Brien trabalhava num grande banco irlandês, o Abbey National
e era o secretário corporativo da Administração.
Era filho único, tinha 34 anos, casado, sem filhos, ruivo e
sardento, magro e de olhos azuis, fazia sucesso entre as amigas, empregadas do
banco e não deixava indiferente quem com ele se cruzasse na rua.
Era católico desleixado e vagamente praticante – na Irlanda mesmo
entre os mais novos, o catolicismo é muito frequente – e os pais viviam fora de
Dublin, numa quinta antiga na posse da família.
Fora educado na escola rural da circunscription familiar e em casa com uma nanny até à idade em que entrou numa public school passando a viver em
sistema de pensionato.
Frequentou uma selecta universidade em Dublin aonde se
formou com honours em economia e
gestão. Concorreu ao banco e foi contratado.
Morava com Susan, sua mulher, num flat numa zona central da
capital e apanhava os transportes púbicos para se deslocar de casa para o
banco, a cada manhã.
Ao fim da tarde, e durante três dias da semana, fazia work out num ginásio misto da moda,
frequentado por muitos quadros do banco e pelos yuppies do jet set local,
incluindo novos-ricos.
Tinha um descapotável vistoso com que saía aos fins-de-semana
com Susan quando iam à quinta visitar os pais ou a casa de amigos que moravam fora
do centro.
A sua cara-metade era sedutora, loira, de olhos côr de mel, bem
feita de corpo e cuidava-se muito. Faziam um bonito casal sendo muito convidados
para todo o tipo de actividades sociais, festas, cocktails e jantares.
Susan trabalhava como Advogada num dos escritórios mais
cotados da capital e ganhava bom dinheiro.
Brien, punha de parte uma boa maquia todos os meses até ao
momento em que a crise chegou à Irlanda.
Rose, uma secretária do banco, atirava-se descaradamente a
Brien que adorava sentir-se amado, mas mantinha-se fiel a Susan. Já tinha
havido convites para jantarem juntos, a pretexto de que tinha que fazer
trabalho extra no banco, mas nada se tinha concretizado.
O sócio principal
da firma aonde Susan trabalhava, Howard Stuart, era um QC, ou seja, um Queen’s Councillor,
função prestigiante na Magistratura. Era ainda bem jovem e chegara a esta
função fruto da sua inteligência, competência e relevância social, pois
pertencia a uma das famílias mais importantes da Irlanda.
Arrastava a asa a
Susan e como tinham muitos casos jurídicos em conjunto, tinham criado uma grande
intimidade entre eles. Susan achava-lhe graça, mas mais nada do que isso.
Howard era
solteiro e conhecia Brien do pub que ambos frequentavam, conversando amiúde. Davam-se todos
muito bem e tudo não passava de flings, sem
consequências.
(continua)
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