Milhares e milhares de jovens que não lêem um livro, passam o mês em festivais no meio do lixo, do pó, da cerveja e dos charros.
Milhares e milhares de adultos vão meter o corpo na água e na areia, sem verdadeira alegria nem descanso.
Outros muitos milhares de jovens e adultos nem isto podem fazer porque não tem dinheiro.
No interior, já que não há correios, nem centros médicos, nem tribunais, proliferam as capitais, da chanfana, do caracol, do marisco, do bacalhau, dos enchidos, da açorda, as “feiras medievais” de chave na mão, as feiras de tudo e mais alguma coisa desde que não sejam muito sofisticadas. Não é uma Feira da Ciência, nem Silicon Valley.
As televisões, RTP, SIC e TVI
“descentralizam-se” e fazem arraiais com umas estrelas pimba aos saltos
no palco, mais umas “bailarinas”, nem sequer para um grande público.
Incêndios este ano há pouco, pelo que não há imagens fortes, ficamos
pelo balde de água.
Crimes violentos “aterrorizam” umas aldeias de nomes
entre o ridículo e o
muito antigo, que os jornalistas que apresentam telejornais com tudo
isto gostam de repetir mil vezes.
Felizmente que já começa outra vez a
haver futebol, cada vez mais cedo.
O governo, com excepção das finanças e
dos cortes contra os do costume, não governa, mas isso é o habitual.
A fina película do nosso progresso, cada
vez mais fina com a crise das classes ascendentes, revela à
transparência todo o nosso ancestral atraso, ignorância, brutalidade,
boçalidade, mistura de manha e inveja social. No tempo de Salazar
falava-se do embrutecimento dos três f: futebol, Fátima e fado. Se
houvesse Internet acrescentar-se-ia o Facebook como o quarto f. Agora
não se pode falar disso porque parece elitismo. Áreas decisivas do nosso
quotidiano hoje não são sujeitas à crítica, porque se convencionou que
em democracia não se critica o “povo”.
Agosto é um grande revelador e um balde
de água fria em cima da cabeça para aparecer na televisão ou no You
Tube.
Participar num rebanho, mesmo que por uma boa causa, podia pelo
menos despertar alguma coisa.
Nem isso, passará a moda e esquecer-se-á a
doença. Pode ser que para o ano a moda seja meter a cabeça numa fossa
séptica, a favor da cura do Ebola.
Assim não vamos a lado nenhum. Como muito bem sabem os que não querem que vamos a qualquer lado.
Abrupto – José Pacheco Pereira
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