Meu Caro Luís Bernardo,
Hoje está um dia lindo e
apesar dos problemas que nos afligem e de que não sabemos como nos iremos
safar, apeteceu-me falar-te do tema do casamento.
Quando nos preparamos
para a ideia de casar, para além de um vínculo jurídico seja ele canónico ou
civil que se venha a contrair e mais recentemente com as uniões de facto que são as antigas palavras de
futuro trocadas no auge de um arrebatamento, traduzido depois numa convivência continuada
sem algum “papel”, há uma “affectio” (afeição) inicial que justifica a selecção
do parceiro ou parceira.
Trata-se das primícias das mais puras
emoções , daquelas que inspiraram poetas, escritores, pintores,
escultores, trata-se de algo muito etéreo, sonhador, leve e ao mesmo tempo
intenso, porque é a antecâmara da paixão, que por definição é febril, violenta,
desregulada, cega e consoladora.
E quando ao pensar no ser
amado/a o coração é invadido por uma doce sensação de bem-estar, de melancolia,
de sonho de uma vida a dois em que tudo parece sorrir, fundam-se consistentes
esperanças de se ser eternamente feliz.
Estas são considerações
românticas, mas no fundo de cada um de nós nesses momentos estes são ou foram os
pensamentos que ocorreram, consoante a sensibilidade e poder descritivo de cada
um.
Ninguém pensa que bom que
vai ser repartir boas sessões de iPad com a Sandrinha, ou ver “Kung-fus” com o
Hélder, enterrados num sofá em casa durante horas….ou antecipar grandes “empazinadelas” na tasca da esquina com “jolas”….isto tudo vem depois, quando,
parece-me, se instala a rotina, o perder da novidade, um futuro que de alguma etérea
ilusão, faz cair os casais, na realidade pura e dura da vida difícil para o amor
no dia-a-dia.
Na constância
do matrimónio (como se diz em direito canónico - fui Juiz do tribunal da Rota de
Lisboa durante alguns anos – anulações de casamentos católicos), importa mais
vigiar em como se protege o amor.
Muitas vezes deixamo-nos
invadir pelo egoísmo, pela embirração e pouca paciência para os defeitos do
outro, e tantas outras coisas que sabemos destroem a relação, moem por dentro,
fazem ranger os dentes, entrombam de modo a que cada um se vire na cama para o outro lado e adormeça em
silêncio sem dar as boas-noites – e talvez, se de tempos a tempos, viessem à memória, estimulada por
pequenos truques, os sentimentos e emoções de bem-estar e de esperança que
presidiram à decisão de “juntar os trapinhos” seja ou fosse até de que maneira o tenha sido,
como tudo poderia, quiçá, ser melhor!
Inspirei-me hoje, na candura
desta tela que reproduzo acima, quase que adivinhando que na tranquilidade e
gesto da noiva ao pegar na pena leve para assinar o seu compromisso, estaria igualmente
dentro de si um desejo de “assegurar” num contrato, uns anos de felicidade.
Fantasias de uma tarde gloriosa de sol e de luz!
Um abraço amigo do teu
primo muito afeiçoado
Manuel
Sem comentários:
Enviar um comentário