domingo, 4 de novembro de 2012

Contos imorais - Crime de colarinho branco (parte III)

Para cada reunião do Conselho de Administração do banco, Brien, na sua qualidade de secretário corporativo do board, tinha sempre que preparar e enviar antecipadamente os pontos da agenda, primeiro para o Presidente e uma vez obtida a sua concordância, circularia pelos restantes Membros.

Reflectia maduramente se deveria conversar em privado com o Presidente antes de incluir na agenda o tema “pedido do Governo” resultante da reunião com Michael ou deixar que o Conselho se confrontasse como um todo, com tão escaldante tema.

O bom senso e profissionalismo aconselhavam a que consultasse Sir Gordon Scott préviamente, pois sendo o Chairman do Abbey National, este era tipicamente um assunto que lhe estaria atribuído por um dos seus pelouros, o das relações ao mais alto nível com outros bancos e instituições oficiais, incluindo o banco central e por arrasto o Governo, este último em circunstâncias excepcionais.

Brien reconheceu que esta era uma circunstância excepcional, mas no mau sentido.

Sir Gordon Scott, não era nem simpático nem tinha fama de ser diligente. Ocupava esta alta posição, bem remunerada e com muitas mordomias pelas suas relações de parentesco com um dos principais accionistas do banco. Estava de saída nos 3 meses seguintes, pois atingiria o fim do seu mandato e na idade da reforma.

Assim sendo, Brien não se sentiu motivado a pedir uma audiência e preferiu arriscar, enviando num dos pontos da agenda para a sua prévia aprovação, uma alínea que dizia “ reunião com representante da tutela “. Havia habitualmente muitas destas por motivos burocráticos, e era Brien quem triava os temas, sendo depois decidido em Conselho quem faria o follow up. Tratava-se sempre de assuntos técnicos e enfadonhos e por isso, Brien estava tranquilo quanto ao retorno da sua agenda sem nenhuma observação do Presidente, permitindo-lhe circular pelos restantes Membros.

A CEO do banco, Mrs. Viviana Hopewell, mulher dos seus 40 anos de idade, muito conceituada e excelente profissional, era casada com um dos accionistas de referência do banco.

Tinha uma excelente relação com Brien, a quem admirava pelas suas qualidades de trabalho, dedicação e competência.

Era muito elegante, o modelo típico da executiva sempre bem vestida, impecávelmente arranjada e perfumada com um aroma que excitava Brien.

Viviana já por várias vezes lhe tinha dado a entender que o apreciava também no seu humor, naturalidade e numa das festas de Natal do banco, tinha até dançado com Brien, de tal maneira enleada ao seu corpo que as suas caras quase tocavam. Disse-lhe que dançava muito bem e que o seu marido era um “pé-de-chumbo” e que ela gostava de música e de ir a dancings.

Brien, num acto de grande ousadia, retorquiu-lhe a sorrir que ela tinha um perfume que ele adorava e que sempre que o sentia ficava agradavelmente perturbado.

Riram-se os dois muito e a música acabou e cada um dirigiu-se para os seus cônjuges que no meio da movimentação da festa, não repararam sequer que ambos tinham dançado tão impròpriamente agarrados.

Nessa tarde, Brien saiu mais cedo do banco, como prometera a Rose, e apanhando um táxi, dirigiu-se ao apartamento dela.

(continua)

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