Tantas vezes te tenho dito que a vida é um sopro e tu no fundo não
acreditas! Não acreditas até ao momento em que vês que tudo é tão frágil, que se pode
quebrar de um momento para o outro!
Agarras-me a mão e perguntas-me: o que fazer?
Tantas vezes te tenho dito que o remédio é amar os outros perdidamente, os
próximos e os desconhecidos que ou se cruzam na tua vida ou tu buscas com desassossego.
Mas nem sempre os vejo, dizes-me arrependido do tempo perdido. Como saber a
quem amar?
É fácil: aos que mais sofrem, aos abandonados à sua sorte, aos que te fazem
esquecer de ti próprio e com isso mais te dedicares a eles e às suas dores e
misérias.
E agora? Como posso fazer para ganhar tempo de vida? Posso ainda trocá-la
por dias de amor aos outros?
Acho que podes, sobretudo, usar com alegria o tempo que te resta se
estiveres permanentemente a pensar menos em ti do que em quem te encontre
disponível, atento, sereno e tão agradecido pela tua entrega.
Mas como poderei ter forças, se for morrendo aos poucos?
Nem darás por isso, será suave o teu jugo e leve a tua morte como diz o
salmo. Pensa na ideia de seres transportado no teu dia por uma corte de anjos
que entoarão cantos de alegria por te levarem para o Céu.
E com os meus a quem tanto amo? Vou sentir a falta!
Esta será a prova da tua afeição para com eles, ao amares os mais
necessitados e ao partires, serão mais eles que sentirão a tua falta. Deixarás
um rasto luminoso de uma memória de exemplo, e essa será a tua
glória.
Extractos do diálogo entre Tutor e pupilo in “Reviver
os Clássicos” de Vicente Mais ou Menos de Souza
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