quarta-feira, 21 de junho de 2023

O Peninha e o butler (fim)


 Foi complicado entenderem-se pois nenhum dos dois falava uma língua comum.

Numa mesa ao lado estava um rapaz, com muito bom aspecto, que se levantou e aproximou-se deles e disse:

- Deixem-me apresentar-me. Sou o Visconde da Gameira e falo muito bem inglês. Se quiser posso servir de tradutor de inglês para português e vice-versa e assim entendem-se.

Explicou ao Hervé, e entretanto o Peninha muito agradecido, perguntou-lhe se queria beber alguma coisa. O Visconde agradeceu e disse que não, pois tinha acabado de beber a sua bebida antes.

O Hervé disse então que tinha sido convocado para eventualmente, ser butler desse senhor. Avançou logo que não, pois só pela maneira como estava vestido, recusava. Depois, não sabendo falar inglês, o mínimo exigido para se comunicarem, nao tinha paciência para aprender português.

O Visconde respondeu-lhe dizendo que poderia estar de acordo com o que ele disse, mas que o Hervé parecia muito arrogante e sendo novo e o primeiro emprego que teria, difìcilmente com esta atitude teria chances de obter um Cliente.

Entretanto, Peninha via-os conversar sem retorno para ele, e perguntou ao Visconde que conversa era essa.

O Visconde disse-lhe para ter paciência pois estava a traçar o perfil do Hervé para depois informar o Peninha. Este acalmou e despejou o copo de whiskey pela garganta abaixo.

O V.G. perguntou a Hervé como iriam dizer a Peninha de uma forma cortez e simpática qual as razões de ele recusar. Este disse-lhe que não tinha uma pequena ideia e pediu-lhe que o fizesse por ele.

Assim, todo sorridente para com Peninha, o Visconde disse-lhe que o Hervé tinha ficado muito bem impressionado pela maneira como Peninha estava vestido o que exprimia a sua categoria e classe e sobretudo uma liberdade de se vestir como queria.

Peninha ficou todo de peito cheio e muito agradado e pediu ao Visconde para agradecer a Hervé. 

Por outro lado o Visconde disse-lhe que infelizmente o Hervé não poderia aceitar por não falar português e servi-lo como merecia, depois porque pelas fotografias da casa de Peninha esta era muito pequena e o salário que ele pedia era de £ 20,000,00 por mês, o que tinha que ser compensado por trabalho adequado.

Peninha ficou muito triste e cabisbaixo durante uns minutos, e pensou que o montante do salário era impossível para ele poder pagar bem como a casa era muito modesta e pequena. Deu-lhe toda a razão e perdeu de imediato o entusiasmo de ter um butler enquanto não tivesse um palácio.

Transmitiu ao Visconde que aceitava a recusa de Hervé e pediu-lhe que pagasse a conta pois tinha um afazer dentro de minutos. O Visconde, com toda amabilidade disse que sim, e levantando-se todos Peninha despediu-se de Hervé e do Visconde da Gameira, e foi-se.

Ficaram os dois a conversar e Hervé perguntou ao Visconde se não o queria para seu butler.

O Visconde disse-lhe directamente que o queria, era para seu boy-friend, de igual para igual, e que nem pensasse em nenhum salário, pois repartia a sua vida com ele. Passou-lhe a mão na perna com um sorriso irrecusável.

Hervé pensou uns minutos e disse:

- Eu sou trans e por isso se quiser faço de sua mulher e as actividades da casa com muita classe.

O Visconde ficou um pouco perplexo e disse:

- Eu não sei o que é ser trans mas se puder quando me apetecer "entrar no seu túnel de Alibábá" estou de acordo.

Levantaram-se e deram as mãos, e sairam.


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