Definham as palavras e as expressões com o andar do tempo, nos actos nada muda. Ao entregar à esposa, bem contado o dinheiro para a despesa doméstica, o marido doutras eras acrescentava uns tostões, explicando que era "para os alfinetes".
"Para os alfinetes" era também o gracioso
eufemismo para dinheiros de corrupção, num tempo em que o verbo locupletar dava à ladroagem uma aura de dignidade.
Refiro estas expressões antigas porque de momento me
ocupam demasiadas coisas que não compreendo, e de certeza teria dificuldade em
compreender, mesmo se mas trocassem em miúdos.
Será que li bem que o banqueiro Salgado recebeu uma
prenda de catorze milhões de euros? Uma prenda? Há prendas desse montante? Terá
sido para os alfinetes da madame?
O ex-primeiro ministro parece que manipulou uns vinte
milhões, deu nas vistas pela ostentação,
vai preso para que evitar que rasgue papelada comprometedora. O banqueiro
desviou uns quanto mil milhões, deposita três, e fica confortavelmente em casa,
com a possibilidade de rasgar o que lhe apetecer. Quem compreende?
Claro que haverá explicação para a discrepância, e eu,
cidadão, bem gostava que me pusessem ao corrente. Como também gostaria que os que
jubilam com o infortúnio dum e doutro, porque infortúnio é, e a ninguém se
deseja semelhante opróbio nem queda de tão alto, conhecessem e pensassem no que
John Bradford (1510-1555) disse, ao ver passar um grupo de presos a caminho da
forca: "There, but for the grace o
God, go I" (Não fosse a graça de Deus, ia eu ali).
J. Rentes de Carvalho
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