para encher rios e sentimentos.
No meio disso tudo é que se descobre que fazer-se completo dá um trabalho danado. E por mais que você saiba que esse seja um processo lento e interminável, e que você esteja focado em procurar a felicidade na sua jornada e não em seu destino, nestas horas de silêncio no seu quarto à noite acontece o imprevisto.
Nesse fluxo da vida que segue, entre as dores e as curas, revisitando tristezas e alegrias, como um dia nublado, quando menos se espera, ela chega. Toca a campainha da saudade, abre a porta da ausência e te abraça apertado. Ela não foi convidada, mas mesmo assim a solidão vem e fica por um tempo.
Ser feliz sozinho é fácil, difícil é ficar triste na solidão. Especulando que o amor não é algo tão fácil assim de ser encontrado, como se vê nos filmes e livros de romances, você se lembra de Rubem Alves, “Temos uma capacidade quase infinita de suportar a dor, desde que haja esperança”.
É nesse pressentimento que o peito ardido encanta o silêncio, atravessa a madrugada fria e amanhece na alegria. E encontra a esperança, com seus olhos de menina, equilibrando-se entre o inferno e o céu, pulando amarelinha na poesia. Ela joga uma pedrinha e te convida para brincar, enquanto esperam pelo amor, o seu novo amor que já vai chegar.
Porque frio, medo e tristeza, passam. Dor também passa. Até amor que foi embora passa. Só não passa a vontade de amar outra vez.
Então sua música volta a tocar e você sonha com Vinicius de Moraes: “a maior solidão é a do ser que não ama”.
Rebeca Bedone
Rejuntar estilhaços até se fortalecer de novo é um processo que leva tempo, e a duração desse tempo é muito pessoal, assim como o tamanho da dor que cada um carrega. É como se você ainda vivesse, seus órgãos e sistemas do corpo funcionam, você respira, mas falta algo. Falta vida no robô que rejunta as suas peças.
Foi assim, com muito esforço e angústias, que você tropeçou em seus próprios pés para reaprender a andar. Iluminou seus passos com seu brilho esmorecido. Mas você nunca parou, nunca desistiu. Não sabia o que ia encontrar lá na frente, somente sabia que era para lá que tinha que ir. Nem sempre você achava aquilo que procurava. Algumas vezes, acabou encontrando quem nunca imaginaria encontrar. Outras vezes, você mesmo foi atrás de pessoas queridas que dormiam nas suas lembranças. Por fim, você achou a sua imagem que se escondia atrás do espelho.
E agora você está aqui, sentindo-se inteiro. Você voltou a brilhar, a pulsar! Está batendo suas asas pelo mundo novo que deseja conhecer. Porém, mesmo no auge de suas mais novas descobertas e da confiança de um dia melhor que o outro, vira e mexe, você tem medo.
O medo sopra pela fresta da porta do seu quarto à noite, em seu silêncio secreto. Mas não é aquele pavor ao se deparar sozinho na plataforma de embarque rumo a um país desconhecido. E nem de ter outra cólica renal ou levar uma bronca do chefe. Isso tudo você encara. A coisa toda complica quando não se encontra o sentido das coisas ao fim desses dias longos e incertos, quando o cansaço penetra pelos poros a ponto de derreter a pessoa por dentro. Quando se cai em uma rotina mecânica de acordar, trabalhar, reclamar, pagar as contas e fazer parte da massa de conformados cidadãos inconformados desse mundo louco.
Esse mundo que te obriga a assistir gente ser decapitada e queimada viva. O medo de sair de casa e ser assaltado no trânsito, e, por isso, ficar com receio de abrir a janela do carro para dar um trocado ao pedinte que parece doente. A falta de vergonha na cara de políticos que zombam da sua inteligência. O medo de pegar dengue. A espera ansiosa pela chuva para encher rios e sentimentos.
No meio disso tudo é que se descobre que fazer-se completo dá um trabalho danado. E por mais que você saiba que esse seja um processo lento e interminável, e que você esteja focado em procurar a felicidade na sua jornada e não em seu destino, nestas horas de silêncio no seu quarto à noite acontece o imprevisto.
Nesse fluxo da vida que segue, entre as dores e as curas, revisitando tristezas e alegrias, como um dia nublado, quando menos se espera, ela chega. Toca a campainha da saudade, abre a porta da ausência e te abraça apertado. Ela não foi convidada, mas mesmo assim a solidão vem e fica por um tempo.
Ser feliz sozinho é fácil, difícil é ficar triste na solidão. Especulando que o amor não é algo tão fácil assim de ser encontrado, como se vê nos filmes e livros de romances, você se lembra de Rubem Alves, “Temos uma capacidade quase infinita de suportar a dor, desde que haja esperança”.
É nesse pressentimento que o peito ardido encanta o silêncio, atravessa a madrugada fria e amanhece na alegria. E encontra a esperança, com seus olhos de menina, equilibrando-se entre o inferno e o céu, pulando amarelinha na poesia. Ela joga uma pedrinha e te convida para brincar, enquanto esperam pelo amor, o seu novo amor que já vai chegar.
Porque frio, medo e tristeza, passam. Dor também passa. Até amor que foi embora passa. Só não passa a vontade de amar outra vez.
Então sua música volta a tocar e você sonha com Vinicius de Moraes: “a maior solidão é a do ser que não ama”.
Rebeca Bedone
sexta-feira, 15 de abril de 2016
O EXEMPLO
Archiduc Josef-Arpad von Habsbourg-Lotharingen
Biographie
Naissance 8 février 1933 (83 ans)
Budapest
Nationalité Hongrois
Père Joseph-François de Habsbourg-Hongrie
Mère Anne de Saxe
Distinction Chevalier de l'ordre de la Toison d'or
Joseph-Arpad de Habsbourg-Hongrie, prince palatin de Hongrie, né le 8 février 1933 à Budapest.
Au décès de son père le 25 septembre 1957, l'archiduc Joseph-Arpad de Habsbourg-Lorraine devint le chef de la Maison palatine de Hongrie. Il sortit diplômé de l'université de Lisbonne au Portugal et possède un baccalauréat en Sciences économiques.
Fils de Joseph-François de Habsbourg-Hongrie et de Anne de Saxe.
Le 12 septembre 1956, à Brombach, il épousa la Princesse Marie de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg (1935), fille du prince Karl VIII zu Löwenstein-Wertheim-Rosenberg et de la Princesse Carolina dei Conti Rigon.
Fui visitá-lo hoje a uma enfermaria do Hospital de Santa Marta.
Tinham-me dito há dias que tinha cortado uma perna por incúria do Hospital de Cascais para aonde foi de urgência e aonde teve que esperar 10h sem ser atendido. Apercebendo-se da gravidade do estado alguém acabou por enviá-lo para o Hospital de Santa Marta em Lisboa, aonde durante a operação foi constatada a inevitabilidade do corte da perna direita.
O Josef, José ou Jugi conheci-o através do Jorge e da Raquel Herédia. Tem 83 anos e portanto muito mais velho do que eu. Tinha andado no S.João de Brito com o Jorge Herédia. Os Pais tiveram que se exilar em Portugal devido à guerra.
Mais tarde o filho mais velho trabalhou comigo num projecto de ouro na Serra Leôa. Isso é outra história. Somos amigos de toda a Família.
Resolvi por isso ir visitá-lo não só porque fiquei chocado com a notícia mas porque sabia que iria trazer de lá um EXEMPLO, que serviu de título ao meu texto.
Deitado numa cama de uma enfermaria de um hospital público, quando eu me aproximei, dormitava. Abriu os olhos e veio de lá um grande sorriso. Muito arranjadinho, soergueu-se e estendeu-me a mão. Apontou para o lado direito e disse-me: - foi-se! Com um ar tranquilo e resignado como se estivesse a tratar de assunto insignificante!
Contou-me as peripécias de que vos poupo a descrição por indignantes e que infelizmente vão acontecendo com alguma frequência, e depois de ter esgotado o assunto, passou serenamente a falar de outros assuntos.
Falou-me da família e dos netos e da Maria, que entretanto chegou de andarilho e movendo-se com dificuldade, mas que embora morando no Estoril sózinha, agora, não prescinde de o vir acompanhar todos os dias.
Dizem-me os dois: - olha eu isto da coluna, é hereditário e ri-se com um grande sorriso a Maria, ofegante, cheia de tralha que trazia nas mãos atarefada em empurrar o andarilho aonde se apoia e ele acrescentando que as suas maleitas de más veias também é de família.
Levei-lhe um livro de que gostei muito há anos e que me fez muito bem. “O caminho menos percorrido” e que apreciou muito pelo título, desde logo.
Mostrou-me um outro que estava a ler e que se chamava “« LA VIEILLESSE, UN ÉMERVEILLEMENT » e de repente os dois citam-me frases do livro em que netos, que eles têm ás grosas, dizem coisas lindas aos Avós.
E a conversa fluía depois sobre a casa deles do Estoril que tão bem conheço, acrescentando eu que talvez fosse um problema agora em que teria mais dificuldade em subir escadas – qual quê, há soluções para não a largarmos pois uma vez por ano, os filhos e os netos vêm de todas as partes do mundo a Portugal aonde nasceram e cresceram e não prescindem desta reunião familiar.
Mas digo eu, não será egoísmo dos filhos sugerirem para ficarem com ela só para um mês nas férias? Poderão vendê-la a bom preço pelo tamanho e situação excelente e quando vierem todos cá no Verão, sendo os filhos mais novos e com bons empregos poderão sempre alugar uma casa por um mês e durante o resto do tempo, eles os dois poderão ir viver para Viena ou Munique ou mesmo Hungria e estarem mais perto dos filhos?
Não pensam verdadeiramente neles. Contou-me que um ano, tendo alugado a casa ao Director da Siemens em Portugal, tinham estabelecido uma cláusula em que durante Agosto e Setembro, a casa ficava vazia para os filhos e eles poderem passar dois meses de férias.
O Director ignorou totalmente o acordo e a Família foi acampar com filhos e netos para uma tenda grande em S.Pedro de Sintra!
Comentário dele : esteve sempre bom tempo e correu tudo muito bem e estávamos todos contentes de estar juntos.
Durou uma hora e meia a visita e não falámos mais da perna amputada e do perigo de se seguir a outra. Entretanto chegou uma amiga húngara e eu vim-me embora.
Pela Avenida da Liberdade acima pensava cá com os meus botões: tanta gente convencida de que só com cartões de seguros de saúde de luxo ou em Clínicas ou Hospitais conhecidos é que seriam capazes de estar e em quartos individuais…eles numa enfermaria, pois é o que podem, e nem pensam no assunto.
Falaram-me na aceitação e resignação do que lhes acontecia sem amarguras grandes nem queixas. Naturalmente, creio, que não lhes saberá bem passarem por estes apertos, mas a imagem para os de fora é de ânimo, boa disposição e sem lamúrias.
Depois lembro-me das suas aventuras: um motoqueiro de motos pesadas, passeando-se por toda a Europa e resto do mundo. Um profissional sério, enganado por muitos pretensos amigos que se aproveitaram da sua bondade e desapego ao dinheiro.
Contava-me que tinha ido de moto há uns anos a Espanha com um dos filhos e que estando a fazer companhia numa caçada no meio do nada com vários parentes e amigos , teve uma dor forte e de repente ficou sem ar e sem conseguir respirar. Ele não tinha ido para a caçada mas sim e só pela companhia e pela viagem de moto e passeio.
Tendo ficado sozinho numa tenda, pensou que se não respirasse morreria e não havia ninguém para o socorrer nem hospitais ao perto. Disse-me que instintivamente começou a provocar, ainda que com imensas dores no peito, a respiração e com uma toalha esfregava as costas e fazia caminhadas obrigando os pulmões a trabalhar. Passou nisto toda a noite e de manhã estava melhor e já conseguia respirar com mais facilidade. Pegou na moto e regressou a casa em Portugal. Continuou a ter algumas dores e quando foi ao médico este disse-lhe que tinha tido uma embolia pulmonar e que se tinha safo, não sabia o médico como…
E nós, com os “Panama papers”, e o Costa, e o desejo de ganhar dinheiro e envolver-nos em negócios com stress, numa voragem que nos consome a vida sem olhar para o lado.
Tenho as ideias muito claras sobre o EXEMPLO que ele me deu hoje: de serenidade, de alegria e de concentração em coisas tão mais importantes do que só nós próprios.
De brincadeira falei-lhe de um asteróide que se teme em breve colida com a terra e que tudo destrua.
Riu-se e disse-me que há uns meses tinha numa noite sonhado com um regresso ao Estoril vindo do Estrangeiro e estava tudo deserto, a casa dele tinha desaparecido e havia um monte de terra que tinha em cima uns vestígios que ele reconheceu serem da sua moto.! E riu-se de novo.
Quando a amiga húngara idosa e simpática chegou, a Maria com preocupação, tinha-lhe antes tapado o lado sem perna com uma manta pois podia impressionar a visitante.
Bem, convido-os a visitar os vossos familiares, amigos e pessoas que apreciam conversar e sobretudo serem acompanhados.
Vem-se de lá sempre com alguma coisa que nos ensinam ou nos faz reflectir.
AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS
AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS
É verdade, vivo num tempo de sombras!
Uma palavra dita sem malícia
é sinal de tolice.
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Ri quem
Ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, em que
Falar sobre árvores é quase um crime
Pois significa guardar silêncio sobre tanta injustiça?
Aquele que atravessa a rua tranquilo
Já está inacessível aos amigos
Que passam necessidades?
É verdade: eu ainda ganho o suficiente para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que faço
Me dá o direito de comer quando tenho fome.
Estou a ser poupado por acaso.
(Se a minha sorte me abandonar estou perdido.)
Há quem me diga: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que eu posso comer e beber
Se a comida que como é tirada a quem tem fome?
Se a água que bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas mesmo assim, como e bebo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Se conseguir manter-me afastado dos conflitos do mundo
E atravessar sem medo
O curto tempo que se tem para viver;
Seguir caminho sem violência;
Pagar o mal com o bem;
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim!
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem
Quando a fome reinava.
Eu cheguei ao convívio dos homens no tempo da revolta
E foi ao lado deles que me revoltei.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas.
Para dormir, deitei-me entre assassinos.
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a Natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
No meu tempo as ruas conduziam ao lodo,
E as palavras denunciavam-me ao carrasco.
Eu podia muito pouco, mas o poder dos patrões
Era mais seguro sem mim, espero.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
As forças eram limitadas.
O objectivo permanecia muito distante.
Era visível com nitidez, mas para mim
Quase fora de alcance.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Vós que ireis emergir
Das ondas em que nos afogamos.
Pensai quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios a que tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através das lutas de classes,
Mudando mais de país do que de sapatos,
Desesperados quando só havia injustiça
E não havia revolta.
Sabemos as seguintes coisas:
O ódio contra a baixeza
Também endurece o rosto;
A cólera contra a injustiça
Também faz a voz ficar rouca.
Infelizmente nós,
Que queríamos preparar o terreno para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vós, quando chegar o tempo
Em que o Homem seja amigo do Homem,
Pensai em nós
Com simpatia.
Bertolt Brecht
É verdade, vivo num tempo de sombras!
Uma palavra dita sem malícia
é sinal de tolice.
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Ri quem
Ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, em que
Falar sobre árvores é quase um crime
Pois significa guardar silêncio sobre tanta injustiça?
Aquele que atravessa a rua tranquilo
Já está inacessível aos amigos
Que passam necessidades?
É verdade: eu ainda ganho o suficiente para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que faço
Me dá o direito de comer quando tenho fome.
Estou a ser poupado por acaso.
(Se a minha sorte me abandonar estou perdido.)
Há quem me diga: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que eu posso comer e beber
Se a comida que como é tirada a quem tem fome?
Se a água que bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas mesmo assim, como e bebo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Se conseguir manter-me afastado dos conflitos do mundo
E atravessar sem medo
O curto tempo que se tem para viver;
Seguir caminho sem violência;
Pagar o mal com o bem;
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim!
É verdade, eu vivo num tempo sombrio!
Eu vim para a cidade no tempo da desordem
Quando a fome reinava.
Eu cheguei ao convívio dos homens no tempo da revolta
E foi ao lado deles que me revoltei.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas.
Para dormir, deitei-me entre assassinos.
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a Natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
No meu tempo as ruas conduziam ao lodo,
E as palavras denunciavam-me ao carrasco.
Eu podia muito pouco, mas o poder dos patrões
Era mais seguro sem mim, espero.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
As forças eram limitadas.
O objectivo permanecia muito distante.
Era visível com nitidez, mas para mim
Quase fora de alcance.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a Terra.
Vós que ireis emergir
Das ondas em que nos afogamos.
Pensai quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios a que tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através das lutas de classes,
Mudando mais de país do que de sapatos,
Desesperados quando só havia injustiça
E não havia revolta.
Sabemos as seguintes coisas:
O ódio contra a baixeza
Também endurece o rosto;
A cólera contra a injustiça
Também faz a voz ficar rouca.
Infelizmente nós,
Que queríamos preparar o terreno para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vós, quando chegar o tempo
Em que o Homem seja amigo do Homem,
Pensai em nós
Com simpatia.
Bertolt Brecht
segunda-feira, 11 de abril de 2016
A minha próxima viagem ao Irão
Viagem ao Irão
A minha viagem ao Irão avança e espero fazê-la durante o mês de Maio.
Na sua preparação tenho tido contactos com diversas entidades e é sempre importante ir antecipando as dificuldades que encontrarei, o que é natural, dado que se trata de um país que esteve largo número de anos sem contactos directos com a cultura dos países ocidentais.
É avisado que se faça um esforço para entender a cultura local, e perceber que apesar da recente abertura ser encorajante, ainda não passou o tempo necessário para que se enraizassem ao nível das Autoridades, entidades públicas e privadas bem como o sector financeiro, um conjunto de práticas que são correntes desde há muito nos países, ditos, civilizados.
Esta circunstância não permite que aqueles sectores de actividade, que potencialmente têm bastante futuro, possam ainda ser desenvolvidos para o mercado exterior. Refiro-me, nomeadamente, aos projectos de lazer e de luxo, desejosos de atrair um mercado internacional ávido de novidade e de diferença mas que por razões culturais e de hábitos "religiosos", tornam a abertura, por enquanto impossível.
Creio e espero que chegue o tempo de respeito mútuo total por outros hábitos sem ser obrigatório que uns e outros renunciem aos seus próprios: o que não é aceitável é a imposição de práticas, nomeadamente de vestuário feminino, que jamais serão cumpridas por um mercado estrangeiro apetecível e desejoso de colaborar na reinvenção do Irão, mas sem ter que se vergar a costumes ultrapassados e medievais.
Trata-se, numa palavra, do respeito pela liberdade de cada um.
Há, no entanto, muitos outros sectores de actividade que merecem desde já uma abordagem directa e sem quaisquer obstáculos, exigindo trocas de informações, conversações directas e visitas recorrentes ao país para bem se entender o tecido empresarial do Estado e privado.
Por isso, e a terminar, um novo caminho das pedras se nos propõe para fazermos, mas cimentado por uma cultura milenar e embrionária das nossas. Mais do que motivos para o encetarmos.
Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata
Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata
Deus me livre de ser normal. Cruz credo, Ave Maria três vezes. Ah não, número ímpar, empata a vida. Pé direito, pé esquerdo. Bate na madeira. Pula! Não pisa na linha. Desvia o chinelo, se não sua mãe vai morrer. É, não tem jeito, a gente se deixa dizer por aí. Não há sintoma que aguente ser prisioneiro em nosso inconsciente. A gente sai na palavra trocada, sai desastrado derrubando as coisas no chão. Sai nos tropeções pelas quinas da casa. A gente se confunde e se entende no sim, no não, no é, não é, talvez. Nem sei. Deixa para lá! A gente se esquece nos objectos largados para trás. O que fica é um pedaço nosso no lugar de onde não queríamos ter saído. A gente sai também nos desvarios que sonhamos, na capacidade de imaginar, no alcance dos nossos pensamentos. Se há revolução, podemos sim ser Napoleão, para tirar sarro do desespero. Se tentam nos consertar, podemos convocar Dorothy Gale, curiosa, contestadora — afinal, para que serve um coração? Se tentam amarrar nossos pensamentos, podemos ser Peter Pan. Pensa numa coisa boa que a gente voa. Pensa numa coisa boa. Pensa! E voa mesmo. Eu já vi muita gente voar pensando.
Então olha, não se cure além da conta, já dizia a psiquiatra Nise da Silveira, gente curada demais é gente chata. Gente muito curada é exactamente o que os outros querem que ela seja. Ela é todo mundo, menos ela. É absolutamente, perfeitamente normal.
— Ei, alguém aí pode, por favor, nos curar dessa ideia maluca de sermos normais?
Ora, não se cure de alguns exageros, principalmente o de amar. Não se cure daquele desejo esperançoso de felicidade. Para que curar saudade boa? Não se cure de todas as manias, de todos os medos, de todos os tiques. Não se cure além da conta. Somos todo esse barro amassado, constituído na falta, entre o feito-desfeito. Somos a casa erguida a partir daquilo que nós decidimos fazer do que fizeram connosco. Remendo a remendo, percebe-se que existe algo em nós tentando manter a casa em pé. Portanto, não se cure além da conta, não se cure tanto assim. A casa pode cair!
Não se cure de rir alto, de cantar alto, de sonhar alto. Não apare todas suas arestas. Não apague todos os prejuízos. Não há necessidade de nos curarmos tanto de nós mesmos. Para que tanto juízo? Para que tanto conserto? Não se pinte além da conta, não se obrigue além da conta, além da vida. Mas sim, pague a conta por topar ser exactamente quem se é. Por que curar todos os pensamentos malvados, desvairados? Ninguém é todo Deus ou todo diabo. Você pode parar de artificializar a felicidade se quiser, será que precisamos mesmo de todos esses remédios? O receituário dos dias é categórico: precisamos viver sem tanta contra-indicação.
Se tiver que se curar, se cure da dúvida acerca da vida que leva e na qual não se reconhece. Essa é a dose anti-hipocrisia mais indicada à sobrevivência da espécie de gente feliz. Se cure até a medida de estar em paz, você com você. Nenhuma pílula a mais.
Ruth Borges.
Deus me livre de ser normal. Cruz credo, Ave Maria três vezes. Ah não, número ímpar, empata a vida. Pé direito, pé esquerdo. Bate na madeira. Pula! Não pisa na linha. Desvia o chinelo, se não sua mãe vai morrer. É, não tem jeito, a gente se deixa dizer por aí. Não há sintoma que aguente ser prisioneiro em nosso inconsciente. A gente sai na palavra trocada, sai desastrado derrubando as coisas no chão. Sai nos tropeções pelas quinas da casa. A gente se confunde e se entende no sim, no não, no é, não é, talvez. Nem sei. Deixa para lá! A gente se esquece nos objectos largados para trás. O que fica é um pedaço nosso no lugar de onde não queríamos ter saído. A gente sai também nos desvarios que sonhamos, na capacidade de imaginar, no alcance dos nossos pensamentos. Se há revolução, podemos sim ser Napoleão, para tirar sarro do desespero. Se tentam nos consertar, podemos convocar Dorothy Gale, curiosa, contestadora — afinal, para que serve um coração? Se tentam amarrar nossos pensamentos, podemos ser Peter Pan. Pensa numa coisa boa que a gente voa. Pensa numa coisa boa. Pensa! E voa mesmo. Eu já vi muita gente voar pensando.
Então olha, não se cure além da conta, já dizia a psiquiatra Nise da Silveira, gente curada demais é gente chata. Gente muito curada é exactamente o que os outros querem que ela seja. Ela é todo mundo, menos ela. É absolutamente, perfeitamente normal.
— Ei, alguém aí pode, por favor, nos curar dessa ideia maluca de sermos normais?
Ora, não se cure de alguns exageros, principalmente o de amar. Não se cure daquele desejo esperançoso de felicidade. Para que curar saudade boa? Não se cure de todas as manias, de todos os medos, de todos os tiques. Não se cure além da conta. Somos todo esse barro amassado, constituído na falta, entre o feito-desfeito. Somos a casa erguida a partir daquilo que nós decidimos fazer do que fizeram connosco. Remendo a remendo, percebe-se que existe algo em nós tentando manter a casa em pé. Portanto, não se cure além da conta, não se cure tanto assim. A casa pode cair!
Não se cure de rir alto, de cantar alto, de sonhar alto. Não apare todas suas arestas. Não apague todos os prejuízos. Não há necessidade de nos curarmos tanto de nós mesmos. Para que tanto juízo? Para que tanto conserto? Não se pinte além da conta, não se obrigue além da conta, além da vida. Mas sim, pague a conta por topar ser exactamente quem se é. Por que curar todos os pensamentos malvados, desvairados? Ninguém é todo Deus ou todo diabo. Você pode parar de artificializar a felicidade se quiser, será que precisamos mesmo de todos esses remédios? O receituário dos dias é categórico: precisamos viver sem tanta contra-indicação.
Se tiver que se curar, se cure da dúvida acerca da vida que leva e na qual não se reconhece. Essa é a dose anti-hipocrisia mais indicada à sobrevivência da espécie de gente feliz. Se cure até a medida de estar em paz, você com você. Nenhuma pílula a mais.
Ruth Borges.
sábado, 9 de abril de 2016
Forget mindfulness, stop trying to find yourself and start faking it
People are often surprised to
learn that Confucius, Mencius, Laozi and other classical Chinese philosophers weren’t rigid
traditionalists who taught that our highest good comes from confining ourselves
to social roles.
Nor were they placid wise men
preaching harmonious coexistence with the natural world. Rather, they were
exciting and radical thinkers who exploded the conventions of their society.
They sought to make the world a better place by expanding the scope of human
possibility. The mid-first millennium BC was a similarly turbulent age to our
own, giving rise to debates about how to live, how to be ethical and how to
build a good society. Unlike the philosophers we are more familiar with in the
west, these Chinese thinkers didn’t ask big questions. Theirs was an eminently
pragmatic philosophy, based on deceptively small questions such as: “How are you living your
daily life?” These thinkers emphasised that great change only happens when we
begin with the mundane and doable. Their teachings reveal that many of our most
fundamental assumptions about how we ought to live have actually led us astray.
So what are the ideas we hold dear, and what alternatives do Chinese
philosophers offer in their place?
Stop finding yourself
Our thinkers would be
sceptical of the existence of a true self, especially one you can discover in
the abstract
Here’s one popular assumption: it’s important to look within and discover
who you really are, your true self. Our thinkers would be sceptical of the
existence of a true self, especially one you can discover in the abstract. They
understood that we are multifaceted, messy selves who develop by looking
outward, not inward. Our personalities are formed through everything we do: how
we interact with others, our reactions to things, the activities we pursue. You
don’t behave the same way when speaking to your mother, say, as when dealing
with a junior colleague, your dentist, or a close friend. Each of us is a
complicated being bumping up against other complicated beings all day. Each
encounter draws out different aspects.Who we are consists of behaviour patterns
and emotional ruts we’ve fallen into over time – but that means we also consist
of numerous possibilities of what we can become.
Be inauthentic
We aren’t just who we think we
are, we can work on becoming better people all the time.Once we find ourselves,
the assumption continues, we must embrace and be true to that self. But the
first great philosopher in the Chinese tradition, Confucius, who was born in
the sixth century BCE, would have thought differently. The problem with
authenticity, he’d say, is that it’s not freeing, the way we believe it to be.
Who is that authentic self you think you have discovered really? It’s a snapshot
of you at this one moment in time. If you stay true to that self and allow it
to become your guide, it constrains you. It doesn’t allow for the sort of
growth you experience when you recognise that you are ever-changing.
We flourish when we recognise
our complexity and learn how to work with it through self-cultivation. You
grow, for example, when you understand that you are not a hothead just because
you tend to think of yourself as short-tempered, or shy because you see
yourself as an introvert. Most labels are patterns of behaviour we’ve fallen
into and can be broken. We aren’t just who we think we are, we can work on
becoming better people all the time.
Do rituals
When you smile as if you’re
not angry, or bite your tongue instead of lashing out you are faking it –
acting more mature
The flip side of our reverence
for authenticity is our suspicion of ritualistic ways of behaviour, or what one
might call “faking it”. Isn’t it better to let the “real you” shine through?
Confucius's
birthday reminds us why he still matters
But Confucius teaches that
certain rituals – “as if” rituals in particular – are transformative because
they break patterned behaviours we’ve fallen into. When you smile as if you’re
not angry, or bite your tongue instead of lashing out you are faking it. It’s
because those “as if” moments create a tiny break from reality that they are so
valuable. We act “as if” we are different and our feelings are more mature. By
doing so, we transform into someone who is kind and generous rather than
someone exercising the right to express authentically honest but destructive
feelings. As we complete these rituals again and again, letting our behaviour
lead our feelings rather than the other way around, we become different – and
better – over time.
See the world as capricious
Work with the shifts and
detours – chance conversations, experiences, interactions – that nurture an
expansive life
Just as we often view the self
as stable, we see the world as stable, too. Of course we realise that life can
change, but at the same time we tend to proceed under the assumption that the
world is generally predictable and that we should figure out how we will fit
into it. If we see ourselves as good at maths, we continue along that academic
track; if we consider ourselves whimsical, we seek a life partner who will join
us on our adventures.
Mencius, a Confucian scholar
living during the late 4th century BCE, saw the world as fragmented and
capricious. He would advise that we should work with the shifts and detours –
chance conversations, experiences, interactions – that nurture an expansive
life. Rather than making plans for our lives, a Mencian approach means setting
trajectories in motion.
Stop deciding
When you are contemplating a
big change, your decision will be easier if you try out new related experiences
What’s wrong with a life plan?
When you plan your life, you make decisions for a future self based on the
person you are today not the one you will become.
Rather than boxing ourselves
in by committing to big decisions, the Mencian way would be to approach them
through the small and doable. When you are contemplating a career change, say,
or a break up or move, your decision will be easier if you try out new related
experiences on a small scale. Pay attention to your responses to these
experiences, because they will guide you in new directions.
Be weak
See everything in the world as
connected instead of divided and distinct so you can stay attuned to others
Another popular assumption is that the powerful win out. We are told to
stand strong and be assertive about what we want. But Laozi, in the Tao Te
Ching (probably dating to the 4th century BCE), advocates the power of
weakness over overt strength. People often think this means we should harmonise
with nature. We know students whose first encounters with Laozi entail being led
on a walk in the woods by their well-intentioned teachers to absorb the glories
of the natural world. Passivity is not what he means, though. He says we should
see everything in the world as connected instead of divided and distinct, so
that we can use our understanding of all those connections to stay attuned to
others.
Attunement allows for a different sort of influence. Rather than wielding
direct power over people, you see how to subtly alter situations, so you can
lead others but they don’t perceive you to be dominating them.
Don’t play to your strengths
Live your life as a series of ruptures, because that is what changes you
over time
We’re encouraged to discover
our gifts and strengths and to hone them from a young age. If you were sporty,
you joined the football team; if you always had your nose in a book, you
studied literature. As you grow older, you cultivate these natural proclivities
until they become part of your identity. But take this mindset too far, and you
stop doing everything else.
Our philosophers would
encourage not focusing on who you think you are to break your preconceived
notions. If you think you’re clumsy, take up dancing. If you’re no good at
languages, immerse yourself in French. The purpose is not to make yourself
better at these things, it’s to live your life as a series of ruptures, because
that is what changes you over time.
Don’t be mindful
The tenets of mindfulness as
they are popularly understood is the opposite of what mindfulness was meant to
be
We hear that mindfulness will help us achieve peace and serenity in our fast-paced lives. It is now
even touted as a tool for productivity and effectiveness by business schools,
corporations and the military.
Confucius
can speak to us still - and not just about China
Mindfulness does not, on the
surface, seem all that different from the Confucian notion of paying attention
to your emotional responses. But the tenets of mindfulness as they are
popularly understood – including looking within and accepting what you find
with detached non-judgment – is the opposite of what mindfulness was meant to
be. Buddhism is, after all, the doctrine of “no” self. Confucian self-cultivation is
different. It’s about engaging with the world and cultivating yourself through
that engagement, through each encounter and interaction. It espouses a very
active, not passive, way of cultivating oneself to become a better person.
Rethink the traditional and
the modern
It’s the small actions through
which you conduct yourself that matter most in transforming yourself for the
better
The contemporary assumption
underlying all the others is that we have broken free of a repressive,
traditional world and live our lives as we choose. But if we define a
traditional world as one in which humans passively accept the way things are
and try to fit into a stable, pre-existing order, then we are the ones who are
traditional. The assumptions we hold to be true restrict our greatest
possibilities.
The “Path”, the title of our
book, is a play on the opening line of the Tao Te Ching: “The Way that can be made into a clearly defined way is not the enduring
way.” If you think you can lay out a perfect plan for your life, you’ve missed
the “Path.” Instead, recognise that we are complex creatures constantly pulled
in different directions, and that it’s through working on our interactions,
experiences and responses that we grow. It’s the small actions through which
you conduct yourself that matter most in transforming yourself, and the world,
for the better.
Subscrever:
Mensagens (Atom)