Povos poderosos e longínquos suscitam muitas vezes suspeitas quanto à seriedade, capacidade e experiência nas negociações internacionais de grandes contratos. Há como que uma espécie de snobeira dos principais países europeus quando enfrentam a China, a Rússia, a Coreia do Sul, a Indonésia, naturalmente havendo sempre honrosas excepções.
Tenho anos de viagens e contactos com estes países, nomeadamente os dois primeiros e concordando que a China tem uma cultura negocial muito própria bem como a Rússia tem a arrogância do segundo país mais poderoso do mundo, é no entanto indiscutível que dispõem de meios financeiros incomparáveis para investir um pouco por todo o mundo.
Tornam-se por isso parceiros apetecíveis e tenho visto muito bom empresário tradicional transformar-se em fogoso, ambicioso e cúmplice interlocutor, perdendo a habitual compostura ética perante os procedimentos usuais nestes países.
Quero com isto dizer que a prática de corrupção seja ela activa ou passiva, tem a ver com limites, que são ou não ultrapassados consoante muitas e variegadas circunstâncias.
Na base está sempre o dinheiro e o poder. Vem isto a propósito destes recentes incidentes que despoletaram esta purga na concessão dos vistos gold, bem como no caso BES/GES.
Uma vez, estando eu em Banguecoque em trabalho e conhecendo um diplomata jovem da Embaixada dos Estados Unidos aí sediado, foi-me por ele contado um caso “fresquinho” acabado de acontecer:
- O número 2 da Embaixada, responsável entre outros domínios pela aprovação de verbas para a aquisição de material sensível de segurança, recebeu uma proposta para o fornecimento de um determinado equipamento. Como lhe competia, preparou um “file” e enviou, com o consentimento do seu superior hierárquico, o Embaixador, para o Departamento de Estado, em Washington, para aprovação de uma verba significativa. Acrescentava, que havia uma comissão de 5% e perguntava o que deveria fazer.
Passou-se um mês e não veio nenhuma resposta dos USA e o fornecedor submeteu nova proposta, agora com uma comissão de 10%.
O referido diplomata comunicou a pressão recebida e novamente inquiriu sobre o destino a dar à referida comissão.
Passaram mais 3 meses e o silêncio persistia. Nova proposta, desta vez com uma comissão de 20% a ser depositada na conta do diplomata.
Concluiu o meu amigo e colega do outro: acabou por sair da Embaixada pois pediu, “estranhamente” uma licença sem vencimento e dedicou-se a negócios privados.
O material foi adquirido pelo preço apresentado que tinha cabimento orçamental e a comissão foi parar às mãos de um zeloso funcionário que a dado momento foi superado pelos seus próprios limites de resistência à corrupção.
Conclusão: escolha trabalhar em empresas pobres, mal pagas e sem perigo de serem tentadas por gulosos corruptores….ahahaah
Ainda hoje, depois de ela já ter morrido há anos, tenho uma vaga suspeita que a Emília, cozinheira de casa dos meus Pais durante 50 anos, teria tido as suas fraquezas corrupcionais na praça, na peixaria e no talho e quiçá no merceeiro…mas sendo tão excelente “cordon bleu” está certamente perdoada e até ao que tudo indica ao serviço do Altíssimo, no Céu…ahahaah
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