Não sei como falar-lhes
do Natal quando para todos vocês é mais um dia na prisão em Monsanto sem as
vossas famílias nem gozando da liberdade. Seria hipócrita desejar-lhes um Bom
Natal no sentido estrito de uma festividade.
Mas sim, desejo-vos nesta
quadra em que toda a gente parece ter-se aparentemente esquecido da maldade e
mergulha no consumismo, e apregoa aos sete ventos votos de felicidade, repito, desejo-vos
do coração um pouco mais de paz interior e também, se possível com o mundo que aqui
vos rodeia.
Tinha proposto vir-vos
visitar à cadeia na véspera de Natal e encher-vos de presentes, consolo,
abraços e sorrisos, mas dizem-me que não posso. Mas queria que soubessem que
pensarei em todos vocês, especialmente, na véspera e no próprio dia e que vos
prometo que continuarei a fazer tudo ao meu alcance para vos tornar a vida mais
suportável.
Tenho conversado com
muita gente sobre esta minha experiência convosco e estou cada vez mais convencido
que só ganhamos em serenidade, em realização de vida e felicidade se
conseguirmos esquecer-nos de nós próprios e nos entregarmos ao bem dos outros,
sem sentimentalismos nem pretensões, mas com verdade e exprimindo o que vai
realmente no coração.
Vocês também são
responsáveis pelo meu bem, por isso lhes peço que me ajudem a encontrar em
vocês um estímulo para poder acreditar que estamos em conjunto num desafio de recomeçarmos
uma nova etapa das vossas vidas. Cada um com as suas luzes e sombras, com o seu
passado, mas sobretudo com o desejo firme de voltar a acreditar que têm um
futuro à vossa frente e que o êxito para que seja o melhor, passa e depende
muito de cada um.
Já nos compreendemos bem
nestes meses de convívio e ensino do português e sabem que não sou de vos
pregar lições de moral. Respeito-os e aceito-os como me foram colocados na
minha vida e tento com simplicidade e amizade transmitir-lhes que há outras
hipóteses e opções para o vosso percurso. Sei que estão atentos e que me vão
escutando e sobre tudo vamos conversando com liberdade de opinião.
O vosso sofrimento e
restrições a uma vida normal no exterior, com as vossas famílias e amigos, são
um bom meio para a reflexão e para a mudança.
Irão sair com mais
sabedoria, com mais capacidade de ponderar cada uma das vossas futuras
atitudes, para o bem e para o mal. Assim, saibamos todos, estender-vos as mãos
e proporcionar-lhes a ajuda e um pequeno empurrão para vos lançardes ao
caminho.
Com este meu abraço a
cada um, mesmo que seja na frente dos guardas, que fiquem na certeza que podem
contar comigo, como eu tenho a certeza de que não me deixarão mal.
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