quarta-feira, 1 de julho de 2020

O PENINHA E O COVIDUS




O PENINHA E O COVIDUS


O Peninha tem andado desaparecido porque tem passado entre os pingos da chuva, ou seja do COVID.

Esteve confinado no Senhor Roubado, numa casa que o Regedor lhe pôs à disposição, casa essa que tomara muita gente ter: dois quartos sendo um deles a sala, tudo em pequenino, coitado, mas era de borla. A casa-de-banho era no jardim, numa cabine de alumínio com uma pia, um lavatório, um bidé, e um chuveiro de água fria.

No entanto a Junta fornecia-lhe refeições completas desde o pequeno-almoço ao jantar. Tinha para se distrair uma televisão a preto e branco com os 4 canais, um longínquo sinal de wi-fi para poder ligar o computador.

Mas apesar do confinamento a que esteve sujeito, tinha uma vantagem extraordinária: é que tinha pela frente um terreno de 50ha, com animais selvagens à solta desde, leões, leopildos, gatos selvagens, serpentes, elefantes, tigres, papa-formigas, chimpanzés, saguís, hipopótamos numa ribeira meia cheia e um jacaré.

O Peninha tinha-se substituído ao Rei Leão e era ele quem dominava o espaço vasto aonde estavam estes animais em alegre convivência.

No fundo, o Presidente da Junta propôs ao Município a construção de um novo jardim zoológico, mas devido a corrupção ao nível da Câmara, nunca o projecto andou para a frente.

O Peninha tinha especial predilecção por um chimpanzé a que chamara Sócrates, pois conversava com o Peninha sobre pensamentos elevados de como conduzir os destinos do zoológico.

O Peninha detestava a serpente, pois lembrava-se da história da Eva e estava sempre a culpá-la pelo estado do mundo. A serpente que se chamava EVA, já encolhia os ombros pois não estava para o ouvir sempre com a mesma história.

O papa-formigas era a empregada de limpeza do Peninha pois linguaruda limpava-lhe os cantos do quarto e da sala das formigas e do pó que se ia acumulando.

O jacaré era porreiro, pois deixava o Peninha afiar as facas nos dentes pontiagudos. Um dia quis fazer uma gracinha para assustar o Peninha e fechar a boca devagarinho mas o Peninha, lesto, tirou uma das facas e espetou-lha na carcaça. Está visto que partiu a lâmina mas não deixou de mostrar quem é que mandava. Com aquela bocarra grande quando a abria toda, tinha um sorriso divertido.

O hipopótamo estava gordo e mexia-se com dificuldade mas o Peninha fazia umas sestas deitado ao lado dele…quando abria a boca dava-lhe sono.

Havia um elefante, que começou por ser chamado Jumbo mas despois da venda a outra cadeia de supermercados, o Peninha pôs-lhe o nome de Lidél: era-lhe muito útil pois era o chuveiro do Peninha e com a tromba apanhava-lhe bananas de uma bananeira que por ali havia.

Com os tigres é que tinha mais problemas pois com a pele deles eram vaidosos e passeavam-se pela quinta como se fossem as piquenas das ruas de Odivelas de casacos falsos de leopildo. Nem olhavam para os outros animais.

Finalmente os saguís falavam lá uma língua aos guinchos entre eles que muito divertiam o Peninha que começara já a aprender e conseguia fazer-se entender.

Apesar desta vida variada ao ar livre o Peninha tinha que se confinar na sala ou no quarto, com áreas muito pequenas.

Estranhava nunca ser visitado por nenhuma autoridade de saúde quando via na tv a preto e branco uns relatórios de arrepiar de gente que era infectado e ia para os hospitais.

Tinham-lhe dado uns livros do porco do Vilhena, mas o Peninha mostrava os desenhos pornográficos ao chimpanzé que dava gargalhadas. Aos saguís nem pensar porque em tamanho ainda eram miúdos.

Um dia apareceu lá o Regedor que lhe disse que já podia sair livremente pois tinha-se passado à fase de desconfinamento.

Os animais ficaram muito tristes mas ele foi peremptório:

- Ó filhos ( eram como se fossem filhos do Peninha) deixem lá, que estou aqui estou a voltar pra aqui com vocês.

E o Peninha tinha toda a razão pois o Senhor Roubado foi uma das freguesias da Grande Lisboa que teve novo recrudescimento da pandemia.


Sem comentários:

Enviar um comentário