segunda-feira, 19 de junho de 2023

Peninha e o butler


  O Peninha era muito novo-rico e tendo herdado de uma Avó uma boa maquia, leu que os Lords ingleses e outras figuras sociais internacionais tinham butlers.

Ao princípio não percebeu sequer o que era ter um butler. Mas foi investigando e descobriu umas escolas top de formação de butlers na Suíça, e telefonando para lá, disseram-lhe que o curso tinha terminado e havia um numeroso grupo de butlers dispostos a ir para qualquer país.

Peninha perguntou quanto custava e eles disseram-lhe que havia pacotes de 6 meses e a mensualidade era de $ 3,000, com alojamento confortável e uma casa digna. Quando entrevistasse o candidato ele lhe diria as suas exigências pessoais.

Peninha, hesitou por dois motivos: ter em permanência uma pessoa em casa ( adorava andar de chinelos e pijama em casa ) e depois porque a sua casa era modesta, sem muito espaço para cada um ter a sua vida própria, sem nenhuma decoração nem luxo especial, e dava para um quintal com galinhas.

Tinha um conjunto de bibelots que alguns amigos criticavam - muitos cinzeiros e outros objectos roubados de pensões aonde tinha ficado, verdadeiramente horríveis.

Mas o orgulho falou mais alto e marcou uma entrevista com um certo Hervé que lhe pareceu muito bem parecido.

No dia da entrevista, marcada para o Hotel Primavera no Senhr Roubado, de 3 ***, ponderou como iria vestido para impressionar bem o Hervé e lhe transmitir confiança e orgulho em o servir.

As cuecas eram umas compradas na loja de camping - de tipo Tarzan, cavadas, as peúgas eram verde alface pois era do Spórten, tinha uma camisa com riscas laranja - achava que o PSD teria boas hipóteses de ganhar em breve eleições antecipadas - como estava calor deixava de parte a gravata.

O casaco era diferente das calças: era de tweed, apesar da saison, mas queria dar um toque britânico para o impressionar, as calças brancas meio transparentes pois estava quente o tempo, um cinto de crocodilo verde falso com um pequeno pano cozido, dizendo : "aprovado pelo PAN". 

Foi mais cedo para o topar antes de ele chegar. Um pouco mais tarde viu entrar um rapaz novo, com muito bom aspecto, mas vestido normalmente que se dirigiu à recepção e perguntou aonde estaria o Sr. Peninha. A recepcionista só falava uma língua: português do norte.

Não percebeu e ficaram os 2 embaraçados até que Peninha se levantou e foi ter com ele.

Um parentesis: Peninha falava muito mal inglês e mas estava convencido de que era um ás...

- My friend I am Peninha...- disse.

- Hervé, ficou perplexo a olhar para Peninha, mas avançou para ele e apertou-lhe a mão. Peninha estava à moda dos jovens frik de agora, pois tinha pintado as unhas das mãos de violeta.

Hervé tinha as unhas impecàvelmente trimmed e sem côr nenhuma nem verniz.

Disse-lhe que falava francês se Peninha quisesse, mas Peninha disse que não sabia. " I don't know speak franciu".

Sentaram-se num canto do Hotel, numas poltronas já muito coçadas pelo uso e Peninha tinha já encomendado para cada um dos dois, um whiskey baratucho, e assim ele não veria que a marca era rasca.

( continua)


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