O PENINHA E A SORAYA
A Soraya tinha herdado defeitos do seu lado português – os Mendes Saraiva. Era uma chata para o pobre do Peninha que sobretudo queria sossego para os seus programas.
O Peninha andava a mando dela a tentar fazer uma dieta mas não conseguia. A atracção das saídas à noite para as casas de fado, os petiscos, as empanturradelas nos fim-de-semana com os colegas da tropa, tudo isto o desanimava e a Soraya não lhe perdoava.
- Porque fui ao teu armário de roupa às escondidas e por debaixo das camisolas tens toneladas de nougats, tablettes de chocolate de todos os tipos – com amêndoas, com nozes, de leite e chocolate preto, para disfarçar e até uns sem açúcar que se compram em Odivelas na loja do Martins. Bolachas cobertas de chocolate e outras de manteiga e o rór de queixas continuava.
Peninha dizia-lhe: - amor anda para a cama comigo e tudo esqueceremos. E assim era, passavam horas aos rebolões e sabe-se lá porque razão de vez em quando ouvia-se o grito de “ Allahu Akbar (Alá é o Maior) coisa que irritava Peninha, pois podia ser ouvido pelos vizinhos e não fosse ainda trazer a PJ ou a Judite como era mais conhecida lá a casa a fazer investigações.
Quando tudo terminava, Peninha deixava Soraya exausta e tomava um banho e vestia-se a rigor para a noite e despedia-se dela carinhosamente com um beijo.
Ela citava a frase do fado: “Não venhas tarde” e Peninha saía a trautear este fado enquanto tomava a direcção da Alfama aonde no “Beco do Amor”, uma tasca aonde se jogava matraquilhos, à sueca, à bisca lambida e ao dominó, se bebia, se cantava o fado e se engatava.
Peninha tinha lá uma fadista por conta, a Badela (Benedita Isabel) mulher vulgar e ordineirota, com um corpo usado mas que cantava o fado como ninguém. E quando Peninha a ouvia cantar os versos do fado do Chicote, passava-se e olhava para ela como se se tratasse de uma deusa.
Se queres chicote meu amor
Vem até mim logo à noite
E devagar me vou despindo
Deixando o meu corpo ao teu dispor
O chicote que te dou
É forte e intenso no teu coração
Pensa em mim nesse momento
Dá-me toda a atenção
Se queres chicote meu amor
Também te deixo ensaiar
Naquele ponto que desejas
E que não te deixo tocar
E por aí adiante e o Peninha ia bebendo e quando as fadistas descansavam, o Peninha vinha até cá fora fumar um cigarro e dizia-lhe: - quando conheceres o meu chicote não queres outra coisa! E ela matreira a rir com um ar provocador respondia-lhe que era proibido bater nas mulheres.
Chegava tarde a casa e Soraya, sentindo-o bêbado, puxava por ele e faziam de novo amor até à alvorada.
E nisto se iam passando os dias de Peninha sempre à procura de uma oportunidade de ir à Síria conhecer a terra da esposa, a qual estava muito contentinha com o seu Peninha e queria tudo menos perdê-lo.
Até já tinha confiado à Badela este plano, mas ela que não sabia de geografia, não ouvia nem via as notícias, não fazia a menor ideia aonde seria a Síria.
Ela, para fora de Lisboa, só tinha ido à Bobadela.
(continua)
A Soraya tinha herdado defeitos do seu lado português – os Mendes Saraiva. Era uma chata para o pobre do Peninha que sobretudo queria sossego para os seus programas.
O Peninha andava a mando dela a tentar fazer uma dieta mas não conseguia. A atracção das saídas à noite para as casas de fado, os petiscos, as empanturradelas nos fim-de-semana com os colegas da tropa, tudo isto o desanimava e a Soraya não lhe perdoava.
- Porque fui ao teu armário de roupa às escondidas e por debaixo das camisolas tens toneladas de nougats, tablettes de chocolate de todos os tipos – com amêndoas, com nozes, de leite e chocolate preto, para disfarçar e até uns sem açúcar que se compram em Odivelas na loja do Martins. Bolachas cobertas de chocolate e outras de manteiga e o rór de queixas continuava.
Peninha dizia-lhe: - amor anda para a cama comigo e tudo esqueceremos. E assim era, passavam horas aos rebolões e sabe-se lá porque razão de vez em quando ouvia-se o grito de “ Allahu Akbar (Alá é o Maior) coisa que irritava Peninha, pois podia ser ouvido pelos vizinhos e não fosse ainda trazer a PJ ou a Judite como era mais conhecida lá a casa a fazer investigações.
Quando tudo terminava, Peninha deixava Soraya exausta e tomava um banho e vestia-se a rigor para a noite e despedia-se dela carinhosamente com um beijo.
Ela citava a frase do fado: “Não venhas tarde” e Peninha saía a trautear este fado enquanto tomava a direcção da Alfama aonde no “Beco do Amor”, uma tasca aonde se jogava matraquilhos, à sueca, à bisca lambida e ao dominó, se bebia, se cantava o fado e se engatava.
Peninha tinha lá uma fadista por conta, a Badela (Benedita Isabel) mulher vulgar e ordineirota, com um corpo usado mas que cantava o fado como ninguém. E quando Peninha a ouvia cantar os versos do fado do Chicote, passava-se e olhava para ela como se se tratasse de uma deusa.
Se queres chicote meu amor
Vem até mim logo à noite
E devagar me vou despindo
Deixando o meu corpo ao teu dispor
O chicote que te dou
É forte e intenso no teu coração
Pensa em mim nesse momento
Dá-me toda a atenção
Se queres chicote meu amor
Também te deixo ensaiar
Naquele ponto que desejas
E que não te deixo tocar
E por aí adiante e o Peninha ia bebendo e quando as fadistas descansavam, o Peninha vinha até cá fora fumar um cigarro e dizia-lhe: - quando conheceres o meu chicote não queres outra coisa! E ela matreira a rir com um ar provocador respondia-lhe que era proibido bater nas mulheres.
Chegava tarde a casa e Soraya, sentindo-o bêbado, puxava por ele e faziam de novo amor até à alvorada.
E nisto se iam passando os dias de Peninha sempre à procura de uma oportunidade de ir à Síria conhecer a terra da esposa, a qual estava muito contentinha com o seu Peninha e queria tudo menos perdê-lo.
Até já tinha confiado à Badela este plano, mas ela que não sabia de geografia, não ouvia nem via as notícias, não fazia a menor ideia aonde seria a Síria.
Ela, para fora de Lisboa, só tinha ido à Bobadela.
(continua)
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