Estou aqui no meu escritório sozinho, a trabalhar.
Estamos no princípio da tarde do último dia do ano de 2013. Estou
a ouvir música, que vai desde os “Band of Horses”, “The XX”, “LCD Soundsystem”,
“The Cure”, “Radiohead”, “Kings of Convenience”, “Fascinação” de Ellis Regina,
Caetano Veloso, Tom Jobim, “Sevillanas de Oro”, Amalia, Pavarotti, duas das
minhas divas – a Callas e a Kiri Te Kanawa – e a Rádio Marginal e um bom
calorífero aceso.
Fiz um rápido périplo pelo ano que passou e a conclusão não
foi positiva. Não vale a pena enganar-nos: mais impostos, menos oportunidades,
país pior, mais gente burlona vivendo à nossa custa, para apagar da memória.
Também o que entra não me aparece risonho, mas estou farto
de cenários e comentadores e previsões.
Na caixa do supermercado o que conta é
o dinheiro na mão! É aí que tenho que apostar: trazer no final de cada mês o
suficiente para uma vida digna e tão equilibrada quanto possível.
Os negócios fóra de Portugal, o trabalho árduo e difícil
ainda a realizar é o sonho bom, no que vale a pena apostar e o que dá o
conforto para acreditar que enquanto tivermos capacidade para nos reinventar e
labutarmos, a vida tem sentido.
Sinto uma espécie de vazio – não sei se me consigo exprimir – a neura do inexistente que me invade e que decerto deve
estar bem presente em tantas e tantos que logo celebrarão enganosamente e com
atordoamento a chegada do novo ano.
Por isso, portuguesas e portugueses…ridícula forma com que
os nossos políticos nos brindam nos seus discursos, apanhem uma grande
bebedeira, esqueçam que existem problemas por uns momentos e atinjam o nirvana
mesmo à meia-noite, pois a ressaca será danada e não é só na manhã do dia
seguinte.
Join me in the clouds…há lá lugares ainda livres no hospício
para loucos. Encontrar-me-ão fazendo de Ícaro com asas de cêra, caindo de nuvem
em nuvem ou como Napoleão, comandando tropas.
Confesso que há na personagem de Bonaparte alguns pormenores
que me fazem ter a percepção de como homens geniais perdem essa característica
quando se sentem cheios do sucesso: no célebre quadro da coroação, por David, há
um balcão imperial em que aparece destacada “Madame Mére” ou seja Letícia Ramolino
Bonaparte, em trajes de gala e sabem que não esteve lá nem presenciou a
cerimónia?
Por onde andará o Dias Loureiro? Ou o Miguel Relvas? Li,
que no renovado Copacabana Palace no Rio, a US$ 600 por noite. Estive lá a
tomar no bar, um sumo de tomate recentemente, custou-me uns quaisquer
reais.
Bandidos!
Mau ano para eles todos e que ou devolvam o
dinheiro que roubaram e o que nos roubam ou acabem com os ossos na enxovia.
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