domingo, 13 de dezembro de 2020


 Pesentes de Natal do Peninha


Este ano, por causa da pandemia, o Peninha resolveu presentear a família e amigos, com produtos do "comer".


Assim foi à Rua do Arsenal comprar bacalhau aos grossistas que vendem o "fiel amigo.


Foi à zona saloia de Lisboa, comprar couves, batatas, cenouras, aipos, alhos franceses, abóboras, bróculos, espinafres, tomates, courgettes e muita fruta fresca. Tudo isto biológico.


Foi à Beira Alta comprar cabritos, no Alentejo adquiriu borregos, em Sintra, perús e nas fronteiras com Espanha, produtos contrabandeados tais como café, bâtons, soutiens, cuequinhas de renda, perfumes chineses e outros produtos de consumo a preços irrisórios.


Também comprou algum produto à Maria Joana para a juventude.


Tudo isto ia para um armazém no Senhor Roubado aonde tinha um alarme que abria duas portas de ferro mediante uma frase que se tinha de dizer em voz alta: " o lobo que vá para o inferno".


O Peninha tinha vários inimigos, sobretudo na taberna do Neto. Com os copos os ânimos exaltavam-se sobre discussões entre adeptos do Sporting ( este era o clube do Peninha) e do Benfica.


O Sabastião era do Benfica e estabelecido na praça e quando o Peninha se gabou do que tinha comprado e disse que tinha guardado num armazém fóra dos limites do Sr. Roubado e que para se ter acesso tinha que se dizer uma frase em voz alta que só ele sabia, o Sabastião jurou que lhe havia de ir roubar tudo.


Havia um caminho que se fazia a pé muito bem de um extremo do Sr. Roubado até ao armazém do Peninha.


Peninha estava contente pelas compras que fizera e caminhava assobiando o hino da "Internacional" pois para além de ser bonito, o Peninha andava enviezado para os lados do partido comunista!


Sabastião seguia-o escondido no arvoredo sem se dar a ver.


Lá chegado, o Peninha gritou: " o lobo que vá para o inferno" e as portas abriram-se de par em par deixando ver o vasto e rico recheio.


Sabastião regressou à banca do mercado e pôs-se a pensar que nessa noite, de lua cheia, aparelharia o burro à carroça e ia "limpar" o armazém do Peninha.


Assim fez e lá chegando pôs-se a gritar " abre-te sésamo".."abre-te sésamo" e as portas nada.


Voltou furioso ao Sr. Roubado e cogitou ir de novo às escondidas quando topasse que o Peninha lá voltava.


Tudo isto ficou sem efeito porque o concelho ficou com um cordão sanitário um mês e toda a gente confinada em suas casas.


Sabastião desesperado à janela gritava para o ar " o lobo que vá para o inferno" e Peninha que passeava o cão no passeio por debaixo da janela do seu arquinimigo, sorria para si, sabendo que jamais alguém se lembraria desta palavra passe para entrar nos seus "domínios".


E assim se prova que a história do Ali Bábá teve sucessores, ainda que mais bem sucedidos, pois não foram roubados.

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