domingo, 28 de dezembro de 2014
Velho homem, Homem novo
Há um mistério que intriga a maioria dos seres racionais deste planeta: a falta de controlo sobre a nossa morte. Intelectuais e poetas sempre manifestaram sua admiração por este tema. Enxurradas histéricas de novas invenções tecnológicas são as nossas cúmplices no sentimento cego de poder e controle sobre todas as coisas.
Juntas e tacanhas convivem a era do controle, a era touch, a era glass e tantas outras histerias tecnológicas, que nos fazem sentirmo-nos capitães das fragatas nas ondas da internet e das nossas vidas.
O facto é que muita gente já morreu alguma vez e nunca desconfiou disso. Inclusivé tu, não obstante eu.
Porque morremos quando nos levantamos da cama e começamos por olhar para o telemóvel. Morre-se de monotonia, de inércia, de marasmo, de falta de sonhos e de sonhos não realizados. Morremos de medo de pôr o dedo em riste na cara do próprio medo e de ter a coragem e seguir o caminho.
Morremos de medo de trocar hábitos, de mudar de ideias, convicções, de ver as coisas por outra perspectiva e damos um repeat automático nos comportamentos viciados e ranzinzas.
Morremos de medo de olhar para o espelho da consciência e encarar os olhos nada atractivos das verdades da nossa alma, pois os reflexos geralmente são indigestos e desagradáveis.
Morremos de medo de colocar em pratos limpos as mazelas de uma relação corroída, mas sustentada, apesar do visível desgaste, devido à insistência do amor que já não é mais o mesmo, mas que poderia voltar a ser ainda melhor se fôssemos viscerais e honestos com nós próprios e com o outro.
Morremos na reincidência infinita de conhecidos ranços e defeitos, dos outros, e dos nossos.
Morremos quando não somos coerentes com o que sentimos.
Na verdade, vivemos cercados de mortes commoditizadas, sem cara nem desejos. E não sabemos como sair de tão grande e paraplégica falta de competência de atitudes.
Morremos de frio na alma e de falta de verdade. De amor encoberto e não depurado pela falta de coragem e por excesso de orgulho. De afecto endurecido e estancado. De gentileza não manifestada numa conversa que deveria ser doce.
Morremos de egoísmo e de falta de sensibilidade.
Morremos de silêncios e de fugas. Não dizemos o que não nos agrada por medo de julgamentos.
Morremos de preconceitos, de inveja, de ódios e maus fígados. E juramos que esses sentimentos, totalmente anti-civilizados e sem elegância, se manifestam e pertencem apenas aos outros.
Também se morre de arrogância, de presunção, de soberba.
Morre também quem permite que a paixão morra no sexo e que faz amor fingindo prazer, como quem come um mil folhas com o nariz completamente entupido.
Muita gente também morre de mediocridade. Pessoas que não são capazes de reconhecer o valor e os grandes feitos dos outros. Sem saber que esta atitude só demonstra a sua fraqueza de alma e que a mediocridade anda de mãos dadas com a inveja.
Muita gente morre de orgulho e nunca pensa na possibilidade de ceder. Gente que nunca conheceu a grandiosidade do acto de perdoar, do conforto de um abraço de perdão e do discurso sem máscaras.
Urgente! É preciso ter coragem e força de personalidade para olhar para dentro de si próprio e, identificar essas pequenas mortes diárias. Fazer delas o combustível para catarses existenciais que melhorem cada um como ser humano.
Que nos possibilite ver e ter uma vida com mais honestidade, ética, sensibilidade, poesia, densidade e amor.
Ter a coragem de trocar as nossas pequenas mortes de cada dia por sobressaltos cheios de cores, beijos húmidos e risadas altas, prontas para ocupar os palcos de uma vida mais verdadeira e se refastelarem soltas ao sabor do vento sem nenhuma amarra ou máscara.
Vida longa e muito amor a todos os que se dispuserem ao desafio.
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