domingo, 28 de outubro de 2012

Contos imorais - Crime de colarinho branco (parte II)


Rose lembrou Brien que nessa manhã de segunda-feira pelas 11h, um membro influente da comissão política do partido no poder, solicitara uma reunião urgente.

Perguntou-lhe se estaria livre para almoçar ao que Brien acedeu gostosamente. Iriam, como de costume a um pequeno restaurante perto do banco, aonde se comia muito bem. Rose marcava sempre uma mesa ao fundo encostada à parede, e durante a refeição agarrava-lhe discretamente nas mãos que entrelaçava e fazia festas, e por debaixo da mesa roçava as suas pernas, lenta e sensualmente nas de Brien. Este temia sempre que alguém os visse, mas não resistia.

Depois chegava ao gabinete em brasa e quando ela lhe propunha uma ida a sua casa nessa noite, todas as vezes perguntava-se porque não aceitava, mas pairava a sombra de Susan o que o fazia gentilmente recusar. Um dia seria, prometia a Rose e vi-a sair desgostosa, mas afirmando que não desistia.

Michael foi encaminhado até à sala de reuniões e quando Brien entrou, apresentaram-se e apertaram as mãos.

Foi direito ao assunto: sabia que o banco tinha algumas operações financeiras de clientes influentes, altamente discutíveis em termos financeiros e aproximando-se eleições, o partido precisava de dinheiro para a campanha. Recebera instruções do Ministro-Adjunto para contactar o Management do Banco e em troca de ignorar tais situações, obter fundos substanciais que lhe permitissem financiar mais uma vitória eleitoral.

Mencionou uma quantia avultada como primeira tranche que deveria ser entregue no partido dentro de pastas, contendo notas de valor grande para evitar um elevado número de malas. Evidentemente, acrescentara, queria uma comissão para ele, cujo conhecimento ficaria só entre os dois, e no fim da operação, haveria uma percentagem para Brien, se corresse tudo nos conformes.

Era pegar ou largar, pois as Autoridades Monetárias e Financeiras já estavam avisadas e desistiriam da auditoria, quando a proposta fosse aceite e o primeiro pagamento recebido.

Michael era um sujeito de mediana estatura, com um olhar vivo, de discurso convincente e persuasivo e modulava a voz consoante o tema, por isso fora seca e pragmática no início da conversa e tornara-se quase em surdina quando se referiu às comissões pessoais para ambos.

Brien escutara em silêncio todo o discurso de Michael e no fim quando ficou claro que este esperava os seus comentários, levantou-se e disse numa voz neutra de banqueiro:

- Passarei a informação ao Management que lhe fará chegar a resposta, o mais breve possível.

E dirigindo-se à porta, chamou Rose pedindo-lhe que acompanhasse Michael à saída. Não lhe estendeu a mão, mas colocou-se numa posição entre portas em que quando Michael saiu da sala de reuniões e se voltou para trás para se despedir, tinha-se dirigido à mesa para buscar os papéis, não dando assim azo a que a sua atitude pudesse ser interpretada como de menos cortesia.

Rose, comentou depois que Michael saiu com um ar irritado, manifestamente surpreendido com qualquer coisa que se teria passado. Brien, fez-lhe um ligeiro comentário, dizendo que a reunião tinha corrido como expectada. E não acrescentou mais nada.

Decidira, antes de passar a informação ao Board, pedir a Susan nessa noite que no escritório dela e através dos contactos que Howard tinha como QC, se inteirasse do perfil de Michael.

Ficara, obviamente incomodado pelo atrevimento e chantagem de Michael, mas sobretudo pela ousadia de o querer “comprar” sem nunca se terem conhecido e não saber, sequer, que interlocutor tinha pela frente quando o tentou corromper.

Brien sabia da corrupção do poder e das diferentes formas que correntemente usavam, mas nunca imaginara que pudesse haver uma aproximação tão arrogante, insultuosa e destemida.

Passou o resto do dia a ruminar como daria seguimento ao assunto e Rose reparou que estava “absent mind” e voltou a insistir porque não tomarem um copo em sua casa ao fim da tarde.

Brien, achou uma boa ideia pois precisava de descomprimir e jurou a si próprio que seria uma “visita de médico” rápida: podiam ver algum filme, conversar sobre a promoção de Rose nos quadros do banco, talvez até trocarem uns beijos, umas carícias no sofá, mas mais nada do que isso.

No entanto, algo lhe dizia que tendo ficado perturbado pela reunião da manhã, as suas “guardas” estavam fragilizadas e as pernas de Rose ao almoço, as suas mãos macias e bem cuidadas talvez lhe pudessem suavizar o fim de tarde e compensá-lo do estado em que estava.

Telefonou a Susan perguntando como estava o dia dela em termos de horário, acrescentando que mais logo conversariam sobre um pedido que queria que ela fizesse a Howard, e quando do outro lado ela lhe disse que só deveria chegar pelas dez da noite pois tinha um dossier urgente a fechar, abriu-se um sorriso de distensão na sua cara e a voz saiu natural quando lhe mandou um beijo.

Convocou Rose ao seu gabinete e combinaram às sete em casa dela. Ele iria de táxi para não suscitar desconfianças, não fosse alguém poder vê-lo sair do seu descapotável pouco discreto.

(continua)

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