Era uma vez um ratinho que vivia numa prisão cheia de presos que não gostavam de animais, especialmente de roedores.
Mas ele, que era bonitão e simpático, tinha conseguido captar a amizade de um preso jovem que com ele repartia a sua pouca comida.
O Jorge era loiro, de olhos grandes azuis, com uma cara redonda e sem nunca sorrir. Estava sempre calado e passava o dia todo enfiado na sua cela, e só quando o ratinho aparecia lá mostrava um sorriso.
Eram bons conversadores e o ratinho estava a cavar um túnel para poder sair para o campo que já estava quase no fim e perto da saída. A ideia era ele sair durante o dia e à noite voltar para o quentinho da cela e poder comer do jantar do Jorge.
Um dia o ratinho anunciou a Jorge que tinha chegado ao fim e que até tinha mesmo dado um pequeno passeio no campo à volta da prisão.
Jorge era órfão, tinha ficado entregue a um padrasto muito mau que lhe batia e o fazia trabalhar duramente no campo. Dava-lhe pouca comida e de má qualidade e num canto da casa toda suja e escura, dera-lhe uma enxovia de palha com um cobertor esfarrapado para se tapar. No inverno tremia de frio e sentia-se muito triste e abandonado.
Começou a matutar em como poderia escapar à sua sorte malvada e decidiu que fugiria. Assim fez, levantou-se de noite enquanto o padrasto dormia, pegou nos seus trapos, abriu a porta de mansinho e saiu.
Andou, andou sem ter rumo até que chegou a uma estrada aonde passavam automóveis de vez em quando. Pôs-se à espera que passasse algum e quando viu uns faróis que se aproximavam, pediu boleia saindo para a berma da estrada.
Era o padrasto que ao vê-lo parou, deu-lhe uma carga de pancada e levou-o direito ao Reformatório-prisão. Já lá estava há mais de um ano.
Não se dava com os outros miúdos pois eram maus e faziam troça dele por ser muito loiro e indefeso. Assim que, era com o ratinho com quem Jorge mais conversava.
Nos dias seguintes à conclusão do túnel para fóra da prisão, o ratinho parecia outro: entrava a cantarolar, vinha de barriga cheia e contava a Jorge tudo quanto vira – casas, campos verdejantes, flores lindas, céu azul, sol e calor e muitos miúdos a jogar à bola e a brincarem, muito felizes.
Jorge ficou muito triste e quando se estendeu na cama dura da cela, com as mãos atràs da cabeça, começou a sonhar e o sonho levou-o dali para fora.
Foi ter com o Avô de que ele se recordava tão bem, pois brincava com ele, dava-lhe beijinhos e festas, levava-o a passear na carroça com o burro, iam ver as abelhas e contava-lhe muitas histórias. Passavam pelo poço aonde em árvores próximas pendiam, de macieiras, uns pêros de bravo esmolfe, que lavados na água fresquinha, eram um regalo para o paladar.
Depois foi visitar a Mãe a um hospital local aonde ela morria a cada dia com uma doença que a mantinha na cama sem forças para tomar conta dele. Lembra-se das mãos macilentas e compridas, fininhas que o acariciavam quando ele se aproximava da sua cama.
O Pai tinha morrido numa desavença entre vizinhos com uma cajadada na cabeça. Ficara, pois, o padrasto que não tinha paciência para Jorge e com a Mãe doente, não se ocupava dele nem o deixava ir à escola, obrigando-o a trabalhar na courela, a cavar batatas.
A porta da cela abriu-se e o guarda de maus-modos gritou: - o comer para ti! e olha que já está frio!
Entretanto, com o barulho, acordara do sonho e quando o ratinho chegou das suas passeatas perguntou-lhe o que vira.
Mas, nesse momento, apareceu uma fada sua madrinha, que pegando-lhe na mão levou-o através da parede grossa da cela para o exterior e daí para uma carruagem que desapareceu no ar levando os dois para um destino desconhecido, mas o ratinho, estava convencido que muito melhor do que na prisão.
E o ratinho ficou muito triste, porque perdeu um amigo mas por outro lado achou que a mudança da prisão para a liberdade era o melhor que poderia ter acontecido ao Jorge.
E era mesmo…
MNA
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