Luís Bernardo, que já
morrera, mantinha uma correspondência assídua com Manuel.
Eram da mesma Família e
tinham-se conhecido com uma grande diferença de idades: ele sentenciado no
processo dos Távoras, tendo sido simultaneamente traído pela Marquesa que andava
de amores com o Rei.
Manuel, mais prosaicamente
arrastava os seus dias neste penoso mundo, indagando com frequência do seu
parente o que o esperava depois da morte.
O correio chegava através
de portadores que iam e vinham e depositavam as missivas na caixa de correio da
casa de Manuel e quando este respondia a Luís Bernardo, era na Capelinha da
Senhora do Monte que deixava as suas cartas, debaixo de uma laje que por lá
havia e que se movia com facilidade deixando um buraco protegido da chuva e das
intempéries.
Perguntado porque naquele
sítio, Luís Bernardo respondera que a vista que dali se espraiava sobre a
cidade deixava sempre os portadores maravilhados e que antes de empreenderem
a viagem de regresso, dali miravam a beleza de Lisboa.
Manuel ainda foi ao miradouro várias vezes e nos dias aprazados para a entrega da
correspondência. Tinha a expectativa de se poder encontrar presencialmente com
os emissários de Luís Bernardo, mas esperou em vão, pois nunca ninguém
apareceu, e quando antes de partir ia verificar se a carta tinha sido levada,
ficava pasmado pois o buraco estava vazio e a carta desaparecera.
Um dia porém, resolveu
deixar um envelope fechado com mais uma missiva e por cima pôs um pequeno papel
com os seguintes dizeres em latim:— Volenti
nihil difficile. (A quem quer, nada é difícil.)-
E passados uns dias
encontrou uma resposta escrita no mesmo papel: — Ave
ataque vale (Saudações e adeus.).
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