terça-feira, 25 de novembro de 2014

entre os muros de uma prisão


Este caso da prisão preventiva do ex-Primeiro Ministro, fez-me reflectir para além da circunstância de ser quem é. Muito se tem dito nos últimos dias e o tempo provará da justeza ou não, das medidas adoptadas e das culpas imputadas.

Não é isso que me interessa agora, apesar de ter a minha opinião, o que é irrelevante, pois o que tiver que acontecer, acontecerá.

Hoje na minha aula a prisioneiros estrangeiros na prisão de Alta Segurança, preferi ouvir os comentários dos “meus” reclusos e fui tomando umas notas:

Primeiro: nunca nenhum prisioneiro se alegra pela entrada de mais um;


Segundo: há desde logo uma solidariedade que é manifestada, independentemente das causas presumidas ou conhecidas, salvo no caso de crimes especialíssimos;


Terceiro: a privação da liberdade torna os que já lá estão melancólicos e sonhadores e hoje, como que se fez um prolongado silêncio. Não disseram muitas mais palavras!


Dei-lhes um exercício escrito para fazerem em português sobre a música e qual o tipo de que mais gostavam. Entretanto, na biblioteca ao lado da sala de aulas, ouviam-se os sons do Concerto de Piano de Shostakovitch, nº2 em F, Opus 102, 2 andante, que eu escolhera. Seguir-se-ia Mahler, depois Lizt, Ravel e Debussy.


E os lápis, porque não podem escrever com canetas – um mistério – escrevinhavam rápido. Via-se que estavam deliciados por poderem, excepcionalmente, ouvirem um pouco de música.


Eu fechei os olhos e fiquei absorto num espaço fechado a sete chaves, com guardas armados até aos dentes a passarem no corredor, com uma câmara a vigiar todos os actos. 


E pensei que lá fora, há tanto ruído, tantas certezas e julgamentos precipitados, apaixonados e pouca vontade de perdoar, mesmo nas faltas e nas falhas.


Nem me passa pela cabeça não concordar com sanções para quem tenha prevaricado, e sendo os indícios ou culpas relativas a prejuízos causados à sociedade civil pelo enriquecimento ilícito próprio ou de outro tipo de crime grave, mais obrigação tem a Justiça de actuar, julgar e punir, estando os factos provados.


Mas, a maioria das pessoas não sabe que no momento em que se dá entrada numa prisão, cai um silêncio aterrador sobre cada recluso, uma solidão e mesmo em regimes mais abertos, tudo muda. 


E curiosamente, começa ou pode começar para cada recluso, a regeneração com vista à reinserção, no dia em que voltem à liberdade.

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