Rose lembrou
Brien que nessa manhã de segunda-feira pelas 11h, um membro influente da
comissão política do partido no poder, solicitara uma reunião urgente.
Perguntou-lhe se
estaria livre para almoçar ao que Brien acedeu gostosamente. Iriam, como de
costume a um pequeno restaurante perto do banco, aonde se comia muito bem. Rose
marcava sempre uma mesa ao fundo encostada à parede, e durante a refeição
agarrava-lhe discretamente nas mãos que entrelaçava e fazia festas, e
por debaixo da mesa roçava as suas pernas, lenta e sensualmente nas de Brien.
Este temia sempre que alguém os visse, mas não resistia.
Depois chegava ao
gabinete em brasa e quando ela lhe propunha uma ida a sua casa nessa noite,
todas as vezes perguntava-se porque não aceitava, mas pairava a sombra de Susan
o que o fazia gentilmente recusar. Um dia seria, prometia a Rose e vi-a sair
desgostosa, mas afirmando que não desistia.
Michael foi
encaminhado até à sala de reuniões e quando Brien entrou, apresentaram-se e
apertaram as mãos.
Foi direito ao
assunto: sabia que o banco tinha algumas operações financeiras de clientes
influentes, altamente discutíveis em termos financeiros e aproximando-se
eleições, o partido precisava de dinheiro para a campanha. Recebera instruções
do Ministro-Adjunto para contactar o Management do Banco e em troca de ignorar
tais situações, obter fundos substanciais que lhe permitissem financiar mais
uma vitória eleitoral.
Mencionou uma
quantia avultada como primeira tranche que deveria ser entregue no partido
dentro de pastas, contendo notas de valor grande para evitar um elevado número de malas.
Evidentemente, acrescentara, queria uma comissão para ele, cujo conhecimento
ficaria só entre os dois, e no fim da operação, haveria uma percentagem para
Brien, se corresse tudo nos conformes.
Era pegar ou
largar, pois as Autoridades Monetárias e Financeiras já estavam avisadas e
desistiriam da auditoria, quando a proposta fosse aceite e o primeiro pagamento recebido.
Michael era um sujeito
de mediana estatura, com um olhar vivo, de discurso convincente e persuasivo e
modulava a voz consoante o tema, por isso fora seca e pragmática no início
da conversa e tornara-se quase em surdina quando se referiu às comissões
pessoais para ambos.
Brien escutara em
silêncio todo o discurso de Michael e no fim quando ficou claro que este
esperava os seus comentários, levantou-se e disse numa voz neutra de banqueiro:
- Passarei a
informação ao Management que lhe fará chegar a resposta, o mais breve possível.
E dirigindo-se à
porta, chamou Rose pedindo-lhe que acompanhasse Michael à saída. Não lhe
estendeu a mão, mas colocou-se numa posição entre portas em que quando Michael
saiu da sala de reuniões e se voltou para trás para se despedir, tinha-se
dirigido à mesa para buscar os papéis, não dando assim azo a que a sua atitude
pudesse ser interpretada como de menos cortesia.
Rose, comentou
depois que Michael saiu com um ar irritado, manifestamente surpreendido com
qualquer coisa que se teria passado. Brien, fez-lhe um ligeiro comentário,
dizendo que a reunião tinha corrido como expectada. E não acrescentou mais
nada.
Decidira, antes
de passar a informação ao Board, pedir a Susan nessa noite que no escritório
dela e através dos contactos que Howard tinha como QC, se inteirasse do perfil
de Michael.
Ficara, obviamente
incomodado pelo atrevimento e chantagem de Michael, mas sobretudo pela ousadia
de o querer “comprar” sem nunca se terem conhecido e não saber, sequer, que interlocutor
tinha pela frente quando o tentou corromper.
Brien sabia da
corrupção do poder e das diferentes formas que correntemente usavam, mas nunca
imaginara que pudesse haver uma aproximação tão arrogante, insultuosa e
destemida.
Passou o resto do
dia a ruminar como daria seguimento ao assunto e Rose reparou que estava “absent
mind” e voltou a insistir porque não tomarem um copo em sua casa ao fim da
tarde.
Brien, achou uma
boa ideia pois precisava de descomprimir e jurou a si próprio que seria uma “visita
de médico” rápida: podiam ver algum filme, conversar sobre a promoção de Rose
nos quadros do banco, talvez até trocarem uns beijos, umas carícias no sofá, mas mais
nada do que isso.
No entanto, algo
lhe dizia que tendo ficado perturbado pela reunião da manhã, as suas “guardas”
estavam fragilizadas e as pernas de Rose ao almoço, as suas mãos macias e bem cuidadas
talvez lhe pudessem suavizar o fim de tarde e compensá-lo do estado em que
estava.
Telefonou a Susan
perguntando como estava o dia dela em termos de horário, acrescentando que mais
logo conversariam sobre um pedido que queria que ela fizesse a Howard, e quando
do outro lado ela lhe disse que só deveria chegar pelas dez da noite pois
tinha um dossier urgente a fechar, abriu-se um sorriso de distensão na sua cara
e a voz saiu natural quando lhe mandou um beijo.
Convocou Rose ao
seu gabinete e combinaram às sete em casa dela. Ele iria de táxi para não
suscitar desconfianças, não fosse alguém poder vê-lo sair do seu descapotável
pouco discreto.
(continua)