Meu Caro Manuel,
Li com atenção as
tuas perguntas, sobre as quais me pedes comentários, a saber, segundo a tua
última e breve carta que me escreveste:
- Papa Francisco (impossível
não falar dele)
- Rei de Espanha (interessante
observar com elevação e distância a debilidade humana)
- Futuro de
Portugal (o teu e o meu País).
O Papa Francisco
tem sido discreto e talvez não tão mediático e espectacular como os seus
antecessores. Está, como Homem inteligente que é, a tomar conhecimento da realidade
do Vaticano e dos dossiês escaldantes que lhe foram transmitidos pelo seu
antecessor. Esta é uma primeira qualidade que revela bom senso, prudência e
desejo de acertar, não antecipando juízos de valor ou punições, pois o que lhe
interessa é o BEM da Igreja.
Depois, pelo seu
feitio bem-disposto e extrovertido, imprime alegria e bonomia a uma Igreja
habituada a demasiada pompa e formalismo. Segunda qualidade muito relevante
para a missionação, conversão e aproximação de quem anda arredio ou
desencorajado ou revoltado, mas também consegue refrescar a mensagem do
Evangelho numa perspectiva de a tornar atractiva para novos fiéis.
Finalmente, aqui
é firme e não deixa dúvidas sobre o caminho que quer pregar, sem cedências e
pressões, na defesa dos pobres, dos injustiçados, dos mais fracos, dando uma
imagem de uma Igreja acolhedora e de perdão para quem dela, de boa-fé e de
coração recto, se queira aproximar. Terceira qualidade e a mais importante: a
da Caridade tal como foi por Cristo instituída, sem ceder nos princípios mas
com grande AMOR e tolerância.
Sinto que tens nele
grandes expectativas e segues com atenção, emoção e desejo de reencontro, o
percurso do seu Pontificado.
Se com estes
primeiros tempos do Papa Francisco tens encontrado a paz e doçura interior,
fortalecido a tua fé bem como te entusiasmas pelo exemplo extraordinário de
simplicidade, bondade e despojamento é porque, como para muitos outros, Deus
sabe como traçar o caminho de cada um.
Umas pancadinhas
aqui e ali e pões-te na estrada de novo a caminhar. Nada melhor do que
aproveitar as crises para as transformares em oportunidades. Este é para ti o
ensejo de encarares a vida nos aspectos que mais interessam: a reconciliação
interior, propiciadora de paz e de partilha da tua felicidade com os outros.
Torna-te um arauto do Papa Francisco, como nos tempos dos primeiros cristãos: defende-o
bravamente, pois vai precisar de quem por ele trave batalhas duras e corajosas
contra os “velhos do Restelo”!
O Rei de Espanha
é, para começar, um ser humano, com defeitos e qualidades.
Emana especial
simpatia, facilidade de contacto com o povo espanhol que o respeita e admira,
apesar dos maus passos que deu e que continua a dar (talvez agora não mais,
pois a idade e as consequências nocivas, ter-lhe-ão dado mais sensatez ou o
tenham obrigado a tê-la).
Não vou julgar os
actos negativos, as práticas criticáveis, até a infelicidade que possa ter
causado à sua Família e nomeadamente à Rainha Sofia.
Vou olhar sobretudo para dois aspectos que ressaltam da sua personalidade e características: um exacerbado amor a Espanha e o desejo de a servir como Monarca, sem limites e com entrega. Teve gestos e atitudes patrióticas, talvez na essência não exactamente como foram descritos, mas sem deixar margem para dúvidas do cumprimento do seu dever como Rei, de lutar e arriscar até o trono por valores mais altos. Por isso é o exemplo do Rei que exerce o seu múnus, activamente, com coragem e de uma forma visível e apreensível pelo povo espanhol. É um Rei a tempo inteiro, não se esconde no exercício político dos seus deveres constitucionais.
O segundo aspecto,
que é aliás o apanágio de Reis verdadeiros e genuínos: é um Senhor, com uma
desvelada educação, porte, atitudes, classe e categoria que honram qualquer
povo, que tenha tal rei como Monarca.
Por tudo isto,
concluo que o balanço é muito mais positivo do que negativo, sem no entanto tentar
desculpar os tremendos erros e atitudes que contrariam, infelizmente, a prática
exemplar das suas funções reais. Deveriam ser complementares, mas outro Juiz, o
saberá um dia julgar e pedir-lhe contas!
Quanto a
Portugal, hoje resumo-te em duas penadas o que acho mais importante que
existisse nesse nosso tão amado País: honradez e senhoria.
Gente límpida,
sem ser corrupta, talvez menos ricos mas com uma distribuição de riqueza mais
equitativa, logo com um bem-estar conducente a uma mais generalizada felicidade.
Depois, um
renascer dos valores tão apreciados por quem nos visita: a alegria, a lhaneza
no trato, as boas tradições, uma qualidade de vida equilibrada para todos, fruto
de políticas de genuíno interesse pelo bem dos governados.
Um país
territorialmente pequeno, mas grande em prosperidade, acesso ao trabalho, mas
sobretudo, com o clima único que temos, proporcionando a quem nele habite o
desejo de permanecer.
Os governantes,
sejam eles quem forem e a forma que politicamente revestirem no exercício do
seu poder, que o sejam com a grandeza que acima reconheço no Rei de Espanha,
como um exemplo entre outros responsáveis dignos que têm a condução de outros
povos.
Falta-nos sinais
visíveis de patriotismo ao nível dos altos responsáveis, de educação cívica e
de boas maneiras no comportamento e relações com os cidadãos: existe um total
desinteresse e só olham aos seus interesses partidários e pessoais, com
honrosas e escassas excepções.
Precisávamos de
muitas Famílias portuguesas com uma estabilidade material mínima, a dar à
Pátria os seus melhores Filhos na condução dos destinos de Portugal.
É o que te quero
dizer, mas tu que estás aí, saberás um pouco melhor do que eu da actualidade e
justeza destes meus comentários.
Um afectuoso
abraço muito amigo do teu primo
Luís Bernardo
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