quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Contos Imorais - A casa de meninas em Sevilha


Angel era um homem bem-apessoado, de 45 anos, mas parecia ter bem menos.

Tinha uma profissão que lhe assegurava uma vida despreocupada: era dono de uma casa de putas em Sevilha. Para além de ser discreto, viajava muito não só em Espanha mas também em Portugal. Eram "expedições de trabalho", dizia ele, mas só alguns sabiam que de facto se tratava de angariar “mão-de-obra” para o seu negócio.

Estávamos em 1887 e a moral tradicional era feroz em Espanha. No entanto sempre houvera clubes de homens com meninas, aonde a pretexto de convivência se passavam horas de puro deleite e usufruindo de grande gastronomia, pois jantares requintados faziam parte do serviço prestado.

Angel era selectivo e exigente na escolha das putas. Tinham que ser “hermosas” de cara, sensuais de corpo, com conversa, elegantes, atractivas e muito quentes na cama.

Não tolerava mulheres vulgares, pois a sua clientela era distinta e requisitava do melhor para se divertir. Havia quartos confortáveis, muito bem arranjados e de luxo, com uma decoração sóbria e de bom gosto. Podia-se jantar nas alcovas à luz de velas, com menus seleccionados ou em alternativa numa grande e bonita sala de jantar, com frescos de mulheres nuas perseguidas por elfos, tudo em tons suaves.

No salão havia largas poltronas fundas e macias aonde se enterravam os casais com volúpia e aí iniciavam os preliminares que os conduziria aos quartos. O ambiente era de grande requinte e havia no meio do salão um palco relativamente pequeno aonde as meninas se acotovelavam, brincando nuas umas com as outras dando guinchinhos, apalpões, beijos leves, dançando agarradas em meneios eróticos e mostrando as partes do corpo que mais atraíssem os clientes.

À volta, em mesas, os homens bebiam, fumavam charutos e conversavam e quando lhes apetecia escolhiam as preferidas que os vinham acompanhar no consumo de champagne e absinto, agarrando-se e enroscando-se nos seus corpos, com juras e promessas de amor e de prazeres infindos.

Num canto uma pequena banda tocava zarzuelas e músicas da moda, com sons leves para não perturbar o clímax que Angel queria criar para que o programa fosse completo e suscitasse o entusiasmo da clientela.

Angel voltava a casa tarde todas as noites, pois antes de fechar o cabaret pelas 4h da manhã, fazia as contas e depositava o dinheiro ganho, num cofre de parede, escondido por detrás de um armário, no seu gabinete.

Esse seu espaço privado, era um verdadeiro antro de prazer. Era aí que seleccionava cada uma das candidatas fazendo-as passar por diversos testes: tinha um divan amplo e fofo de uma seda incolor gasta pelo muito uso e numa mesa com incrustações de madre-pérola vários instrumentos de prazer em caixas de ébano – dildos de prata brilhante e lisa e de vários tamanhos – e noutras, cheiros e perfumes sensuais, ópio, rapé, doses de cocaína e revistas com fotografias de sépia com mulheres nuas em posições tentadoras, muito ao estilo do final do século XIX.

Uma pequena biblioteca de livros libidinosos em que os títulos mais conhecidos sobressaíam: Sade, Kamasutra, O Amante de Lady Chatterly e outros em castelhano sobre sexo, de grande popularidade à época.

Tinha fetiches que praticava com as meninas e se lhe oferecessem resistência, ou repugnância afastava-as e recusava-as sem hesitação.

Tinha pensado em ter chicotes, algumas correntes, mas os seus gostos eram muito peculiares e a dor e o sofrimento não faziam parte da sua escolha e queria-as doces, entregues, gemendo entre os seus braços e corpo, arrancando-lhes gritos de prazer.

Um dia, entrou no cabaret um fidalgo sevilhano de uma muito conhecida família. Angel, precipitou-se ao seu encontro e com lhaneza deu-lhe as boas vindas dizendo-se muito honrado pela sua preferência.

Ele respondeu-lhe com altivez e enfado e sem grandes palavras disse-lhe que queria a melhor puta que ele lá tivesse.

Angel, apontou-lhe duas que se roçavam no palco com olhos lânguidos e ele escolheu-as e dirigiu-se ao quarto principal que Angel, com deferência, lhe indicou.

Umas duas horas depois, saiu do quarto bebido e meio vestido, perguntou quanto devia, pagou e partiu.

Angel dirigiu-se ao quarto pois as meninas tardavam em sair e ainda tinham que trabalhar mais nessa noite e podiam ter adormecido.

Encontrou-as nuas e amarradas à cama com o lençol, uma contra a outra, com panos na boca para não gritarem, respirando a custo e com vergastadas nas costas, sangrando ligeiramente.

Desatou-as e elas começaram a tremer e a gemer baixinho, sem dizerem palavra.

Angel perguntou-lhes estupefacto o que se tinha passado e elas deitaram-se na cama e abrindo despudoradamente as pernas mostraram no sexo, marcas que Angel observou de mais perto e com estupor reconheceu serem as armas da Casa dos Duques de Alva que ele lhes tinha gravado a fogo como se de um ferro de gado se tratasse.

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