domingo, 2 de novembro de 2014

A Morte Absoluta



Morrer.
Morrer de corpo e de alma. Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte. 

 
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer o teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração,
em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.

Manuel Bandeira

Sem comentários:

Enviar um comentário