Foram-me buscar ao Hotel e lá fui de limousine para o Palácio Presidencial, que era um edifício nobre e imponente contrastando com os que se viam
em Freetown. Uma guarda pretoriana montava a segurança.
Carregava comigo séculos de história simbolizados na
caravela de filigrana falsa que, com custo e sem posição, levava nas mãos para
ofertar ao Presidente Joseph Momoh!
Enquanto esperava num hall com colunas, vejo sub-repticiamente
vir na minha direcção o Ministro dos Negócios Estrangeiros, com um albornoz
muçulmano e sorridente. Lembrei-me do Grão-Vizir do Sultão das Mil e Uma Noites!
Por precaução tinha trazido um envelope para entregar a quantia
ao Ministro após a audiência, pois recusava-me, quand-même, em dar-lhe o dinheiro na
mão pois ainda me chocava mais!
Um fotógrafo oficial aproximou-se com uma enorme máquina
fotográfica de um modelo antigo e perguntou-me se eu queria que ele tirasse
umas fotografias com o Presidente e sobretudo na entrega do presente…que lhe
havia de dizer! Que sim, obrigado.
Disse-me que seriam USD 20,00 e logo ali lhos entreguei. Até
hoje estou à espera de uma dúzia de chapas que tirou abundantemente e que me
prometeu enviar pelos canais diplomáticos. Tenho a certeza que não tinha
rolo na máquina de retratos!!!!
Chegado o momento do encontro com o Presidente e entrando
para o seu enorme gabinete sou recebido com muita cordialidade, um largo
sorriso e efusivos apertos de mão.
Entreguei-lhe primeiro a carta do meu Presidente que muito
agradeceu e em seguida a dita caravela em filigrana falsa que lhe suscitou
rasgados elogios e visível contentamento.
Falámos sobre o navegador Pedro de Sintra, descobridor do
país e de algumas trivialidades.
Entretanto reparei que em cima da sua enorme secretária
tinha para além do normal, dois pequenos écrans de televisão, um dando para o
telhado aonde se via um helicóptero e outro para a entrada do palácio.
Presumi
que fosse para em caso de golpe de estado, ao ver entrar ou uma turbamulta ou as
tropas infiéis, poder fugir para o telhado e escapar de helicóptero.
Como já era no fim da tarde a sala estava
iluminada. De repente mergulhámos na mais profunda escuridão.
C’os diabos, pensei eu, logo por azar estou no meio de um
golpe de estado! O Presidente continuava a falar como se nada fosse e eu
respondia-lhe…situação ridícula pois não nos víamos um ao outro! Explicou-me
que o fornecimento de energia para Freetown era através de 4 grandes geradores,
que tinham cortes periódicos, para poupar no fuel…
Os ditos écrans serviam para nada, pois todas as vezes que a
energia fosse abaixo, seria o momento ideal para planear e concretizar um golpe
de estado! Mas não lhe disse, como é óbvio!
Ainda estivemos uns longos 20 minutos nesta embaraçosa
situação, em amena cavaqueira até que a luz voltou.
Mostrou-me então uma pepita de ouro ( o país tem, entre
outros recursos, ouro de aluvião e diamantes – do triste filme “Blood Diamond” –
ou o Diamante de Sangue que retrata a dolorosíssima e sanguinária guerra civil que
teve lugar uns anos mais tarde) e convidou-me a associar-me a ele e ao seu
Grupo para a exploração de ouro e concessões de diamantes, dizendo-me que me concederia as que
eu quisesse!
Fiquei sem palavras e reflectindo, para não o ofender nem
causar qualquer reacção inesperada menos segura para mim, contra-argumentei dizendo
que sendo eu diplomata do seu país não deveria estar envolvido em negócios!
Retorquiu-me que não tinha qualquer importância sendo sancionado por ele, como
Presidente. Calei-me e acrescentou que mandaria o Ministro das Finanças e o das
Minas falar comigo.
Despedimo-nos e acompanhou-me até à porta, muito
entusiasmado com os potenciais negócios que dizia, iria fazer por meu intermédio…
A caminho de volta à entrada, vejo o Ministro dos Negócios
Estrangeiros que se aproxima e me pergunta como tinha decorrido a audiência, ao
que lhe respondi, que com muita cordialidade e amabilidade do Presidente para
comigo.
Houve ali um silêncio súbito que interpretei como o de ele
aguardar que me manifestasse quanto ao pagamento que me tinha anteriormente
referido.
Assim fiz, e perguntei-lhe baixinho e quase sem palavras
quanto deveria entregar-lhe. O meu medo era o de me forçar a pagar o que não
tinha!
Oiço aliviado e surpreso dizer que USD 50,00 “will perfectly
do”!
E regressei ao Hotel Bintumani aonde me esperavam os meus
três amigos, para combinarmos para o dia seguinte de manhã mais uma lagostada,
ao preço de quase um Ministro dos Negócios Estrangeiros!
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