Telegraficamente duas histórias que me aconteceram:
primeira – com o
arquitecto das Amoreiras, à data ainda nos primórdios do conhecimento da
etiqueta. Jantar no antigo Banana Power, a Alcântara, convidado por ele - peço
espargos, uma pescada cozida e uvas. Começo a comer os espargos à mão: -
´Manel, isso é muito ordinário, diz ele que batalhava com o garfo e faca para os
comer inteiros. Digo eu – pois sempre os comi assim. Peço o galheteiro ao
criado para o peixe cozido: - trazer para mesa o galheteiro? Nunca sai da
cozinha! – Digo eu: - ele há de prata, de Companhia das Índias e lindos. Como
se tempera então com azeite o peixe? – Resposta dele: Porra, não percebo nada
de protocóis! Não vieram as uvas!
Segunda: em Hong Kong aonde trabalhei durante
uns 7 anos numa grande empresa chinesa. Acabadinho de chegar com os meus 27
anos. Patrão chinês diz-me que vou jantar sozinho com o homem mais rico do
mundo, à época, o dono dos tankers, Sir Yak Pao, para lhe arrancar um contrato
difícil. Perguntei ao meu patrão, com tristeza, se era um gesto de despedida,
tendo eu acabado de aportar e sendo um tenro cordeiro sacrificial. Disse-me que
não. Fiquei com muitas dúvidas.
Podia ser meu Pai, o interlocutor, e
miroscava-me com curiosidade. Escolha do menu. Olho para as entradas e vejo
caviar – três espécies – tinha vagamente comido em Portugal uma ou duas vezes,
mas não sabia sequer os nomes. Escolho o do meio, beluga e oiço o bilionário
dizer: - muito bem, esse é o melhor. Game, pensei eu. 1-0.
Achei graça e
resolvi entrar na jogada.
Digo eu: mas sabe, este não é o melhor sítio para o
comer. – Ai não, diz ele espantado mas com curiosidade. Estávamos no roof do
melhor e mais caro hotel de HK. Eu tinha ido com um tio Ministro de uma futura
cunhada casada com um meu irmão, do tempo da outra Senhora, teria uns 18 anos, ao
Maxime, que tinha adorado e catado todos os pormenores. Digo-lhe eu: é no Maxime,
em Paris. Olha encantado e diz que sim, com certeza. Score: 2-0.
Com
atrevimento, acrescento: - mas não é em qualquer mesa! Aí ele olha-me pasmado.
– como assim? Digo eu: na mesa do canto, para ver quem entra. Era aonde eu
tinha ficado e vi chegar, os e as conhecidas deste mundo.
No dia seguinte,
pergunta-me muito admirado, o meu patrão chinês: - Como conseguiste o contrato?
Minha resposta: se te contasse e dissesse que foi à conta do beluga, do Maxime
e da mesa do canto, you wouldn’t believe!
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