O PENINHA FOI A UMA VIDENTE QUE LHE VATICINOU O CARGO DE MENISTRO
O Peninha já andava há muito a querer saber da sua vida e alguém lá no trabalho indicou-lhe a dª Celeste, que tem consultório aberto em Sta. Iria da Azóia.
Apanhou o autocarro e pela manhã, chegou ao destino. As consultas começavam cedo e ele queria ser o primeiro.
Tratava-se de um prédio destes mais modernos de 5 andares, num bairro social, e sem elevador. O consultório estava ao nível do rés-do-chão com uma ampla janela dando para a rua, com uma cortina azul marinho por dentro com muitas estrelas douradas pequeninas.
Tinha uma tabuleta pequenina na campainha cá fora – Celeste vidente.
Peninha tocou e a porta abriu-se dando para uma entrada atarracada que cheirava a comida e virando-se para a direita encarava-se uma nova tabuleta em metal dourado cravado na porta do rés-do-chão direito que dizia : CELESTE MANGUINHAS – VIDENTE ENCARTADA -.
Uns minutos depois aparece na soleira a dª Celeste, de roupão azul de seda brilhante, com o cabelo ainda desalinhado mas com os olhos pintados e um bâton vivo e com um sorriso largo.
- Bom dia Sr. Peninha, como está? – disse com uma voz rouca.
- Eu bem obrigado e a senhora? Mas como sabe o meu nome? – disse Peninha espantado.
- Ora, ora então por isso é que sou vidente. – retorquiu a dª Celeste.
Entrou e dirigiram-se a uma sala apropriada à profissão da anfitriã. Toda pintada de preto, com um tecto azulado com estrelas cintilantes, uma mesa com duas cadeiras e ao fundo um sofá que ela lhe explicou servir para quando chama os mortos ou os vivos e as sessões são longas. Serve para se sentarem.
-Vamos então ouvi-lo Sr. Peninha – disse a vidente.
- Saiba a dª Celeste que ando infeliz com a Adélinha e com a vida. O Costa, sabe o Primeiro-Ministro, tem-me descontado mais no ordenado, tenho um rendimento miserável, a mulher queixa-se e chaga-me a vida, eu quero mudar de profissão e ver se arranjo mais dinheiro e uma nova mulher ou mesmo por uns tempos ficar sozinho sem compromissos. E é isto. O que vê a dª Celeste no meu futuro próximo?
A dª Celeste abriu o baralho de Tarot, deitou as cartas e pensou, pensou e disse:
- Olhe Sr. Peninha, vou-lhe fazer uma surpresa. Tem o dito Costa na sala ali atrás e está-me a dizer que o vai convidar para o lugar do Vieira da Silva e vai-lhe dar muito dinheiro para as mãos, o da Segurança Social. Diz ele que só precisa de um compromisso seu: é falar só quando ele disser para o fazer e dizer o que ele lhe indicar. De resto quanto a salário e benesses não se preocupe: carro de luxo, motorista, cartão de crédito gold do Montepio sem limite, horas extraordinárias pagas a 200% e umas secretárias muito atraentes dispostas a tudo.
Peninha levanta-se confundido e tenta avançar para o sofá que estava vazio à procura de uma mão para beijar, dizendo meio-curvado – oh meu benfeitor, oh meu benfeitor, ser político é tudo quanto mais desejo!
Dª Celeste acalmou-o e disse-lhe que ele tinha partido já para a Auto-Europa, que aquilo lá estava complicado, mas que ela estava a dar um jeito também.
Peninha afogueado e ainda não caindo em si, repetia em voz baixa: ser Menistro, ser político…
A vidente, com uma voz serena e um ar dramático disse-lhe:
- Tenho porém algumas más notícias para lhe dar.
A Adélinha com as suas ausências vai por-lhe os cornos com vários amantes e a sua casa passará durante o dia a ser anunciada na página dos anúncios porno do Correio da Manhã. Vejo-a inclusivamente em fotografias núa de colants curtos em poses provocantes.
Depois os cofres da Segurança Social estão secos, por isso não há cá negociatas possíveis.
Finalmente a imprensa descobrirá que é enganado pela Adélinha ( alguns dos seus colegas no Governo, mais do tipo Secretários de Estado, para além de a frequentarem, com inveja de si deixam cair pequenas denúncias para os jornais) e passará a ser conhecido como “Il Cornutto”. Bem sei que é em italiano e sempre disfarça um pouco, mas mesmo assim…
Eu posso ajudá-lo e contrariar esta sua sina, mas custa-lhe dinheiro, pois tenho que fazer uns preparados de asas de mocho e olhos de lagarto, e o mais difícil é obter pelos de urso da Ucrânea. Mas vou tendo umas reservas pois as minhas clientes ucras, vão-me abastecendo.
- São €500 e sucesso garantido.
Peninha, contrariado pagou e pediu recibo mas dª Celeste disse que não gostava do FISCO.
Peninha, furioso por ter gasto este dinheiro todo disse-lhe de maus modos: - olhe que se a sua sopa de lacraus não funcionar venho cá e parto-lhe isto tudo e faço-a em cacos.
Dª Celeste, calma e guardando a nota dos €500 numa bolsinha de cetim chinesa com dragões de ouro, disse-lhe com doçura: - vai ver que tudo volta ao normal.
Peninha saiu batendo com a porta, não sem antes ter de novo olhado para o sofá aonde estivera o Costa.
Já na rua, repetia para si mesmo: “Il Cornutto” nunca, nunca, jamais…não há carreira política que valha o vexame! E ainda por cima no Correio da Manhã.
Voltando a casa Adélinha viu-o com um ar estranho e perguntou-lhe azeda: - o que foi agora?
Peninha sentiu uma indignação subir por ele acima e disse: - passei a ser a favor da violência doméstica, põe-te a pau!
E saiu desabrido para ir beber um copo a uma taberna da esquina.
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